Desde os tempos mais antigos que a vida e o quotidiano se constroem em cima de narrativas - mentiras que organizam o mundo.
Nalguns lugares houve quem contasse à luz de fogueiras que sabia ouvir e falar com pedras e estrelas.
Noutros sítios inventou-se que as pessoas que nasciam numa dada terra, bem como os seus filhos e netos, pertenciam àquela terra que que por isso deviam obedecer a quem reunisse forças e brutalidade suficiente para estabelecer a ordem nessa terra.
Ainda noutro canto as pessoas já nasciam a acreditar que as coisas, o chão onde se anda, as casas onde se vive, até os objectos, pertencem sempre a uma pessoa qualquer - mesmo se usados por outros, pertencem-lhe - e se alguém morrer passarao a pertencer aos seus filhos.
As pessoas acreditam nestas coisas, e como tem necessidade de estórias dessas para arrumar o mundo e fugir à loucura e à solidão, tomam o pequeno almoço em cima delas, dormem, trabalham, procriam, sempre de acordo com as estórias que conhecem.