domingo, 20 de dezembro de 2009

COP15 - O final tão temido

E A MONTANHA PARIU UM RATO
Os piores temores realizaram-se.
Não só o necessário acordo não foi realizado, como o inacreditávelmente insuficiente acordo alcançado não é sequer vinculativo, isto é, cada país cumpre, se assim o desejar, e como o desejar.
Os grandes líderes do Mundo falharam-nos imensamente. Torna-se óbvio que os nossos interesses como povos do Mundo não são os mesmos que os deles.
Taís líderes não são de confiança.
Tudo está agora nas mãos dos cidadãos, e dos enigmáticos processos do clima, que não se interessa nada pelas leis do mercado livre, nem pela crise económica Mundial.
Nossos filhos e netos por nascer gritam de revolta contra a nossa cumplicidade muda.
O preço a pagar é demasiado alto para nos declararmos impotentes perante a insensível máquina industrial e financeira que criámos.
Secas, imundações, supertempestades, fome e massas de milhões e milhões de refugiados serão a nossa herança.
A história irá julgar-nos, com a mesma misericórdia que nós demonstramos às nossas gerações futuras.
É bastante negra, a época em que vivemos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

À espera de Copenhaga 09...



O mundo sustém a respiração enquanto os grandes decidem o futuro das gerações actuais e vindouras, partindo de premissas demasiado economicistas e centradas nos seus umbigos patrióticos, o que não deixa ninguém dormir descansado.

Ninguém esperava um acordo fácil, mas quando vemos Durão Barroso desiludido com o que se conseguiu até agora em Copenhaga, sente-se um frio muito real na espinha.

Falta muito pouco para o final da Cimeira. Após 2 anos de negociação, tudo está ainda para decidir.

Mas talvez nem tudo esteja perdido. Vários foram os responsáveis políticos que admitiram a necessidade de uma reflorestação a sério, e a nível global, como forma de reter o carbono na biosfera, e aumentar os recursos naturais de muitas nações em desenvolvimento.

Mas desenganem-se os companheiros portugueses, que uma floresta não é um qualquer amontoado de pinheiros ou eucaliptos.
É sim uma grande extensão de terreno densamente povoada por árvores, mas que sustém igualmente uma grande variedade de outras plantas, bem como uma boa quantidade de espécies animais, como toupeiras, pardais e coelhos.

Em Portugal, para além das reservas naturais, apenas temos o Montado Alentejano como um ecossistema capaz de manter uma tal variedade de espécies.
Pelo que resta muito trabalho a fazer no nosso país.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Os filhos de Abril são mais que mil, e gritam ao cair.

Queda e ascensão de mais um precário inflexível

Pois bem, comigo não foi diferente. Como tantos outros não pude deixar de lutar contra uma vida que insiste em contrariar todas as nossas expectativas, todos os nossos sonhos e anseios, mesmo se os mesmos se resumem a algo tão simples como uma casa à qual podemos chamar nossa, um emprego e algum dinheiro no bolso para gerir com saber e querer. Também eu sou professor, de ciências, e quando conto a quem comigo trabalha existirem por terras de Portugal dezenas de milhar de professores no desemprego, ninguém me acredita. Não quero com isto dizer ser a Inglaterra uma qualquer terra prometida, porque não só não o é como, caso esta aposta não resulte, tenho toda a certeza de amanhã ser mais um dia onde duas pernas e dois braços persistirão em animar o meu corpo e esta vontade. Importante é acreditar. Também eu vivi o desemprego e ainda hoje carrego comigo esse sentimento de culpa de quem acha ser nossa a responsabilidade de um dia encarar tal situação. Mas não é, a culpa não é nossa, e num repente somos mais um desses casos que dão razão à psicologia. Porque crescemos condicionados à função de produzir.

Estive um ano sem ser colocado e cedo percebi não haver lugar para mim no universo tão pequeno que é Portugal, um País de cunhas, cunhados e conhecidos onde não se valoriza o mérito pessoal e onde a oportunidade é para quem já a tem, e não para quem a queria. Mas emigrar foi sempre a última opção. Não há alegria em deixar para trás toda uma família e os amigos que se criaram durante uma vida. E por tal, e tentando fugir ao óbvio, decidi enveredar por outro curso e outra área: a área da enfermagem. Afinal, ainda vivemos num país onde a opinião geral é de que "o importante é ter saúdinha". E conquanto haja saúdinha para tratar, esperava eu, como enfermeiro, não ter de emigrar. O resultado prático foi ter de desistir do curso ao fim de dois anos e meio, porque a exigência do mesmo reprova por um ano quem chumba a uma só disciplina de estágio, e a vida não nos dá espaço para andar por aqui a perder anos de vida, não quando já me crescem os cabelos brancos, e não numa sociedade ansiosa por drenar a juventude que nos vive nos braços. Desisti de enfermagem numa sexta-feira e comecei a preparar a partida no sábado, uma partida que levaria ainda um ano e meio a concretizar. Na quarta-feira seguinte estava a trabalhar no buraco dos licenciados e dos desgraçados: um call-centre da TV Cabo. A experiência sui generis de se ser insultado ao telefone oito horas por dia só não deitou por terra toda a pouca auto-estima que ainda me sobrava porque pelo meio fiz a viagem tão prometida à minha namorada (fomos à Suécia) e nunca, mas mesmo nunca, deixei de procurar um emprego. Graças à internet (na Internet we trust) coleccionei listas formidáveis de contactos electrónicos de escolas públicas, escolas particulares, centros de formação, jornais e revistas, estágios profissionalizantes e estágios não remunerados, até finalmente, oito meses volvidos num rolo de carne em sangue, poder saltar de um buraco na direcção de outro: os centros de estudo. Se por um lado fugi ao insulto, por outro a exploração mercantil a que somos sujeitos é, em definitivo, um insulto em si. Mesmo tendo em conta o facto de ter feito algum dinheiro e agora, olhando para Portugal, saber haver professores a receber cento e cinquenta euros a troco de meio horário de trabalho (o qual é, por norma, pago a quadriplicar). Como não podia deixar de ser, continuei à procura de emprego. pelo caminho soube haver por terras de Inglaterra uma grande falta de professores de ciências. Meu dito, meus amigos, meu feito. Estabeleci os contactos e tratei das qualificações. Estávamos no início de 2007, mês de Janeiro, e ao fim da terceira semana de Fevereiro já tinha o especial certificado na caixa do correio. Estava tudo preparado para partir para Inglaterra! No entanto, faltava o mais difícil: partir. Essa fase, que foi a última, ainda me levou sete meses, só tendo aqui chegado corria o ano no mês de Setembro. Para trás deixei toda as lágrimas em pequenos saquinhos debaixo das asas do avião, e comigo trouxe a certeza cega de nunca mais voltar a um país que, lentamente, nos atira para longe de todos a quantos queremos. Porque não há alternativas. Ou isso, ou o a resignação de uma vida parva e pequena, mesquinha, onde "o que importa é que haja saúdinha...", dia após dia, até nada mais haver senão uma mão de terra onde o licenciado acaba por se conhecer a plantar uma batata e uma couvinha porque a auto-subsistência é o futuro cada vez mais presente. Ao fim de três semanas estava a trabalhar, e hoje estou numa escola de ensino especial em West Ham, Londres, onde me pagam e onde recebo, onde trabalho e onde aprendo. Pago as minhas contas e não sou mais um filho de Portugal à procura de contrariar esse epíteto de "geração rasca", mesmo sendo eu, à data, um dos melhores alunos da escola. Não, isso não conta. O que conta é a batalha geracional, e essa também não escolhe prisioneiros.

Os filhos de Abril são mais que mil, e gritam ao cair.

Daqui por uma semana estarei a viver com a minha namorada por terras de Londres, à procura de cumprir a promessa de não mais nos separarmos. O que acontecer daqui em diante é a vida, a mesma que nos é negada porque vedada, em terras de Portugal. As saudades são muitas, mas nada há que me espere no regresso a casa senão um princípio de fome. Poucos amigos ainda fiz e a maior parte do meu tempo tem sido dedicada ao trabalho, mas aos poucos, creio, uma vida hei-de construir e o futuro está ali à porta, à espera do meu consentir, para que eu o deixe entrar dentro da sala-de-aula, de mala às costas em direcção à carteira da frente, onde se senta e onde abre o livro para mais um dia de aulas.
João André Costa

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

"Antes da Dívida Temos Direitos"


Testemunho: os falsos recibos verdes e o peso da dívida injusta à Segurança Social
A petição "
Antes da Dívida Temos Direitos" continua a sua mobilização pelos direitos dos trabalhadores a recibos verdes e na defesa da Segurança Social para todos. Além do crescente número de assinaturas e do entusiasmo que sentimos todos os dias no contacto com muitas pessoas na rua, através desta iniciativa tem sido possível conhecer ainda mais histórias da injustiça desta dívida e do peso que significa viver amarrado aos falsos recibos verdes. Partilhamos aqui um testemunho que nos chegou através da petição, tristemente esclarecedor, até pela dificuldade em conhecer as regras e as burocracias que enovelam esta injustiça:


«Sou licenciada em Cardiopneumologia. Desde de Julho de 2005 que trabalho ou seja trabalhava na empresa "Clínica UNIMED" que foi à falência. Nessa Clínica Unimed Entrecampos como referi trabalhei desde Julho de 2005 e falsos Recibos Verdes uma vez que trabalhei sempre lá, fazendo exames médicos, sempre com o mesmo horário e neste período de tempo com o mesmo salário.
Agora a que a clínica foi à falência eu e os meus colegas com recibo verde, ficamos sem nada...nem indemnização, nem subsidio de desemprego.... Também tenho uma divida à segurança social, uma vez que não consigo com as despesas e com aquilo que ganhava não dava para pagar...


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O Chorão e a Cimeira de Copenhaga



Foi com enorme tristeza que descobri funcionários da Câmara de Vila Real no bairro da Araucária, a carregar um gigantesco Chorão, acabado de arrancar... A árvore possuía um corpo e uma dignidade difíceis de explicar, mas para estes funcionários, era apenas mais um dia de trabalho.
As razões: possivelmente as raízes perturbaram a canalização do bairro, ou pior, o pavimento. O que, para o homem actual, é mais do que suficiente.

O que me levou a pensar na Cimeira de Copenhaga.
Que hipóteses temos nós de reverter as alterações climáticas com as decisões desta Cimeira?
As mesmas que o Chorão, possivelmente.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

É o direito estúpido, é o direito...



Há coisas na vida que se arrastam por tempos indetermináveis. Todos, sem excepção conseguimos realizar um exercício de memória e recuperar no baú duas ou três coisas que temos de fazer, mas que não nos tem apetecido... Resultado, a coisa arrasta-se por muito tempo até que tem mesmo de ser!
Acontece coisa parecida com o caso "Casa Pia".
Não me irei alongar sobre coisas que não domino, nomeadamente, efectuar o triste número dos "ses" e "na minha opinião", mas como cidadão e, acima de tudo, profissional que trabalha directa e indirectamente com crianças e jovens (em e sem risco) há um conjunto de aspectos que me afligem, inquietam e preocupam no que concerne à forma como um caso tão "pantanoso" se arrasta durante tanto tempo, sem que haja um fim aparente à vista. As considerações não têm, obviamente, qualquer relação directa com a noticia que motiva este texto.
1. Se a justiça não cria mecanismos de se tornar mais célere, independentemente do caso em questão, na promoção da defesa do SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA e no cumprimento do direito de menores, corremos o risco dos menores o deixarem de ser (em 7 anos, uma criança de 12 desenvolve-se num adolescente de 19), passando tais acontecimentos a pesar definitivamente e irremediavelmente sobre os "ombros" dos jovens. Isto é inaceitável para o bom do desenvolvimento psíquico e afectivo de qualquer pessoa, quanto mais nas idades em que a identidade se começa a formar e consolidar.
2. O SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA nem sempre é salvaguardado, estando dependente, caso a caso, dos respectivos procuradores, advogados e juízes. Ou seja, não há efectivamente o respeito pelo SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Recibos verdes - se tirei uma licenciatura, porque razão sou um escravo?

O capitalismo medíocre resiste à modernização e insiste na precariedade. Quem quer decência no trabalho já descobriu a forma de a enfrentar

Movimento contra falsos recibos verdes acaba de editar um livro

A situação é surreal: dezenas de professores contratados por uma empresa de Lisboa na garagem de uma empresa de reparação automóvel de Matosinhos para leccionarem Música e Inglês nas escolas do Porto. Isto ocorre no quadro das chamadas actividades de enriquecimento curricular, obra do Ministério da Educação e dos municípios. Estes jovens professores podem almejar, depois de feitos todos os descontos, receber menos de quatrocentos euros por mês. O abuso foi denunciado pelo deputado José Soeiro e pelo FERVE - Fartas/os d'Estes Recibos Verdes -, um movimento social que se dedica a lutar contra os falsos recibos verdes. Este pedaço de papel tem o poder, com a cumplicidade activa do Estado, de transformar 900 mil trabalhadores em mercadoria barata e descartável. Para celebrar dois anos de luta, o FERVE organizou um livro editado pela Afrontamento. Esta crónica tem o seu título, como singela homenagem. É sobre "desigualdades sólidas, capitalismo líquido, vidas gasosas", para retomar a certeira formulação de Sandra Monteiro, directora da edição portuguesa do "Le Monde diplomatique". Uma obra colectiva que conta também, entre outros, com contributos de Manuel Carvalho da Silva ou do próprio José Soeiro, para além de depoimentos pungentes de quem, maioritariamente jovem, tem de viver na corda bamba.

Sabemos que o tal capitalismo líquido, o que corrói todos os laços sociais dando demasiado poder a patrões com poucos escrúpulos, comprime salários - uma vez que os trabalhadores precários auferem remunerações inferiores - e diminui os incentivos para a aquisição de novas qualificações, porque todos os horizontes se estreitam.

O que talvez não seja tão conhecido é que o capitalismo líquido gera uma desmoralização que se inscreve na mente e no corpo, sem separações artificiais: a investigação na área dos determinantes sociais da saúde tem mostrado que a precariedade está associada a uma maior vulnerabilidade a vários tipos de doença, incluindo doenças mentais.

Face à cumplicidade dos poderes públicos, resignados ao ciclo vicioso de um capitalismo medíocre, que desistiram de disciplinar e de modernizar, o precariado vai lentamente descobrindo novas formas de associação e evitando as armadilhas dos que querem substituir a luta de classes pela luta de gerações. A lição desta história é clara: a decência no trabalho é obra da acção colectiva de todos os trabalhadores, dos que resistem ao esfarelamento dos direitos duramente conquistados e dos que reivindicam novos direitos. O informado activismo do FERVE, de que este notável livro é produto, revela que a lição está estudada e por isso pode ensinar-nos novas lições. Vale mesmo a pena aprendê-las.

Economista e co-autor do blogue Ladrões de Bicicletas

Tags: dois anos a ferver, ferve, livro, afrontamento, sandra monteiro, capitalismo líquido, trabalhadores precários,recibos verdes, joão rodrigues,

Como já alguém fez notar, agora que o proletariado é uma designação sociológica caída em desuso, a economia de mercado liberal e globalizado deu origem a esta nova classe: o precariado, para a qual os amanhãs não cantam – a questão (essa sim, essencial) é mesmo se existe um amanhã com trabalho dentro… e, já agora, até quando.

Pois é meus amigos, até quando?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Terence McKenna - Principais ideias I


McKenna teorizou que, como a selva Norte Africana diminuiu perto do final da última era glacial, dando lugar a pastagens e savanas, um ramo de nossos antepassados primatas que habitavam arvores deixaram a copa florestal, e começaram a viver em áreas abertas fora da floresta. Lá, eles experimentaram novas variedades de alimentos, e adaptaram-se, física e mentalmente, ao seu novo ambiente.

Entre os novos itens alimentares encontrados neste novo ambiente, um deles foram cogumelos contendo psilocibina crescendo perto do esterco de gado que ocupou as novas savanas e pastos desse momento. McKenna, referenciando a investigação de Roland L. Fisher, afirmou que a melhoria da acuidade visual foi um efeito da psilocibina em doses baixas, e supôs que esta teria conferido uma vantagem adaptativa. Ele também alegou que os efeitos de doses um pouco maiores, incluindo a excitação sexual, e, ainda maiores doses, alucinações, êxtase espiritual e glossolalia (Falar em uma língua previamente desconhecida pelo orador) deu vantagens evolutivas, ao nível da selecção natural, para os membros das tribos que faziam uso de cogumelos. Houve muitas mudanças provocadas pela introdução deste cogumelo psicoativo a dieta primata. Nomeadamente, uma maior coesão do grupo ou tribo, através de rituais xamânicos regulares, aumentando exponencialmente os comportamentos de cooperação dentro do grupo, tornando assim o grupo mais eficiente em ultrapassar os desafios impostos pelo seu meio natural.

McKenna diz, por exemplo, que a sinestesia (A diminuicão das fronteiras entre os sentidos) causada pela psilocibina levou ao desenvolvimento da linguagem falada: a capacidade de formar imagens na mente de outra pessoa através do uso de sons vocais.

Cerca de 12.000 anos atrás, mais mudanças climáticas removeram os cogumelos contendo psilocibina, da dieta humana. McKenna argumentou que o evento resultou num novo conjunto de profundas mudanças na nossa espécie, regredindo a humanidade para a anterior estrutura social, brutal e primata, que tinham sido modificadas e/ou reprimida por consumo freqüente de psilocibina.

sábado, 14 de novembro de 2009

Heartbeat

And now the world is asleep
How will you ever wake her up when she is deep in her dreams, wishing
And yet so many die
And still we think that it is all about us
It's all about you
You sold your soul to the evil and the lust
And the passion and the money and you
See the same ones die, people hunger for decades
Suffer under civilized armedrobbers, modern slaveholders

Can you feel my heart is beating
Can you see the pain you're causing
Can you feel my heart is beating
Can you see the pain you're causing

Blood blood blood...blood is rushing

Nneka - Nigeria

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Casamento Gay, Sim ou Sopas?



Passei pelo meu quiosque favorito, para beber um café antes de enfrentar a medonha repartição de finanças, para assuntos que aqui não são chamados, quando folheei o JN, e pumba! Casamento Gay! Outra vez!

Então o meu amigo Abílio, que eu respeito de sobremaneira, humana e intelectualmente, deu-me o melhor argumento contra a legalização do casamento gay que ouvi até agora (existem muitos, quase todos absurdos, na minha opinião). Há pouco legalizaram medidas para que pessoas casadas pudessem preencher o IRS de forma separada.

Pois se, para casais hetero, já rende mais esta medida, para quê os casais Gay casarem?

Numa sociedade puramente pragmática, este é um bom argumento.

Compete-me agora responder com o que acho ser o melhor argumento a favor da legalização do casamento gay (além de roubar o negócio a Espanha, ou acham que alguém espera pelo parlamento português?).

Podemos nós, cidadãos portugueses, usufruir de um direito básico, como é o direito ao casamento, de consciência tranquila, negado que é a outros cidadãos do nosso pais?

Existe Igualdade de Direitos, ou Não Existe Igualdade de Direitos.

No caso do Casamento, não existe igualdade de direitos.

Façam então o favor de corrigir esta situação.

Sim à Legalização do Casamento Gay.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

NÃO HÁ HISTÓRIA DE PORTUGAL SEM FAUSTO


Em homenagem a Fausto Bordalo Dias, grande génio da música popular portuguesa, que deu ás futuras gerações um acesso priviligiado à sua história, aquela que não se fala todos os dias. Que as gentes portuguesas se rebelem, uma vez mais, contra a arrogância e despotismo dos actuais senhores feudais.



O romance de Diogo Soares

Diogo Soares
O grande general
Chamado "o Galego"
O homem dos olhares fatais

Comanda sessenta mil homens
De terras estranhas
Vencendo e lutando
Por quem paga mais

Eficaz nos sermões
Insinuante pois
Ganhou a simpatia
De príncipes e samurais

Já é governador
Do reino de Pegu
Mais forte do que o rei
Mais rico por golpes mestrais

Naquela cidade
Vivia um mercador
De nome Mambogoá
De fortuna sem fim

E naquele dia
O dia das bodas
Casava uma filha
Com Manica Mandarim

Diogo Soares passou por ali
Ao saber da festa
Felicitou noivos e pais

E a noiva tão linda
Ofereceu-lhe um anel
Agradecendo a honra
Por gestos puros e sensuais

Então o galego
Em vez de guardar
O devido decoro
Prendeu-a e disse-lhe assim:

"Ó moça formosa
És minha, só minha
A ninguém pertences
A ninguém, senão a mim"

O pai Mambogoá
Ao ver pegar o bruto
Tão rijo na filha
Ouvindo este insulto de espanto

Levantou as mãos aos céus
Os joelhos em terra
No retrato da dor
Pedindo e implorando num pranto

"Eu peço-te Senhor
Por reverência a Deus
Que adoras concebido
No ventre sem mancha e pecado

Não tomes minha filha
Não leves meu tesouro
Que eu morro de paixão
Que eu morro tão abandonado

"Mas Diogo Soares
Mandou matar o noivo
Que chorava abraçado
À moça assustada
Tremendo

E a noiva estrangulou-se
Numa fita de seda
Antes que a possuísse
À força o sensual galego

A terra e os ares
Tremeram com os gritos
Do choro das mulheres
Tamanhos que metiam medo

E o pai Mambogoá
Pedindo pelas ruas
Justiça ao assassino
Acorda a cidade em sossego:

"Ó gentes Ó gentes
Saí como raios
Na ira das chuvas
Na ventania do açoite

E o fogo consuma
Seus últimos dias
E lhe despedace
As carnes no meio da noite

"Em menos de um credo
Numa grande gritaria
P'lo amor dos aflitos
Juntou-se ao velho o povo inteiro

Com tamanho furor
E sede de vingança
Arrastaram-no preso
Diogo Soares ao terreiro

E o povo a clamar
Que a sua veia seja
Tão vazia de sangue
De quanto está o inferno cheio

E subiu ao cadafalso
Cada degrau beijou
Murmurando baixinho
O nome de Jesus a meio

Seu filho Baltasar Soares
Que vinha de casa
O qual vendo assim
Levar seu pai

Lançou-se aos seus pés a chorar
E por largo tempo abraçados
No abraço dos mortais

"Senhor porque vos levam
Cruéis e vingativos
Senhor porque vos batem
E porque vos matam medonhos?"

"Pergunta-o aos meus pecados
Que eles to dirão
Que eu vou já de maneira
Que tudo me parece um sonho"

E foram tantas pedras
Sobre o padacente
Que este morreu bramindo
O rosário dos seus pecados

Ensopado na baba
Do ódio dos homens
Escuma animal
De todos os cães esfaimados

As crianças e os moços
Trouxeram seu corpo
Sem vida pelas ruas
Arrastado pela garganta


E a gente dava esmola
Oferecida aos meninos
Dava como se fosse
Uma obra muito pia e santa

Assim terminam os anais
Do grande general
Chamado "o Galego"
O homem dos olhares fatais.

Fausto (Por Este Rio Acima, 1982)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Um tempo como não houve outro...


Vivi um tempo como não houve outro... líderes humanistas gritaram a biliões de miseráveis do mundo, para que ajudassem algumas centenas de marajás multimilionários, das oceânicas dívidas que eles tinham criado, mas cujas consequências seriam pagas por todos, mesmo por quem não tinha para comprar um pacote de arroz ou milho.


E os marajás tiveram auxílio imediato... onde milhões de asiáticos e africanos desesperaram, décadas e décadas a fio, por umas migalhas tão raras... se fossem balas ou minas, tinham-nas no momento. A partir das fábricas dos mesmos marajás.


Um tempo como não houve outro...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Alguém já reparou...

Alguém já reparou como estão gigantescos os intervalos televisivos destinados à Publicidade?
Será um desesperado apelo ao consumo?
Será um sinal do eminente rebentar de um sistema, dito "mercado livre", cujas injecções de oceanos de moeda, do nosso dinheiro colectivo, e sem nossa autorização prévia, são a antítese dos seus pilares ideológicos centrais? Bem como um fútil sopro contra a tempestade que tantos previram, mas que ninguém desejou ou considerou possível, a aclamada "queda do capitalismo"?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Suicida custo de vida – as invasões barbaras do Euro


Passava eu por um muro, com as minhas compras do LIDL, quando li, no mesmo, “dia 12 retribui com ira suicida custo de vida”, a letras verdes garrafais, bem desgastadas pelas chuvas transmontanas.
Penso que dia 12 deveria ser dia de votos, há uns bons anos atrás (6, 7 anos, quiçá?).
E voltei, numa melancolia doentia, a relembrar a introdução do euro em Portugal. Como os preços subiram...
De quem foi a culpa? Dos grandes retalhistas? Das associações de comerciantes? Onde estava a DECO? Onde estava a Autoridade reguladora da concorrência? Onde estava a protecção do Estado aos seus cidadãos?
Terá sido as constantes crises, nacionais e além-mar (que hoje ninguém distingue umas de outras, parecendo mais um único abismo económico Português), cujos efeitos, aparentemente, se diluíram com um artificial e repentino aumento de custo de vida, dias a seguir á introdução definitiva e irreversível do euro?
E quem decidiu, por nós, a introdução do euro, e consequente extinção da nossa moeda independente? Os mesmo que decidiram por nós a nossa anexação á C.E.E., talvez...
Quiçá os mesmos que decidiram a nossa anexação à constituição europeia, o misterioso Tratado de Lisboa (que ninguém, que eu conheça, o compreende), tão flagelado pelos irlandeses (que levaram com ele em cima, referendo após referendo, até dizerem que sim). Já agora, porque razão nós, portugueses, não temos o mesmo direito que decidir, como fez a Irlanda. Não vivemos todos em democracia? Ou há Democracias e “democracias”?
Concidadãos, estes assuntos perturbam o meu caminho para o almoço. Acontece algo assim com vocês? Não desejam voltar a uma velha Democracia, onde o café voltasse ser 50 escudos?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

E quando o Facebook se revolta contra o Pingo Doce - vídeo


O novo reclame televisivo dos supermercados Pingo Doce motivou uma oposição do tipo viral no Facebook quando um utilizador da rede criou um grupo para gente que não gosta do anúncio. O promotor do grupo considerou o reclame perfeitamente desadequado do património da marca. Terá razão? O melhor é analisar o anúncio.
http://www.ionline.pt/conteudo/27579-e-quando-o-facebook-se-revolta-contra-o-pingo-doce---video
http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS_OPINION&id=391277


"A televisão, pela sua natureza, é a droga dominadora por excelência. O controle do conteúdo, a uniformidade do conteúdo e a repetição do conteúdo tornaram-na um instrumento inevitável de coerção, lavagem cerebral e manipulação. A televisão induz no espectador um estado de transe que é a pré-condição necessária à lavagem cerebral. À semelhança de todas as outras drogas e tecnologias, o carácter básico da televisão não pode ser modificado; a televisão não é mais reformável do que a tecnologia produtora de espingardas automáticas de assalto."

TERENCE MCKENNA

domingo, 25 de outubro de 2009

Sabias que o teu país está em guerra?











Sabias que o teu país está em guerra?
Em guerra com o Afeganistão, para que os nossos amos, as elites norte-americanas da indústria militar, não sejam vistos como a única superpotência de forças invasoras, especializada na guerra em território estrangeiro, no ataque em massa, de qualquer país “soberano” do nosso planeta.
Pretendem disfarçar o indisfarçável.
E os nossos governantes, socialistas ou sociais-democratas, atenderam com toda a submissão e eficiência, como nunca atenderam a nós, às nossas necessidades.
Lembras-te do grande papão vermelho, a U.R.S.S.?
Lembras-te qual foi o país que o papão invadiu na década de 80?
Achas que existem coincidências?
Como te sentes agora? Agora que sabes o destino dos teus impostos? Entre outras coisas, pagas para que os norte-americanos possam controlar o comércio de Ópio. E logo, o tráfico de Heroína. Como te sentes agora?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Da Importância da Cultura numa pequena vila como Mora



Lembro-me ainda como, já há uns bons anos atrás, meia dúzia de mancebos criaram uma associação para comprarem um aparelho de vídeo, podendo assim ver o “Rambo”, ou “O último Tango em Paris”, num honroso esforço de colectivização da cultura. Deu-se assim o início de uma associação que viria a organizar múltiplos intercâmbios com França e Alemanha, abrindo largos horizontes aos seus jovens, bem como operou cursos de informática, canoagem, fotografia e outros.

Fui muito feliz crescendo dentro de algumas destas iniciativas, e muitos jovens do Concelho de Mora devem a esta associação o serem as pessoas e os profissionais que hoje são. Como exemplo, temos o actual presidente da junta de freguesia de Mora, Luís Caramujo, de inquestionável valor. Um exemplo entre muitos.

Esta não é mais a realidade da vila de Mora.

Actualmente há o Fluviário de Mora, referência da cultura científica no Distrito de Évora. Mas está limitado a uma pequena área desta mesma cultura (a fauna dos rios), uma visita preenche as necessidades de quase todo o cidadão, e o preço da entrada não é nada convidativo nos tempos que correm.

Era desejável um vereador da cultura, ou um seu assistente, dentro da câmara municipal de Mora, que pegasse num carro, e partisse para Évora, ou Montemor, ou mesmo Lisboa, recrutando entre universidades, cooperativas de artistas, bandas musicais, grupos de teatro, ou de actividades circenses, projectos de interesse para a população em geral, acessíveis ao bolso dos mais fracos subsídios. Mas até hoje, não se viu tal. E a vila desespera á sua espera.

É inquestionável o valor de uma cultura laica e diversa no Alentejo. Não apenas para o desenvolvimento cultural e pessoal dos seus cidadãos, mas para o enriquecimento de um quotidiano cada vez mais opressor e pobre, de uma vida social que parece ter parado nos anos noventa do século passado. “Não se passa nada” parece ser uma opinião partilhada por quase todos.

Para não falar também da atracção extra que se ganha, com programas culturais diversos numa mesma noite, puxando população de outras freguesias e distritos para passar longo serão no concelho de Mora, gastando aí o seu dinheiro.

As ocasionais touradas ou exposições temáticas não chegam para preencher estes objectivos, já que o seu público têm muita oferta, e mais rica, em toda a freguesia alentejana ou ribatejana (caso das touradas), ou essas actividades visam pequenos grupos de interesses, atraindo assim pequenos grupos de pessoas (caso das exposições temáticas e concursos de pesca). Ainda assim, é de louvar as exposições. Só deveriam ser mais, com variados temas, mais regulares, e de presença constante, tornado a Cultura de Mora sempre presente.

Prima assim, pela sua diferença, quantidade e qualidade de eventos, a Sociedade de Instrução Musical Morense que, num relativo vazio de cultura, é cada vez mais o verdadeiro Centro Cultural do Concelho de Mora. Parece ser este o seu papel histórico.

Pelo que dou, aos seus membros, os meus parabéns. Que continuem o bom trabalho.

O Concelho agradece.

Miguel Eduardo Lopes

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

MUDAR O GOVERNO


O mestre Zen diria: se desejarem mudar o governo, não se foquem em mudar o governo, não chegarão a lado nenhum. Têm de mudar as corporações, porque o governo é apenas um fantoche das corporações.

Bem, se desejarem mudar as corporações terão de mudar os consumidores. É aí que tudo vai dar, a nós.

Nós somos os consumidores. Deixámos de ser cidadãos para passarmos a ser consumidores.

Somos nós que alimentamos as corporações que, por sua vez, alimentam os governos.
Portanto, somos nós que temos de mudar.

Então, uma vez que tenhamos descoberto que, em última análise, somos nós, que somos parte do problema, então poderemos, finalmente, ser parte da solução.


Yvon Chouinard, citação retirada do livro "A Arte do Poder" de Thich Nhat Hanh

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Alentejo espera por mim


O Alentejo espera por mim.


O Alentejo espera, para sempre irá esperar, até ser totalmente despido de árvores, animais, pessoas, vida.



Haverá um tempo que nem o Sr. engenheiro irá levar a amante desta estação ao seu monte alentejano, nem um campo de golfe será regado. Só então poderemos voltar.


Depois de chuparem tudo teremos um lindo deserto onde construir uma casa.



Nossos filhos crescerão como cactos, lacraus bem instruídos, que só farão anos em ano bissexto, quando chover em lua cheia de Agosto.


Durarão séculos, enquanto desaparecem as babilónias que se encostam aos mares.



Um dia, depois de todas as civilizações, abandonarão seus buracos no deserto, para ocupar a desumanizada costa, e aí se alimentarem de peixe e algas.


Só então começará a Música.



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É assim, meu amor, que na paisagem do teu corpo projecto futuros inauditos.


Profecias se deram por menos, tal como nunca faltou papel para novas bíblias.


Bíblias e bíblias de pára-quedas caindo sobre Africa. Antes fosse água, ou Internet, conforme a classe social.


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Évora é perfeita para discretos eremitas


Vivo os dias na ponta de um charuto. Tornei-me discreto eremita em Évora. O que é óptimo.

Évora é perfeita para discretos eremitas. O que é óptimo, por várias razões.

Temos uma toca, um buraco só nosso, para nos refugiar-mos como quem se escapa para a privacidade da sua própria mente.

E depois, quando precisamos, podemos passear sozinhos por aí. O que é óptimo. Sem dúvida alguma.

A cidade tem das melhores cores, faseadas pelas diferentes partes do dia, para caminhar sozinho.

Gosto particularmente daquela parte, fim de tardinha, quando o sol se despede, em que o céu se torna viva aguarela, recheado de cores quentes como o laranja ou o rosa, suavemente, sensualmente envolvidos em azuis e violetas, ora melancólicos, ora sonhadores.

E a luz entre as casas torna-se, ora ténue, suave, ora densa, brilhante, diria mesmo, quase palpável, ao alcance da nossa mão.

A cidade é tão boa para eremitas como eu que, em horas como estas, onde os graus centígrados pesam menos, encontram-se as ruas, dentro das muralhas, repletas de eremitas embriagados com sua íntima solidão e onírica contemplação de um céu de aguarela em constante processo criativo, tal fértil cópula de belos e saturninos azuis com laranjas e rosas de tão evidente paixão.

E tantos são, que quase sempre encontro algum que amo, entre sombras e passeios de granito, acabando-se tão frágil solidão para ambos, banhada como foi, por tão inesperado tsunami de emoções partilhadas, daquelas bem coloridas, que adoramos encontrar em nós e nos outros.

Aqui reside o belo paradoxo de tudo.

Embriagados pela nossa própria solidão, acabamos por descobrir que, por qualquer bem ou mal, nunca estamos verdadeiramente sós, havendo um abraço algures á nossa espera, cheio de cores e novidades.

Só temos de estar atentos, e, quiçá, fluir com a aguarela de cores que o céu nos oferece.

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Passei brilhantes horas sob o colchão cru, corpo contorcendo-se na ausência da metade de sua carne, caído na embriaguez do meu próprio suor.

Ao som de hallelujah ou aleluia, de Leonard Cohen, interpretado por Jeff Buckley, caiu finalmente uma faca sobre o meu coração, revelando no seu interior duas metades de uma lasciva laranja.

Ao rolarem para o chão, não pude deixar de reparar na bela exuberância de seus gomos expostos em tão clinica incisão.

Desconhecia possuir tal riqueza.

Aleluia

Desconhecia tal ouro, guardado nas memórias de nossos dois corpos em semblante sintonia com a pulsação do cosmos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

REVOLUÇÃO SALGADA

Existe algo de profundamente inspirador na areia destas praias, neste sol, neste sal.

Existe algo mágico no acto de um homem/mulher esticar uma toalha e um corpo perante um grande oceano.
Apenas uma toalha e um corpo.

Nada de televisões, crises económicas internacionais, Gripes Ás ou Zs numa cidade de outro continente, nenhum salvador, nenhum ditador, nenhum presidente dos EUA.
Nenhum crédito, nenhum débito a um banco em falência, nenhum plano económico, nenhuma comissão europeia, nenhuma prestação de um carro ou casa.

Apenas uma toalha e um corpo.
E todo o sal do Mediterrâneo ou Atlântico.

Nada poderia estar mais perto de Deus ou do Nirvana...

Abandonemos então nossas casas e empregos, subsídios e outras compensações sociais, para encher de bolachas e leite nossas mochilas de peregrinos, e estendamos nossas toalhas sobre as areias das praias, sob o sol, através do sal de nossas vidas e oceanos emocionais, abandonados na intensa luz branca que nos abraça, quando os nossos corpos se deitam em suas libertárias toalhas, ou mergulham em ondas do Oceano-deus, do nirvana-Solar.

Abandonai então a civilização de Betão.
Regressai ao intemporal paraíso das praias, de onde nunca deveríamos ter saído, para agora, finalmente, nossas almas regressarem a casa, ao todo celeste, ao colo do Paí.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Publicidade Anti-Fumador

Ontem, de regresso de Londres, um amigo meu trouxe um pacote de tabaco de enrolar, onde estava, PREVENTIVAMENTE, a fotografia de um cadáver, e uma legenda "os fumadores morrem jovens".

Certo. Tudo muito bem, há que trabalhar a consciência do zé povinho. Acordá-lo para as consequências dos seus actos...

Mas, já agora, gostava que também podéssemos dispôr de fotografias de criancinhas mortas no Iraque ou Afeganistão, ou sem pernas e sem braços, em cada estação gasolineira deste grande país, que é o nosso.

Imaginem... Estou a entrar na auto-estrada e carrego no pedal, só para sentir a máquina que está nas minhas mãos. E lá vai uma criancinha...

Estou eu no meu passeio domingueiro, fotografando a paisagem com os meus globos oculares, e passa o zé litro com o seu porche de 1962, deixando-me com má imagem perante o meu Z3, novinho em folha... Logo, tenho que dar uma lição a esse presunçoso e à sua lata restaurada, e subo a velocidade para 200 KM hora, em apenas 15 segundos.
E prontos, lá se vai uma turma do infantário, na região de etnia curda, no norte do Iraque.

É assim a vida. E as pessoas precisam estar informadas.
Pelo menos, ao fumar, cada um mata-se apenas a si próprio. O que eu acho uma actividade muito mais autónoma, independente. Basta fumar ao ar livre. Que cada um se mate apenas a si próprio, é o que eu desejo para este novo século...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O meu Processo de Bolonha

Não estou nada feliz com o processo de Bolonha. Nada mesmo. Há meses atrás, procurando trabalho numa instituição, disseram-me que tinha sorte, pois tinha uma licenciatura de 5 anos, logo tinha preferência em relação aos colegas com a nova licenciatura de Bolonha. Não estranhei tal facto. Tirei um curso de 5 anos, onde foi incluído um estágio de 9 meses numa instituição real, de pessoas e necessidades reais. Não tinha ordenado, mas o trabalho era bem a sério.


Hoje tirava o mesmo curso em 3 anos. Sem muitas das cadeiras e, principalmente, sem o estágio. Assim acontece com a maioria dos actuais cursos superiores. E, se desejam os adicionais 2 anos de curso que lhes dará direito ao grau de mestre, os alunos e suas famílias verão o valor das propinas quadruplicarem, ou pior, conforme o curso. O resultado é óbvio. Só famílias de classe média alta podem suportar tal esforço, para um ou dois filhos, e não sem sua dose de sacrifício.

Abaixo destes, todos os outros desistem, ou endividam-se em créditos bancários, o que até é bastante frequente no nosso país. Considerando a actual empregabilidade da maior parte dos licenciados (pode encontrá-los em boa parte das caixas de supermercado, ou como empregados de mesa na pizzaria do seu centro comercial), a escolha para a restante classe média torna-se a cada dia mais fácil. Trabalhar sem uma formação específica, em seja o que for. Mas existem alternativas, é verdade.


E consideremos a formação dos nossos futuros mestres. Dois anos para completarem várias cadeiras e um seminário, uma gigantesca investigação científica, tantas vezes sem o necessário apoio do professor\orientador, que têm tantos outros projectos, mestrandos e responsabilidades. Um trabalho que, em alguns casos, alcança as mil páginas, quase metade delas com estudos estatísticos. No final, os avaliadores só irão dar uma olhadela geral, habituados que estão a estas lides, e se focarão na defesa de trabalho, uma prova oral. E, na generalidade dos casos, nenhum cidadão do país real alguma vez lucrará com tal odisseia mestral, excepto as lojas de fotocópias, e os departamentos das universidades que ficam com uma infinita fonte de folhas de rascunho. E o actual Governo, é claro, que melhor ocultará o seu desinvestimento nas universidades com as mega-propinas associadas à obtenção do grau de mestre.

Não estou nada feliz com o processo de Bolonha.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Revolução Salgada

Existe algo de profundamente inspirador na areia destas praias, neste sol, neste sal.

Existe algo mágico no acto de um homem/mulher esticar uma toalha e um corpo perante um grande oceano.
Apenas uma toalha e um corpo.

Nada de televisões, crises económicas internacionais, Gripes Ás ou Zs numa cidade de outro continente, nenhum salvador, nenhum ditador, nenhum presidente dos EUA.
Nenhum crédito, nenhum débito a um banco em falência, nenhum plano económico, nenhuma comissão europeia, nenhuma prestação de um carro ou casa.

Apenas uma toalha e um corpo.
E todo o sal do Mediterrâneo ou Atlântico.

Nada poderia estar mais perto de Deus ou do Nirvana...

Abandonemos então nossas casas e empregos, subsídios e outras compensações sociais, para encher de bolachas e leite nossas mochilas de peregrinos, e estendamos nossas toalhas sobre as areias das praias, sob o sol, através do sal de nossas vidas e oceanos emocionais, abandonados na intensa luz branca que nos abraça, quando os nossos corpos se deitam em suas libertárias toalhas, ou mergulham em ondas do Oceano-deus, do nirvana-Solar.

Abandonai então a civilização de Betão.
Regressai ao intemporal paraíso das praias, de onde nunca deveríamos ter saído, para agora, finalmente, nossas almas regressarem a casa, ao todo celeste, ao colo do Paí.

Sou português

Sou português...32 anos, recém licenciado, professor nas novas oportunidades, recibos verdes, 2 a 3 meses de atraso para receber um ordenado. Trabalho para o Estado, mas ele não quer reconhecer a minha existência. E eu gostava que ele não existisse. Talvez o inicio de uma boa amizade.

Quase que me faz rir sempre que a TV fala da gripe suína, ou da importãncia e visibilidade que Portugal ganha, ao enviar soldados para combater no Afeganistão, país tão histórica e geograficamente afastado de nós, e em plena era Obama... Sou português