quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Escravatura New Age


Escravos
No final deste texto poderão encontrar uma denúncia.
O subsídio de desemprego é uma das partes do salário que o trabalhador desconta enquanto está empregado, para além dos impostos e restantes contribuições que paga ao Estado. É devolvido mais tarde, em situações de desemprego, doença, invalidez, etc. Esta contribuição mensal que o trabalhador faz para a Segurança Social não é a fundo perdido, é para garantir protecção sempre que há falta ou diminuição de meios de subsistência (Artigo 59.º, 1, alínea e, e Artigo 63.º, 3 – da Constituição da República Portuguesa). Até aqui tudo bem.
No entanto, sob o chapéu do “trabalho socialmente necessário”, o IEFP está neste momento a exigir a trabalhadores desempregados uma compensação pela “ajuda” que o Estado lhes está a prestar nesta… altura difícil. Que a sociedade precisa deles e, portanto, têm de trabalhar. Quase de borla.
Ou seja, aquela porção do salário do trabalhador que é entregue mais tarde e que é igualmente taxada via impostos (portanto, ao fim e ao cabo, pagam-se impostos duas vezes, para além dos cortes aos subsídios), é dada em troca, com mais um bónus – que de bónus não tem nada – se o trabalhador desempregado desempenhar uma determinada função na Administração Pública. E o desempregado não pode recusar.
Funciona assim: chega uma cartinha a casa a dizer que é necessário ir a uma entrevista. Na carta diz também que, se não comparecer, a pessoa poderá perder o subsídio. É apresentado um contrato de 12 meses, 40h semanais, 8h/dia. Sem férias, sem faltas injustificadas. O desempregado, obrigado a aceitar, passa a receber uma bolsa mensal junto com o subsídio.
Esta bolsa mensal que:
  • No caso de se tratar de um desempregado a receber o subsídio de desemprego, corresponde a 20% desse mesmo subsídio. Acresce o subsídio de refeição (4,27€, normalmente) e o valor do transporte. Tenhamos por base o valor médio do subsídio de desemprego, que é 345€, e assumamos que a pessoa gasta 35€ em transporte, o valor do passe em Lisboa. No fim do mês, esta bolsa é de 195,47€.
  • No caso de se tratar de um desempregado a receber o subsídio social subsequente, corresponde a 20% do IAS (Indexante dos Apoios Sociais, que é neste momento 419,22€[1]), ou seja, 83,84€/mês, mais 4,27€/dia de subsídio de refeição, e o valor do transporte. Supondo que o passe é 35€, dá a módica quantia de 208,51€.
Isto, meus amigos, não é um salário em troca de uma função. É exploração pura e dura. 200€/mês significa que cada hora vale cerca de 1,25€. Não é um contrato do desempregado com o Estado. É, isso sim, uma violação de um contrato do Estado com o desempregado. Aquele contrato em que o Estado se compromete a guardar, neste caso via Segurança Social, uma porção do salário do trabalhador para eventualidades que possam surgir. Diz que até está na CRP e tudo.
O que aqui se está a fazer, camuflado de “socialmente necessário” e deixando de parte o “justamente remunerado”, é baixar o preço da força de trabalho. O mais caricato é que estão a utilizar o próprio Estado para reduzir esse mesmo preço. Estão a preencher-se postos de trabalho anteriormente ocupados por trabalhadores do Estado – com um salário (dificilmente) correspondente à função – com desempregados – a um salário de esmola. Portanto: o capitalismo põe os trabalhadores a subsidiar a sua própria exploração, recorrendo à usurpação dos mecanismos do Estado que um dia foram criados para facilitar a vida dos trabalhadores. Dá um jeitaço dos diabos, poupam-se uns valentes cobres para pagar PPPs e dívidas de bancos, e ainda se enche a boca de baboseiras em jeito de propaganda como «a taxa de desemprego está a descer».
Querem que diga de outra forma e numa só palavra que isto é? Escravatura. Só que à século XXI. É uma armadilha mais fina e requintada, muito mais sofisticada, de nome capitalismo, cuja natureza competitiva privilegia sempre quem nós sabemos em detrimentode quem nós também sabemos. É tão selvagem e violenta que o novo escravo tem não só de assumir a manutenção do seu corpo (porque este não pertence a outrem, como na escravatura) como também não tem a “protecção do amo” (porque não trabalha a troco dela, como no feudalismo). O novo escravo paga para se sustentar. E paga, literalmente, para trabalhar. É o proletário “livre”, mas escravo, do século XXI.
[1] Consta neste documento do Diário da República.
Denúncia
Exmos Srs. 
No seguimento de várias noticias publicadas durante a semana,  sobre desemprego e desempregados,  anexo uma exposição sobre o assunto do qual ninguém fala, a exploração dos desempregados por parte da administração publica.
Após leitura da noticia publicada no DN de 30-10-2013, sobre utentes que pedem baixas falsas para manter o subsídio e recusar emprego, fiquei indignada, e penso que a jornalista do artigo não deve ter falado com os desempregados para tentar perceber o que se passa.  Como desempregada desde 01/07/2012, gostava de esclarecer o seguinte:
Enquanto cidadã activa no mercado de trabalho contribuí com os meus impostos, tanto mais que recebo a prestação mensal de subsidio de desemprego.  Estando nesta situação tenho deveres para com o IEFP, nomeadamente apresentações quinzenais, fazer 1 prova de procura de emprego por semana (4 mensais), mensagens que enviam para entrarmos em contacto com empresas, sempre com prazos, caso contrario, nos termos da lei XXXXX, ser-nos-à retirado o subsidio, ou seja,  todo o tipo de comunicações que recebo (e-mail, carta), entendo sempre como uma ameaça que no caso de eu falhar e não tiver justificações válidas para o IEFP e para a Segurança Social, cortam o subsidio de desemprego.
Como desempregada, sinto que a sociedade olha para esta classe como os “inúteis” que não querem trabalhar, apenas receber dinheiro.  Desta forma o IEFP e a Administração Publica que até  refere que tem trabalhadores em excesso, descobriram como pôr estes “inúteis” a trabalhar celebrando contratos emprego-inserção, também chamado socialmente necessário.
Somos 1º convocados para o IEFP que nos “informa”  (obrigando, se não lá está outra vez o subsidio a ser cortado), que temos de ir a entrevista, também desnecessária porque também somos avisados que não podemos negar, dar a entender que não estamos interessados, que temos problemas familiares, ou seja nada de desculpas, é aceitar e nada mais.
As condições do contrato de trabalho são para explorar o  desempregado.  Trata-se de um contrato de 12 meses, e realizar-se-á de acordo com o horário que legal e convencionalmente está em vigor para o setor de atividade onde se insere o projecto (sempre na administração publica), e conforme acordado entre as partes, (sendo o 2 outorgante sempre obrigado a,  e não a acordar com),  no período normal de trabalho diário e semanal de 8 horas e 40 horas respectivamente.  Para estas 40 horas de trabalho semanal recebemos um bolsa mensal, de montante correspondente a 20% do IAS (Indexante dos Apoios Sociais) que é de 419,22€ e que irá dar um valor mensal de 83,84€, subsidio de refeição 4,27/dia, e o transporte.  No meu caso trabalho 40 horas semanais para receber no final do mês um ordenado de 217,05€.  De acordo com estes senhores do IEFP e das entidades publicas onde somos colocados trata-se um complemento ao subsidio, para o qual eu contribuí e que é meu de direito. Além da carga horária, somos também informados no IEFP que perdemos o direito aos 30 dias anuais, não se tratam de férias, nem deixamos de procurar trabalho,  é apenas uma altura em que deixamos de ter a obrigação de apresentações quinzenais, e por consequência, temos de cumprir um contrato de 12 meses sem férias.  Aqui julgo que, de acordo com a lei ao fim de 6 meses deveria der direito a 2 dias de férias por cada mês de trabalho, não cumpro 2 ou 3 horas de trabalho não é um part-time são 40 horas semanais.  Não sei, se aqui não há uma ilegalidade. Também as faltas que tiver de dar terão de ser sempre muito justificadas temos 1 dia por semana (4 mensais) para procura de emprego, justificadíssimos com provas de ida ao CE, carimbos das empresas contactadas (o que raramente se consegue), ou seja não temos férias e não temos faltas injustificadas,  estamos “amarrados”, caso contrario para além da suspensão do contrato lá aparece outra vez o receio da perda do subsidio.
Também quem estiver em formação terá de desistir,  mesmo que diga que quer continuar se a mesma não for muito superior a 300 horas não dá.  Como podem verificar, face a uma situação destas ninguém vem trabalhar de animo leve, e estamos todos revoltados com a situação, também é natural que haja quem prefira justificar com atestado médico, porque é de ficar mesmo louco.  Também deveriam perguntar ao sr. Dr. se estaria interessado em cumprir uma carga horária destas, por meia duzia de €, pois com ele é ao contrario, a meia duzia de horas rende varios €€.  Compreendo que haja situações em que estejam a trabalhar e a receber o subsidio ilegalmente, mas não podem generalizar, por uma situação julgam todos os outros.Com certeza que se as porpostas fossem de 12  meses, com ordenados e todos os outros direitos isto não se verificava.
Também aos desempregados que outrora foram contribuintes, é só exigencias, e para que recebe subsidios de reinserção e outros nada se exige, e pelo que ouvi recentemente se tiverem de cumprir com algum tipo de trabalho será apenas de 15 horas semanais.  Onde está a justiça desta situação, a maior parte nunca contribuiu, nunca trabalhou e a quem contribuiu exigem 40 horas, ao preço da chuva.
Ontem 31/10/2013, surgiram noticias no Económico, de que o desemprego tinha baixado em Setembro (maior baixa desde 2008).  Grande mentira.  É  claro que com esta exploração e retirando estas pessoas das estatistica a coisa melhora,  e o que fazem aos milhares de portugueses que ainda estão desempregados e não recebem subsidio, tambem são retirados desta estatística, certo? 
No seguimento desta notícia o ministro da segurança social vem dizer que esta descida dá esperança e confiança na contratação, como?  Só no ministério deste Sr. estão centenas de desempregados a cumprirem os tais 12 meses de trabalho socialmente necessário 40 horas semanais ao preço de 83,00€, é completamente excluída a hipotese de contratação. Como é que vai promover medidas activas de emprego, para promover a contratação, se não contratam ninguém? Têm trabalhadores a mais e contratam (exploram) os desempregados?
Acho muito estranho, ou a comunicação social sabe realmente o que se passa e não fala, assim como os sindicatos está tudo muito calado, ninguém  abre a boca para falar destainjustica, ao escreverem noticias sobre desempregados, poderiam investigar mais as condições desta classe, que não se esqueçam contribuiu, para o subsidio, não era um parasita da sociedade, investiguem melhor.
Para além disto tb me foi dito que que o transporte é de apenas 35€ Quem vem de mais longe e paga  mais de transportes o diferencial será que é da conta do desempregado que ja tem o subsidio todo contado ao centavo???. como é isto possivel, o contrato refere o pagamento das despesas de  transporte entre a residencia habitual e o local de atividade, não refere até 35€, ainda não entendi esta parte.

25 de Novembro de 1975: um dia final que não foi inteiro nem limpo


Alguns historiadores, e certamente a maioria da população, consideram que o regime democrático-representativo tem origem na revolução portuguesa de 1974-1975. Esta visão confunde, cremos, aquilo que é a revolução com a contra-revolução, dois momentos distintos de um mesmo processo histórico. Esta visão omite que existe um período de regime distinto entre o fim da ditadura – a 25 de Abril de 1974 – e o início do regime democrático, cuja construção se inicia a 25 de Novembro de 1975. Trata-se de um período marcado por aquilo que se designa historicamente como formas de democracia directa ou como a existência de um duplo poder, um poder paralelo ao Estado assinalado pelo protagonismo dos trabalhadores, diversos sectores/fracções desta classe social. Confesso que acho o equívoco, não para o senso comum, mas entre historiadores, pesado. Porque ele confunde formas de Estado, Regime e Governo.
Houve vários Governos em Portugal desde sempre. O Estado foi sempre, mesmo em crise, um Estado capitalista (nunca houve um Estado Socialista em Portugal mas um Estado em crise marcado pela existência de poderes paralelos, em 1974-1975). Mas houve vários regimes dentro do Estado: ditadura, os regimes que perduraram durante a revolução, o regime democrático-representativo.
Está por discutir, e não o fazemos aqui, qual a natureza dos regimes, se é que houve mais do que um, durante o biénio 1974-1975. Teria sido dominante um regime kerenskista durante este biénio, por alusão ao regime de Kerensky depois de Fevereiro de 1917 na Rússia? Há um regime semi bonapartista depois de 11 de Março de 1975, primeiro pressionado pelo PCP (Documento Guia Povo-MFA) e depois pelo PS e a direita (IV Governo)?
Independentemente dos regimes que vigoraram no biénio 1974-1975, a revolução tinha um curso, passo a tautologia, influenciado e influenciante dos regimes. Mas ainda assim um curso independente marcado pelos organismos de duplo poder. Neste sentido, compreende-se que é reducionista considerar que a democracia é filha da revolução. A democracia-directa é filha da revolução, a democracia representativa é filha da contra revolução.
Muitas vezes esta expressão é de imediato alvo de críticas que consideram que ela acarreta mais uma visão ideológica do que histórica. É uma pressão injusta porque a outra visão, que omite ou desvaloriza a existência de uma situação de duplo poder, é muito mais alvo da pressão ideológica de um país que não ainda fez contas – e por isso tem mais dificuldades em fazer história – com um estranho passado:
1) Um passado em que os mesmos militares que fizeram uma guerra terrível contra povos indefesos em África, alguns deles, corajosamente, derrubaram a ditadura a 25 de Abril de 1975.
2) Um país onde muitos destes militares (Grupo dos 9) que derrubaram a ditadura se juntaram numa ampla frente para pôr fim ao duplo poder, à revolução, num golpe de Estado a 25 Novembro de 1975, que termina com a prisão em massa dos militares afectos às perspectivas revolucionárias que pugnavam por um deslocamento do Estado e não só do regime (a maioria naquilo que se chamou então teorias «terceiro-mundistas»).
3) Um país onde a democracia liberal encaixou os Partidos que são a constituinte do regime desde então, num amplo pacto social, que implicou desmantelar a origem da pressão para o deslocamento do Estado, isto é, a dualidade de poderes nos lugares de trabalho (comissões de trabalhadores), no espaço de moradia, na administração local e reprodução da força de trabalho (comissões de moradores) e finalmente, a partir de 1975, aquilo que Mário Soares designou como a «sovietização do regime», isto é, a dualidade de poderes emergente nas Forças Armadas.
4) É ainda uma memória que pesa porque o Partido que teve um papel heróico contra a ditadura – o PCP – aceitou não resistir ao 25 de Novembro assumindo publicamente, pela mão do seu líder de então, Álvaro Cunhal, que a esquerda militar se tinha tornado um fardo para o PCP porque a sua actuação punha em causa o equilíbrio de forças com os 9 e os acordos de coexistência pacífica entre os EUA e a URSS.
Foi a partir de 25 de Novembro de 1975 que se inicia um novo regime – paulatinamente é verdade, uma vez que a revolução leva mais de 10 anos a ser derrotada e a força de trabalho flexibilizada (a partir de 1986-89), a contra-reforma agrária a ser feita bem como a progressiva erosão do Estado Social com as privatizações. Mas foi nesta data que se dá o retorno à disciplinarização da produção para a acumulação de capital, aliás reconhecida publicamente no discurso do chefe militar do golpe, Ramalho Eanes, nas celebrações do segundo aniversário do 25 de Novembro de 1975.
Mas o papel dos historiadores não é fazer a história da memória nem arrumar a escrita da história na gestão das relações de forças sociais do momento.
Existe ainda hoje uma intensa polémica à volta do que foi o 25 de Novembro – e há dados que ainda não estão totalmente esclarecidos – porém é indiscutível que esta data marca o início do fim da revolução e a consolidação daquilo que António de Sousa Franco, insuspeito apoiante do PSD, economista e cientista social, chamou a «contra revolução democrática» e que, fruto da força ideológica dos vencedores é hoje apelidado de «normalização democrática».
Há porém algo que ninguém pode questionar. Independentemente das tendências bonapartistas levadas a cabo pelo PCP no IV Governo e exactamente nas mesmas tendências dominantes no VI Governo, liderado pelo PS (o V Governo a contrario do veiculado é dos mais moderados nas medidas, e instáveis), ambos reflectindo uma acirrada disputa pelo Estado, estava em curso um processo revolucionário. Estava em curso a maior revolução da história da Europa do pós guerra e uma das mais belas do século XX, belas é mesmo o termo, em que o Estado tinha que negociar sistematicamente com organismos de duplo poder (organizados de facto ou não, até maio de 1975, e a partir daí coordenados regional ou sectorialmente).
Historicamente existem várias formas de revoluções e várias de contra-revolução. Da mesma forma que uma revolução é um processo histórico que não se resume a um golpe militar, uma quartelada, a contra-revolução não é um processo histórico que possa ser resumido a um golpe violento que instaura uma ditadura. Na verdade nasce a contrario do exemplo português, e seguindo o sucesso de Espanha desse ponto de vista, um laboratório de processos contra-revolucionários que nada têm a ver com o modelo Chileno (um golpe contra revolucionário feito sob as botas de uma ditadura militar). Este modelo «pacífico» de contra-revolução (hoje enquadrado pelo conceito teleológico de «transições para a democracia») será adoptado pelos EUA para  sua política externa, a célebre teoria Carter –e aplicado depois nas ditaduras latino-americanas. Um modelo que se centra na ideia de pôr fim às revoluções ou evitá-las criando uma base social eleitoral, no quadro do regime democrático-representativo, isto é, uma transição para uma democracia liberal, que evite a ruptura revolucionária.
Em 25 de Novembro de 1975 não começou um país mítico de sonho, de igualdade e justiça, alicerçado num Pacto Social duradouro. Começou o fim de um sonho, de gentes pobres, quantas analfabetas, estudantes, intelectuais, trabalhadores de diversos sectores que não acreditavam só utopicamente numa sociedade mais igual, acreditavam, e essa é a história da Revolução de Abril, que podiam ser eles a fazê-la, a construi-la, em vez de delegar nos outros esse poder.

Agora, nós, os cidadãos, somos a ameaça

CGTP: SIS não avisou PSP para possibilidade de invasão dos ministérios


Na sequência das ocupações de terça-feira à tarde, a PSP decidiu reforçar a segurança junto dos ministérios. O DN cita fonte policial que diz que terá havido uma falha de previsão do SIS.
O Serviço de Informações de Segurança em momento algum avisou a PSP para a possibilidade de invasão de ministérios.
O Diário de Notícias conta que nas avaliações de ameaças relacionadas com protestos, feitas pelo SIS e que depois são enviadas à polícia, não há qualquer referência, por isso as autoridades foram apanhadas de surpresa com a ação dos sindicalistas.
Fontes da PSP, citadas pelo DN, não escondem o mau-estar entre os dois organismos e interrogam-se mesmo sobre aquilo que consideram uma falha do SIS na antecipação deste tipo de iniciativa.
Ao jornal, um antigo elemento das secretas contrapõe e diz que seria impensável o serviço ter espiões no núcelo duro da CGTP.
Ainda assim reconhece que as avaliações de agora em diante terão de conter novas informações sobre os riscos em manifestações.
O DN revela, ainda, que depois da invasão de quatro ministérios, durante a tarde de ontem, o comando da PSP de Lisboa destacou cerca de 300 elementos das equipas de Intervenção Rápida para reforçar a segurança dos 13 ministérios.
Cada um será vigiado por 20 polícias que estão treinados para um nível de incidentes com potencial violento. Um reforço que é para manter até uma nova e exaustiva avaliação do SIS às ameaças que podem surgir em sequência de acções de protesto.

sábado, 2 de novembro de 2013

A Contra-Revolução de 19-26 de Outubro de 2013


Acabaram as cançõesA revolução de 19-26 não se consolidou, nem com banda sonora (a música está proibida), nem com a versão 2.0 (a tecnologia suspensa), nem com aconfluência dos rios (que secaram). Nas ruas, sobra o desânimo. Sindicatos, movimentos sociais, os mais diversificados grupos políticos, passaram à clandestinidade. Não é provável que de lá saiam em massa antes da efeméride do próximo 25 de Abril, curiosamente no seu 40º aniversário. Antes disso apenas a desmoralização, mais ou menos organizada, o preço vil dos erros, dos pecados e da capitulação, ainda que em alguns casos, involuntária. Na Assembleia da República já não resta ninguém à esquerda e da varanda já nada se exibe com estufo, fulgor, timbre ou veleidade. A direita, recuperada sem sequer ter que accionar a brigada Macedo ou radicalizar por via peticionária, assistiu na arquibancada ao descalabro esquerdista, e retomou o poder com grande facilidade. Os insubmissos desertaram ou estão dentro de quatro paredes a discutir os avanços e recuos de revoluções longínquas.  Os poucos que não recuam e permanecem fiéis ao projecto emancipatório são manifestamente incapazes de levar o PREC avante sozinhos. A reforma agrária cessa e os campos, antes produtivos, regressam aos caçadores de coutadas e às urtigas. O Labrincha, que contra todo o cepticismo se manteve inconformista, foi apesar de tudo para o exílio. Tenta o Equador, fracassada a Guatemala, mas também não consegue. Safa-se no Canadá com a ajuda do Aleixo, que à última da hora soube escolher o lado certo da força. A Catarina foi cooptada pelo Ministério para a Igualdade de Género e convenceu o que restava do Bloco de que nada está perdido. Constituem-se milícias contra os piropeiros. O Galamba junta-se, já com o pénis metido na albarda, e o Garcia, com a sua turba, participa na revolução a partir das Águas Livres ou de Damasco. Os autonomistas tomaram um casebre para lá de Montesinho e são entretanto legalizados. Por lá permanecem, porém reféns só de si próprios. Lá fora, o que se passa, não interessa. Fizeram “o socialismo” só para eles mas diga-se em abono, fizeram-no em nome dos outros. A CGTP foi integrada no Ministério do Trabalho e, meia volta, é chamada a fazer uma perninha na Junta Autónoma das Estradas, evidentemente restaurada. Sócrates é o escolhido para liderar o período de transição democrática, ladeado pelo Soares dos Santos, no neo-COPCON (Comando Operacional dos Contra-Revolucionários). A ordem volta e com ela o BPN, que salda a dívida financiando as reformas. Rapidamente se encontra uma parte qualquer do povo que aplaude. Dizem as más línguas que foi recrutado em Oeiras, na Lapa e em Santa Comba. Os insurrectos que não se rendem são fuzilados às portas de Belém, com o Cavaco, reposto, a ser o homem escolhido para carrasco. Tudo jaz. Os mercados recuperam a confiança e os investidores perdem o medo. A instabilidade limita-se ao Benfica. Os bêbados andam sóbrios e os sonhadores acordados. Reina a obediência e até o BE começou de novo. Da revolução de 19-26 já só sobram as memórias, compiladas, na clandestinidade, pelo 5jours.net, alojado, por tradição, em França e na Argélia. Nada funciona a não ser as instituições e a polícia. As prisões rebentam pelas costuras com os revoltosos que foram incapazes de escapar às garras do velho Estado. O santuário de Fátima muda-se para São Bento, uma vez que até nome de santo tinha, e os feriados religiosos são reinstaurados. No novo regime não há parlamento. Governa-se a partir da maçonaria, que volta a reunir os conselhos de administração mais poderosos. O amor livre é proibido, tal como o isqueiro. Na rua, saias, só abaixo do joelho. Nas casas, fumar, nem mesmo às escondidas. Cão, só se for Zico. E gatos, só se for para tratar dos ratos que teimam em roubar a lavoura. As toupeiras, por medo de contágio, são  exterminadas. O sexo conjugal é limitado e qualquer abuso severamente castigado. O Social, do Estado, é enterrado, e todo o dinheiro dos contribuintes vai por inteiro para que os empreendedores treinem o jeito no mercado livre. Os hospitais públicos entregues à Santa Casa, entretanto elevada a Ministério da Caridadezinha. O Banco Alimentar contra Fome lá se dissolve e ambos promovem a boda entre a Jonet e o Santana. Na ceia, claro, comem-se bifes. O ambiente é de tal modo propício que até o Carrilho e a Bárbara se entendem. A Economia legaliza a usura. Os agiotas são credenciados. O FMI abre balcões no Chiado e no Rossio os credores vêem erguer uma estátua em sua homenagem. O Henrique Raposo ressuscita e como chefe de qualquer merda afecta ao partido do governo, propõe e aprova o rebaptismo da Ponte 25 de Abril para Ponte Arménio Carlos. A Pimentel aplaude. Os saudosistas, resignados, também se juntam. De Loures regressa o Bernardino, sob nova chuva de aplausos. Em Peniche, os revoltosos reorganizam-se, olhando ao longe as ondas de Mcnamara e os calcanhares luxuriantes das nazarenas. Lembram, nostálgicos, o tempo em que se atiravam ovos à cara do Barroso. Até o tipo que outrora gritava, confiante e eufórico, apenas escreve, sem réstia de alento, num lençol velho de um Palácio:  “… ACABARAM AS CANÇÕES.”
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