Este é um tempo em que a esperança deixou de fazer parte da vida dos portugueses e dos cidadãos deste velho continente.
Este é um tempo em que tudo é incerto e ademais se cultiva o incerto, fazendo da incerteza o modo de vida.
Não
basta ao ser humano a incerteza sobre o seu próprio fim; a civilização
junta agora todas as incertezas: emprego, reforma, família, país e
futuro.
A incerteza deixa os cidadãos à mercê dos donos do mundo,
que decidem o destino da indústria, do comércio, da agricultura e dos
serviços.
Outra das certezas é fazer crer que os debaixo viveram
muito acima das suas possibilidades. E esta certeza ganha muitos dos que
viveram mal, porque os debaixo gostam do modo como vivem os de cima e
aceitam esta infâmia propagada por aqueles que em poucas semanas gastam o
que eles não gastam na vida inteira.
Este é um tempo em que os
governantes se moldam a estes parâmetros criando um espaço bloqueado
criando a sensação de que não se pode sair porque forças exteriores
omnipotentes o não permitem.
É um tempo que, para além do
bloqueamento do espaço político partidário se fecha também o espaço da
comunicação social, comunicando estes dois mundos entre si virtualmente,
à margem da maioria dos cidadãos, que lhes viram as costas, às vezes
com raiva.
Este é um tempo de exaltação individual para uns
milhares de indivíduos determinarem o futuro de todos os outros milhões e
milhões, fazendo destes gente sem esperança para construir o futuro de
outro modo.
Nas recentes eleições para o Parlamento Europeu, 66%
dos portugueses renunciaram a utilizar uma arma que tinham à mão porque
já não acreditam que as coisas mudem.
Os cidadãos respiram a podridão dos governantes que se governam a si próprios, aos seus, e ao grupo que os apoia.
Respiram
escândalos, corrupção, compadrio, enriquecimento fácil, exaltação dos
ricos, e, em contraste, vêem a sua vida empobrecer. Como uma prenda.
Respiram
a impunidade de quem manda nos que governam e, em contraste, vêem o
Estado cair-lhes no lombo com toda a força da máquina estatal impiedosa.
Respiram reformas que não param de se reformar e que são contra-reformas.
Dizem coisas com ares de gravidade; só que nem reparam que já ninguém acredita neles.
O
povo virou-lhes as costas. Àqueles que governaram, àqueles que não são
capazes de propor uma saída, e ficam contentes por terem mais uns pós no
seu mealheiro ideológico e do pequeno poder que o sistema oferece.
Este
é um tempo terrível no que se refere à palavra mágica que dá força às
mulheres e aos homens, mesmo nos momentos mais negros, a palavra esperança.
Mesmo
que a esperança não abunde face à seca no reino das vontades
individuais e coletivas, a verdade é que enquanto existirem mulheres e
homens bons, generosos, honrados, solidários, igualitários, a esperança
não pode morrer.
Neste tempo de miséria intelectual onde se exalta
o mal como sendo um bem, é preciso não desistir e roubar, como Prometeu
a Zeus, a esperança a quem a confiscou e com ela incendiar os corações.
Em Portugal e na Europa.