16 de Dezembro de 2009
Roberto Pérez Rivero é um biólogo cubano, pioneiro da permacultura na ilha e uma referência para os defensores da agricultura sustentável. Entrevista de Ricardo Coelho, em Copenhaga.
Uma delegação de Cuba tem estado presente no Fórum pelo Clima para dar alguns workshops sobre a sua experiência com a superação da dependência do petróleo e a promoção da agricultura biológica e das hortas urbanas. Falei com Roberto Pérez Rivero, permacultor, sobre a sua experiência, que tem inspirado tantos defensores da agricultura sustentável por todo o mundo. Apesar da minha posição crítica em relação ao regime político cubano, creio que este é um exemplo que devemos seguir e estudar atentamente.
Pode falar-me da experiência cubana com a superação da dependência do petróleo?
Depois do colapso da União Soviética, estando nós ainda a sofrer com o bloqueio dos EUA, tivemos de encontrar soluções para a nossa independência energética. Um dos nossos enfoques foi a mudança do nosso sistema de produção agrícola, seguindo os princípios da permacultura, um sistema de agricultura sustentável. Reduzindo a utilização de máquinas e de fertilizantes químicos (feitos com base em petróleo) reduzimos muito o nosso consumo energético. Também alteramos os nossos hábitos alimentares, de modo a comer menos carne e mais vegetais.
Depois do colapso da União Soviética, estando nós ainda a sofrer com o bloqueio dos EUA, tivemos de encontrar soluções para a nossa independência energética. Um dos nossos enfoques foi a mudança do nosso sistema de produção agrícola, seguindo os princípios da permacultura, um sistema de agricultura sustentável. Reduzindo a utilização de máquinas e de fertilizantes químicos (feitos com base em petróleo) reduzimos muito o nosso consumo energético. Também alteramos os nossos hábitos alimentares, de modo a comer menos carne e mais vegetais.
Ao mesmo tempo, investimos muito em medidas de eficiência energética. Por exemplo, o governo distribuiu gratuitamente lâmpadas de baixo consumo por toda a gente. Ao mesmo tempo, a rede de transportes públicos gratuitos foi ampliada e o uso do automóvel privado é algo raro hoje em Cuba. O governo deu o exemplo tornando obrigatório que os seus membros dêem boleia a quem lhes pede nas suas deslocações de automóvel.
Outro importante aspecto é o investimento nas renováveis em pequena escala. O governo instalou painéis solares fotovoltaicos em casas, escolas e hospitais e criou parques eólicos, reduzindo drasticamente a nossa dependência de combustíveis fósseis.
Esta experiência está relatada no filme “O poder da comunidade: como Cuba sobreviveu ao pico do petróleo” (http://www.powerofcommunity.org/), que aconselho todos a ver.
A revolução agrícola teve também impactos na vossa soberania alimentar.
Sim, antes dos anos 90, a nossa economia dependia muito de importações. Quando perdemos parceiros comerciais, a economia colapsou, o fornecimento de alimentos foi travado e o cubano médio perdeu cerca de 13 kgs. Foram tempos difíceis, que nos forçaram a repensar tudo. Então, começamos a encher as cidades com hortas urbanas, ocupando edifícios abandonados, espaços de estacionamento e jardins públicos. Como não tínhamos fertilizantes ou pesticidas químicos, recuperamos modos de produção tradicionais e inventamos alternativas biológicas. Hoje, as nossas cidades obtém a maioria dos seus alimentos destas hortas.
A revolução agrícola e energética é apresentada como uma iniciativa comunitária. Como foi isso possível num país onde o governo controla apertadamente a economia?
Há muitos mitos em torno de Cuba, um deles é o de que os cubanos não têm qualquer poder sobre o processo de tomada de decisões. O papel do governo foi importante no apoio a este processo de transformação mas fomos nós, com o nosso esforço, a mudar a face do nosso país. Isto seria possível num país capitalista, onde as empresas mandam nos governos?
Encontramos uma solução para os nossos problemas. Não é perfeita, mas é algo que estamos a construir. Só exigimos que nos respeitem e que não nos exijam para mudarmos a forma como vivemos as nossas vidas.
Mas também vemos hortas urbanas a nascer em países capitalistas, não?
Claro, isso só mostra como o conceito de produção local e sustentável pode ser aplicado em todo o lado. Em Nova Iorque, os bairros pobres nos subúrbios eram povoados por criminosos e traficantes de droga. Mas as comunidades latinas fizeram o que puderam para transformar os bairros em locais agradáveis, criando hortas urbanas onde cultivavam a sua comida. A experiência foi tão bem sucedida que o Presidente da Câmara Rudy Giuliani quis entregar a área a imobiliárias mas os residentes revoltaram-se e conseguiram travá-lo.
Como é que Cuba é afectada pelas alterações climáticas e quais são os vossos planos para a adaptação?
Em Cuba já se sentem os efeitos das alterações climáticas. No ano passado, um furacão destruiu grande parte das nossas culturas e tivemos de importar de novo alimentos. Isto foi duro mas nós não desistimos.
Estamos a fazer a nossa parte. Reduzimos o nosso consumo de energia. Aumentamos a nossa área de florestas em 12% (uma área equivalente a El Salvador) e planeamos ter 36% do nosso território coberto com florestas e 35% com áreas protegidas. Já quase não usamos petróleo importado e aprendemos a respeitar a natureza. E fizemos tudo isto sem receber créditos de carbono e sem investir em energia nuclear, só com o poder da comunidade e a aposta nas renováveis. Estamos a construir uma sociedade socialista não só para nós mas também para os nossos netos.
As alterações climáticas vão tornar a nossa vida mais difícil, mas não nos vão derrubar. Já recuperamos muitas vezes de situações difíceis, nós encontramos sempre uma forma de nos levantarmos de novo.
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Esta experiência está relatada no filme “O poder da comunidade: como Cuba sobreviveu ao pico do petróleo” (http://www.powerofcommunity.org/), que aconselho todos a ver.
A revolução agrícola teve também impactos na vossa soberania alimentar.
Sim, antes dos anos 90, a nossa economia dependia muito de importações. Quando perdemos parceiros comerciais, a economia colapsou, o fornecimento de alimentos foi travado e o cubano médio perdeu cerca de 13 kgs. Foram tempos difíceis, que nos forçaram a repensar tudo. Então, começamos a encher as cidades com hortas urbanas, ocupando edifícios abandonados, espaços de estacionamento e jardins públicos. Como não tínhamos fertilizantes ou pesticidas químicos, recuperamos modos de produção tradicionais e inventamos alternativas biológicas. Hoje, as nossas cidades obtém a maioria dos seus alimentos destas hortas.
A revolução agrícola e energética é apresentada como uma iniciativa comunitária. Como foi isso possível num país onde o governo controla apertadamente a economia?
Há muitos mitos em torno de Cuba, um deles é o de que os cubanos não têm qualquer poder sobre o processo de tomada de decisões. O papel do governo foi importante no apoio a este processo de transformação mas fomos nós, com o nosso esforço, a mudar a face do nosso país. Isto seria possível num país capitalista, onde as empresas mandam nos governos?
Encontramos uma solução para os nossos problemas. Não é perfeita, mas é algo que estamos a construir. Só exigimos que nos respeitem e que não nos exijam para mudarmos a forma como vivemos as nossas vidas.
Mas também vemos hortas urbanas a nascer em países capitalistas, não?
Claro, isso só mostra como o conceito de produção local e sustentável pode ser aplicado em todo o lado. Em Nova Iorque, os bairros pobres nos subúrbios eram povoados por criminosos e traficantes de droga. Mas as comunidades latinas fizeram o que puderam para transformar os bairros em locais agradáveis, criando hortas urbanas onde cultivavam a sua comida. A experiência foi tão bem sucedida que o Presidente da Câmara Rudy Giuliani quis entregar a área a imobiliárias mas os residentes revoltaram-se e conseguiram travá-lo.
Como é que Cuba é afectada pelas alterações climáticas e quais são os vossos planos para a adaptação?
Em Cuba já se sentem os efeitos das alterações climáticas. No ano passado, um furacão destruiu grande parte das nossas culturas e tivemos de importar de novo alimentos. Isto foi duro mas nós não desistimos.
Estamos a fazer a nossa parte. Reduzimos o nosso consumo de energia. Aumentamos a nossa área de florestas em 12% (uma área equivalente a El Salvador) e planeamos ter 36% do nosso território coberto com florestas e 35% com áreas protegidas. Já quase não usamos petróleo importado e aprendemos a respeitar a natureza. E fizemos tudo isto sem receber créditos de carbono e sem investir em energia nuclear, só com o poder da comunidade e a aposta nas renováveis. Estamos a construir uma sociedade socialista não só para nós mas também para os nossos netos.
As alterações climáticas vão tornar a nossa vida mais difícil, mas não nos vão derrubar. Já recuperamos muitas vezes de situações difíceis, nós encontramos sempre uma forma de nos levantarmos de novo.
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Fonte: Esquerda.net