terça-feira, 30 de março de 2010

O perigo de uma história única


O perigo de uma história única e os mundos que os livros e os contactos com outras culturas nos podem abrir, por Chimamanda Adichie.
Vejam que vale a pena:


http://www.ted.com/---/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html

sábado, 27 de março de 2010

Acerca da repercussão política de rabos e recibos verdes

Crónica de Ricardo Araújo Pereira na Visão




Esta pode ser a geração dos 500 euros porque quem lhe estabelece o ordenado é a geração rasca.

Um dia, num protesto contra a política educativa do Governo, um cidadão da minha idade resolveu avançar com um argumento de autoridade e mostrou o rabo à ministra. Não é, de todo, o pior e mais deselegante argumento que já vi esgrimir (se se pode dizer de um rabo que foi esgrimido) no âmbito de um debate político, mas ainda assim o gesto fez com que aquilo a que se chama "a minha geração" passasse a ser conhecida por "geração rasca". Nunca me queixei. Pelo menos no que me dizia respeito, o título pareceu-me adequado à minha personalidade, e não gosto de censurar ninguém por ser perspicaz. Hoje, a geração que entra no mercado de trabalho é conhecida por "geração dos 500 euros". O que definia a minha geração era o seu carácter; o que define esta é o seu salário. Na verdade, há uma hipótese inquietante: é possível que quem paga a esta geração seja a minha. Esta pode ser a geração dos 500 euros, porque quem lhe estabelece o ordenado é a geração rasca. Tudo aponta para isso: somos mais velhos do que eles, e portanto é lógico que tenhamos cargos de chefia quando eles saem da escola. E é próprio de um patrão rasca generalizar o pagamento de salários de 500 euros. Sobretudo, é improvável que a "geração rasca" e a "geração dos 500 euros" coincidam: quem é rasca, em princípio arranja sempre maneira de ganhar mais de 500 euros.

Como costuma dizer normalmente quem tem muito dinheiro, o dinheiro não é importante. Sempre me comoveu que as pessoas ricas tivessem a gentileza de partilhar connosco (logo elas, que são tantas vezes avessas a partilhar) uma ideia formada com conhecimento de causa: o dinheiro não traz felicidade. Essa é, no entanto, uma das características que eu mais aprecio no dinheiro: a felicidade é tão fugaz, tão frágil e, às vezes, tão imoral, que acaba por ser higiénico e nobre que o dinheiro não a traga. Para falar com franqueza, não conheço nada que traga felicidade. Mas - chamem-me sentimental - acho que o dinheiro não traz felicidade de uma maneira especial. Vendo bem, a minha geração teve bastante mais sorte do que esta: uma pessoa pode mudar o seu carácter, mas na esmagadora maioria das vezes não pode mudar o seu salário. É bem mais fácil deixar de mostrar o rabo do que passar a ganhar mais de 500 euros.

sábado, 20 de março de 2010

Á espera dos ordenados de Janeiro e Fevereiro


Assim estou.
Mas como devo 80 euros à (in)segurança social, a doutora da contabilidade lá do sítio(estado) ficou com muita raiva por ter de preencher mais papeis, logo só vou receber lá para Abril.
Os recibos, verdes, esses já eu os passei.

Onde estão as conquistas de Abril para mim?

sábado, 13 de março de 2010

Cidadania Criativa, por Richard Rogers


"Nunca estivemos tão electrónica e fisicamente ligados, contudo, nunca estivemos socialmente tão separados.

A liberdade individual reduziu a nossa interdependência e, como consequência, nosso senso de interesse comum. Para contrabalançar estas forças, precisamos incentivar e premiar a participação em tarefas que servem de base à sociedade.

Poderíamos aproveitar o potencial de tempo livre concedido pela nova era tecnológica, e aumentar o conceito de trabalho para incluir uma gama mais ampla de actividades culturais - trabalho em família, grupos de aconselhamento dos cidadãos, direitos civis, grupos de jovens, assistência médica, actividade para o ambiente, arte e educação em geral.

Este "trabalho" - uma forma de cidadania criativa - atingiria as necessidades sociais menosprezadas pelo sistema de mercado, e estimularia qualidades que humanizam e inspiram a vida.

A cidadania criativa traduz-se por participação em actividades comunitárias essencialmente criativas. Ela poderia animar e movimentar as comunidades, poderia preencher um vácuo em suas vidas, agora sem objectivos, poderia fornecer "status", satisfação e identidade, e ainda começar a lidar com as causas da alienação e desarmonia da sociedade.

Poderia ainda gerar as bases para uma força de trabalho mais criativa e motivada."

Richard Rogers in "Cidades para um pequeno planeta"

terça-feira, 2 de março de 2010

O Belo Verde


Este é um filme "fofinho", cómico e provocador, para contrariar os tempos actuais. Quase um "Avatar", mas menos pedante (ou não).

Imaginem uma mulher que vem de um éden longínquo, um outro planeta, onde se vive em harmonia com a natureza, sem hierarquias, polícias, dinheiro ou electrodomésticos, e aterra em paris para aprender os nossos costumes...

De morrer a rir... AQUI

segunda-feira, 1 de março de 2010

A tragédia de classes


Sempre que ocorre uma catástrofe, que nunca é natural nos seus efeitos, como aconteceu agora Madeira, surge com redobrada força o discurso da solidariedade nacional: estamos todos no mesmo barco. Este discurso deve ser levado a sério. Se for sério só pode conduzir à revolta, dada a distância abismal que o separa da realidade social de um país fracturado. É que nós não estamos, de facto, todos no mesmo barco: estamos num país muito desigual. A tragédia revela então as classes invisíveis, as que se escondem atrás da média nacional. Jornal de Notícias: “Tempestade que matou 42 pessoas e desalojou 600 na Madeira atingiu mais a gente pobre” e “construção precária nas margens das ribeiras que sulcam o Funchal rural contribuiu substantivamente para engrossar os óbitos provocados pelo temporal do dia 20”.

Sabemos que a única classe que existe para a confortável opinião convencional é uma parda média. Na realidade, estamos num país onde a pobreza infantil é das mais elevadas do mundo desenvolvido (estamos bem acompanhados pelos capitalismos anglo-saxónicos) e onde mais um estudo da OCDE, oportunamente mencionado pelo jornal i, revela que “a mobilidade entre classes” é das menores do mundo desenvolvido (os países do sul da Europa estão bem acompanhados pelos países anglo-saxónicos). Sabemos que a mobilidade social é mais elevada nos países de capitalismo mais igualitário do norte da Europa, onde existe um multiplicador da igualdade que foi enfraquecido, mas não destruído: desigualdades salariais baixas antes de impostos, o que pressupõe negociação colectiva centralizada e fora da empresa entre patrões e sindicatos e um Estado Social universal que redistribui depois de impostos.

A conversa sobre a “rigidez do mercado de trabalho”, que consta do tal estudo da OCDE, é apenas uma das peças do puzzle da fraude económica (hei-de voltar a isto). Note-se desde já que a flexibilidade laboral é, no contexto português, o nome de código liberal para maior facilidade em transferir custos para os trabalhadores sob a forma de horários de trabalho baralhados e mais longos, custos reduzidos no despedimento, salários mais baixos e mais desiguais. Assim soa pior, não soa?

[Publicado, em simultâneo, no Arrastão E NO LADRÕES DE BICICLETAS]