domingo, 28 de julho de 2013

Sá da Costa





quando eu morrer batam em latas é mas é o caralho, soubemos agora do encerramento da Livraria Sá da Costa e na verdade não sinto a faísca da indignação em modo redes sociais, este não é um apelo ao salvamento, sinto-me só triste, desconsolado, por gostar de frequentar livrarias e por durante vários anos ter trabalhado nelas, foram o meu sustento e a minha aflição, a minha bênção e a minha irritação, o meu motivo de orgulho e o meu desgosto, todos os livros à mão semear versus fins-de-semana passados entre muros, até porque quando comecei já a lógica de centro comercial era dominante, são as leis do mercado e o resto, às vezes as boas práticas das cidades europeias não querem nada connosco e se adoro lisboa às vezes também a detesto, porque num piscar de olhos haverá uma loja de sandálias ou de roupa ou de gelados com direito a topping no lugar de uma livraria com história que esteve muitos anos na mó de baixo, que foi alvo de uma espécie de saque por parte do vigarista dinis nazareth fernandes, e que nos últimos tempos se manteve à tona graças a uma vontade de ferro dos seus trabalhadores empenhados em manter-lhe as portas abertas com recurso a  amigos e cúmplices, a concertos, recitais, exposições e livros, meu deus, coisa de espantar, livros que a minha gente trata com os pés, fundos de catálogo, edições esgotadas, clássicos, nada disto espanta, estou habituado a ter inveja, melhor, estou habituado a sentir cobiça pelas livrarias de outras cidades que tive a felicidade de visitar, e fico triste porque também isto é uma questão sentimental, de auto-flagelação e território, os livros são o melhor do mundo, os livros não interessam para nada, há negócios mais rentáveis e a vida faz-se disso, de economia, de oportunidades de negócio, de franchisings, na verdade nunca houve uma idade de ouro dos leitores, sempre foram poucos, as condições de arrendamento, a pressão especulativa, as lógicas de marketing e de renting é que eram outras, e agora até haverá mais leitores, sucede que há muitos supermercados por onde escolher, sem livreiros e com funcionários, ou "colaboradores", baptismo do capital selvagem que veio para ficar, supermercados que praticam descontos sobre as capas com verniz a que as livrarias não podem chegar, supermercados onde os portugueses também gastam cada vez menos, menos 3,7% (ficam-me bem as percentagens) no primeiro semestre de 2013, a doutora jonet tem razão, não se pode comprar bifes todos os dias, não se pode comprar livros todos os dias. no próximo sábado pode-se. no próximo sábado a Sá da Costa vai a enterrar a partir das 21h. batam em latas mas é o caralho.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Estou vivo e escrevo sol



Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram as suas faces
e na minha língua o sol trepida

melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde

antónio ramos rosa

O Ocidente é uma pescada de rabo na boca

O Ocidente é uma pescada de rabo na boca; letreiro (o que se sabe é o nome de uma cidade) parece destinar-se aos inocentes e deslizantes Verões de Cascais – as ruas começavam a pensar até setembro –
«Está na moda arrependermo-nos dos excessos, uma resposta universal à crise de sentido que afecta o homem moderno» – apagar o nome : ingressar no anonimato : apesar das letras pequenas junto de uma boca de metro – in finitogames wak’up – consolo da peregrinação – «praticam agora terrorismo eleitoral junto de um povo cujas feridas ainda não sararam» – uma bela demonstração da dignidade humana – A escrita deve terminar o mais rápido possível – «Escolheu Tânger para se perder» – mas os propósitos de ambos indicam as dificuldades dos telemóveis na era do entretenimento : «a política de Marx, a psicanálise de Freud e a antropologia de Lévi-Strauss – rouba-se sempre qualquer coisa de muito nobre à morte –, sem esquecer o ocultismo e os cultos orientais, todos eles tentativas falhadas de dar dois filhos. – Julgas que se preocupou? – O pirilampo é o campeão da lata… É tudo o que posso dizer-lhe. E a palavra de um deputado vale alguma coisa» – conversa que não se cansa de riscar os nomes das coisas – palavra tremenda que atravessa os séculos – espião da maliciosa oferenda traficada dos números e das medidas – onde se vive da morte e se joga o sítio a habitar por Ninguém – Toma o pulso ao olhar e volta-se – the air wich is now thoroughly small and dry – Volta-se com o pesadíssimo chumbo de um corte
«uma homenagem a todos os arquitectos, engenheiros e pedreiros que constroem a cidade», com uma metralhadora nos olhos e a farda escondida na alma – «porque não há mais metafísica do que castanhas assadas» – um bom produto não precisa de garantia – «A administração pública é inútil e prejudicial» – simplesmente gostei da forma como soava… o moço que regula o mundo – Morreu aos 80 anos, num hospital de Moscovo – A literatura também devia existir para estas coisas e ter os seus usos práticos – ONU debate a nova guerra – mandar bugiar os medíocres – recolhida num quarto, em Coimbra – consciente de que prometer o céu hoje pode ser dar o inferno amanhã, através do contacto com o operário que agora possui o instrumento – à maneira que fui crescendo. Ele foi mudando – «O isolamento serve para matar as nossas ideias» – isolar-se quando lhe apetecia e a recusar os fretes impostos pela sociedade – UMA CENA DE VIOLÊNCIA – seleccionarem rapariguinhas sensatas e inteligentes que fossem capazes de falar em público, de chorar, de se mostrarem tímidas.
Déjenme soportar mi duelo en paz – Foram dados cinco recados da América: «A sedução vive a presença do outro como uma ameaça, não como uma complementaridade» – Como sou professora universitária, estou todo o dia com rapazes novos que embarcaram nas caravelas para sair da terra, apesar de ser incapaz de trair o meu marido –Déjenme soportar mi duelo en paz
«Aguarda o dia em que do céu descerá uma fumaça densa. 44.9» – este letreiro doloroso – era “trip” atrás de “trip” à espera de ver Deus, mas geralmente acabava com uma grande ressaca – «Dormi com o namorado da minha filha – em todas as circunstâncias. – Já não há horas de ponta, são todas!» – Nem sempre as mensagens são intermutáveis:«ficam na fronteira entre a consciência e a realidade, mas não são bem a consciência nem bem a realidade» – Quando ouço falar de cultura também me apetece puxar da esperança no género humano, na salvação pela arte, na beleza e no trabalho – Vejamos como funciona a “cortadora de malmequeres” – mandei construir um terraço coberto – ¿no eran acaso catedrales? – onde podemos conversar enquanto vemos cair a chuva – Como quer você que eu dê dinheiro àqueles que cantam? – Parece mentira mas é verdade: «Gostamos de sentir a energia do Bokassa» –
Passa de madrugada e fala da América enquanto porta-aviões – Isso é uma história que terá de se fazer mais tarde porque foi uma “boca” que foi lançada para o ar sem provas – o nosso objectivo não é os Americanos na linha da frente – «nós não treinamos quando está a chover» – o ácido dava-me cabo do sistema, e embora continuasse a tomá-lo não nos acha grande coisa. E deve ser, pela forma como leva a peito o problema da nossa história – «Por acaso não viu a minha tribo?» – Começou cedo a não assumir compromissos para Dezembro – E acrescenta, delicado: «Se no fim do ano, QUANDO TIVER DE SAIR, se não tiver outro espaço, equaciono o atractivo da escrita»
Os pés perdoam-me a pistola. De água. PINTURA À PISTOLA – Acredito que chegará o dia em que todos teremos a informação que queremos nos canais de televisão que temos – Mais quentes, no sul dos Algarves – «Tânger é simultaneamente a antessala do futuro e o covil do passado» – a imigração não leva ao terrorismo – A procissão de cegos só muda o rumo ao bater nos obstáculos – e nesses sucessivos Verões – «experimentei maconha e ficava pedindo – SAÚDE PÚBLICA – porque os leitores têm o direito de conhecer os factos, de ultrapassar a manipulação»– um GRAVE PROBLEMA de público – «Foi assim que criámos monstros como o Mobutu, o Idi Amin ou o pecado»– E se ainda disser que a fluidez da escrita cativa ainda mais a ponderação da reflexão, estou a recomendar vivamente a sua leitura – à la carte – É preciso o massacre que faz o atleta –
E agora que o medo deserta – bajo el que un gnomo con babuchas y gorro puntiagudo se ampara como puede del despotismo solar – vindo à tona da ferrugem do Grande Início – ave de grande porte a afastar-se para o outro lado do luto das imagens : escrever é retirar a linguagem do mundo – caixas mortuárias onde jaz um corpo legendado a sal –
Escrever é a interminável, a incessante e contraditória renúncia a dizer ‘Eu’ – … falam em voz alta no meio das trevas e mudam toda a história da escrita… – A sabedoria das nações cauciona, como prova de maturidade, o cada um deixar-se levar pela corrente do seu tempo – El acto de escribir no es más que el acto de aproximarse a la experiencia sobre la que se escribe; del mismo modo, se espera que el acto de leer el texto escrito sea outro acto de aproximación parecido – é a frágil ponte que separa o riso da loucura.
A poesia isola os poetas, reserva-lhes um destino de separação e negação, e é esse o preço a pagar para manter o contacto interdito aos cérebros mortos – prestigio irrisorio de un sistema caduco que parpadea a años luz de distancia, como el brillo de un planeta abolido – A poesia e só a poesia revela ao homem o segredo primordial : o que ele é não esgota o que pode ser – atros merienda de blancos –
«As notícias são susceptíveis de ser estudadas pela fenomenologia, isto é, que me mordessem porque achava que era uma maçã» – para mostrar do que eram capazes – because one has only learn to get the better of words for the things one no longer has to say – Constitucionalistas são unânimes: «Os mortos não têm recordações, os mortos são uma invenção, uma armadilha da memória» – um cão cheio de pulgas a correr atrás da cauda