quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ÍNDIOS GUARANI-KAIOWÁ ANUNCIAM MORTE COLETIVA APÓS ORDENS DE DESPEJO




Após receberem cinco ordens de despejo, os índios Guarani Kaiowá da terra Yvy Katu, em Japorã – MS, escreveram uma carta nesta semana anunciando que não sairão de suas terras e que, portanto, cientes que o Estado Brasileiro está tomando a decisão de priorizar o agronegócio, estão iniciando um ritual de preparação para a morte. Na carta, eles pedem que sejam enterrados em sua terra e que o Estado se responsabilize em cuidar das crianças e idosos que sobreviverem. Pedem ainda que todxs acompanhem o genocídio que irá acontecer, já que, diante de vários decretos de expulsão de suas terras, o Estado brasileiro está fazendo uma escolha de MATAR mais de 4.000 indígenas.




*Decisão definitiva de 5.000 indígenas Guarani e Kaiowá para Governo,
Hoje no dia 12 de dezembro de 2013, nós 5.000 mil indígenas Guarani e Kaiowá do TEKOHA YVY KATU recebemos notícia de mais uma ameaça de morte coletiva, é a ordem de violência contra nós e despejo expedida pela Justiça Federal do Tribunal Regional de São Paulo-S.P.
Assim, claramente a justiça brasileira vai matar todos nós Guarani e Kaiowá. Mais uma ordem de despejo da Justiça Federal deixa evidente para nós que a Justiça do Brasil está autorizando o extermínio Guarani e Kaiowá, as violências, morte coletiva, sobretudo extinção e dizimação Guarani e Kaiowá do Brasil.
Entendemos que em 10 anos, a Justiça Federal do Brasil já decretou várias vezes a nossa expulsão de nossa terra YVY KATU que significa que a Justiça do Brasil está mandando matar todos nós índios aqui no Yvy Katu. Já faz dois meses que retornamos comunicar à Justiça Federal e ao Governo Federal que nós comunidades voltamos a reocupar o nosso tekoha YVY KATU e recomeçamos morar no pedaço de nossa terra.
Avisamos também que não vamos sair mais de nossa terra YVY KATU, aqui morreremos todos juntos, aqui queremos ser enterrados todos. Essa é a nossa decisão definitiva que não mudamos nossa decisão. Já enviamos e reenviamos várias vezes ao Governo Federal e ao Ministro da Justiça, à Presidenta Dilma, ao Ministério Público Federal, ao Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Hoje 12/12/2013, mais uma vez, encaminhamos a nossa decisão definitiva à Presidenta Dilma e ao Presidente do Conselho Nacional da Justiça e do Supremo Tribunal Federal para entender e atender os nossos últimos pedidos. Demandamos às autoridades federais supremas do Brasil as seguintes. Estamos reunidos 4.000 mil Guarani e Kaiowá aqui no tekoha YVY KATU para resistir à ordem de despejo, a nossa decisão é lutar até morte pela nossa terra YVY KATU, nem depois de nossa morte não vamos sair daqui do YVY KATU.
Pedimos ao Governo Dilma e Presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa para mandar somente enterrar coletivamente todos nós aqui no tekoha YVY KATU. Nem vivos e nem morto iremos sair daqui de nossa terra antiga. Com vida ainda, antecipamos os nossos pedimos à Justiça, esse nosso direito de ser sepultado ou enterrado aqui no YVY KATU, esse pedido exigimos à Justiça do Brasil.
Solicitamos ainda à presidenta Dilma, à Justiça Federal que decretou a nossa expulsão e a morte coletiva para assumir a responsabilidade de amparar e ajudar as crianças, mulheres e idosos (as) sobreviventes aqui no YVY KATU que certamente vão ficar sem pai e sem mãe após a execução do despejo pela força policial.
Uma vez que a Justiça Federal de Navirai-MS em novembro, já determinou o uso da força policial contra nossa vidas e luta, diante disso comunicamos à juíza federal que nós vamos resistir até morte à ordem de despejo, temos absoluta certeza que morreremos pela nossa terra YVY KATU, a juíza já está ciente de nossa decisão. Todas as autoridades também já estão cientes de nossa decisão que como povo nativo Guarani vamos lutar até a morte pela terra YVY KATU.
Hoje 12/12/2013, mais uma vez passamos comunicar ao juiz federal do Tribunal Federal de São Paulo que não vamos sair do tekoha YVY KATU, aqui vamos resistir e morrer todos lutando. De forma igual, comunicamos à presidenta Dilma. Pela última vez, avisamos a todos (as) que a partir de hoje 12/12/2013, começamos a realizar um raro ritual religioso nosso de despedida da vida da terra, essa é a nossa crença, um ato consciente de preparação da vida para a morte forçada pelas armas de fogo dos homens brancos, ou melhor, começamos a participar da cerimônia de aceitação e confirmação da saída forçada da alma do corpo e sua volta ao cosmo Guarani em função da morte forçada no campo da luta.
Esse é um dos rituais de despedidas da vida que raramente se realiza, mas hoje começamos a praticar. Começamos a participar desse ritual de aceitação da morte forçada e despedida da vida, das famílias e dos amigos (as), pois sabemos bem que a Justiça Federal está autorizando os homens brancos armados para atacar e matar nós aqui no tekoha YVY KATU.
Comunicamos a todos (as), pois nós Guarani e Kaiowá do YVY KATU decidimos a resistir à ação de despejo e seremos mortos pela arma de fogo dos homens brancos ou policiais. Não há dúvida. Não iremos recuar nem um passo para traz, vamos resistir por questão de honra e profundo respeito aos nossos ancestrais mortos no YVY KATU, decididos, vamos lutar e morrer pela nossa terra onde estão enterrados os nossos antepassados. Por essa razão, pedimos ao Governo e a Justiça para mandar enterrar nós todos aqui no tekoha YVY KATU, porque nem vivo e nem morto não vamos sair do tekoha YVY KATU.
Essa é a nossa decisão definitiva. Mais uma vez, convidamos a todas as sociedades nacionais e internacionais para acompanhar e assistir ao genocídio e a dizimação de 4.000 povo nativo Guarani e Kaiowá do YVY KATU pela justiça do Brasil por meio dos homens “brancos” POLICIAIS armados brasileiros aqui no Mato Grosso do Sul/BRASIL.
Tekoha Yvy Katu, 12 de dezembro de 2013
Comunidades Guarani e Kaiowá do tekoha YVY KATU-Japorã-MS-BRASIL”

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

CTT, o Testemunho tão triste quanto certeiro da marafada-da-escrita-afiada Raquel Ponte


Testemunho tão triste quanto certeiro da marafada-da-escrita-afiada Raquel Ponte
"Fuck [this reality], cause we've got music and poetry instead."


Há um punhado de anos atrás concretizei um sonho antigo: ser carteira.

Durante cinco rigorosos meses, que coincidiram com as estações das chuvas, acordei kantianamente às 4:30 da manhã para separar correspondência num armazém de cinco mil metros quadros, no Cais do Sodré. 

Depois de artilhar o trolley com 30 quilos de mercadoria, subia à pressa, e a pique, até à Calçada do Combro. É que às 7h. era suposto começar o meu "giro". Com sorte, terminava por volta das 14h., mas tinha dias mais lentos, que se esticavam até às 18h. 

Com o passar do tempo veio o frio; as cartas de amor, primorosamente caligrafadas, e os postais de longas distâncias, perderam a batalha do romantismo para as contas da edp, da epal, da emel, da lisboa gás, do meo, da zon, para as cartas de penhoras dos tribunais, para os créditos mal parados nos cofidis e restantes BEStas agiotas que nos obscurecem os dias com assombrosa austeridade. 

Hoje li que o Goldman Sachs e o Deutsche Bank são os novos donos dos CTT, e que a eles se vão juntar mais amigos para o grande banquete dos chacais; que houve histórias de luvas - e Horta e Costas - por resolver no passado; que os meus ex-colegas vão fazer giros no IEFP - mãos honestas, vazias, sem luvas; que o volume de rigorosas cartas não pára de aumentar... nem a chuva... nem o frio; que nos matam as viagens, e o sonho e os redutos de amor que ainda temos em nós. 

Coração vazio nesta honesta despedida."

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Escravatura New Age


Escravos
No final deste texto poderão encontrar uma denúncia.
O subsídio de desemprego é uma das partes do salário que o trabalhador desconta enquanto está empregado, para além dos impostos e restantes contribuições que paga ao Estado. É devolvido mais tarde, em situações de desemprego, doença, invalidez, etc. Esta contribuição mensal que o trabalhador faz para a Segurança Social não é a fundo perdido, é para garantir protecção sempre que há falta ou diminuição de meios de subsistência (Artigo 59.º, 1, alínea e, e Artigo 63.º, 3 – da Constituição da República Portuguesa). Até aqui tudo bem.
No entanto, sob o chapéu do “trabalho socialmente necessário”, o IEFP está neste momento a exigir a trabalhadores desempregados uma compensação pela “ajuda” que o Estado lhes está a prestar nesta… altura difícil. Que a sociedade precisa deles e, portanto, têm de trabalhar. Quase de borla.
Ou seja, aquela porção do salário do trabalhador que é entregue mais tarde e que é igualmente taxada via impostos (portanto, ao fim e ao cabo, pagam-se impostos duas vezes, para além dos cortes aos subsídios), é dada em troca, com mais um bónus – que de bónus não tem nada – se o trabalhador desempregado desempenhar uma determinada função na Administração Pública. E o desempregado não pode recusar.
Funciona assim: chega uma cartinha a casa a dizer que é necessário ir a uma entrevista. Na carta diz também que, se não comparecer, a pessoa poderá perder o subsídio. É apresentado um contrato de 12 meses, 40h semanais, 8h/dia. Sem férias, sem faltas injustificadas. O desempregado, obrigado a aceitar, passa a receber uma bolsa mensal junto com o subsídio.
Esta bolsa mensal que:
  • No caso de se tratar de um desempregado a receber o subsídio de desemprego, corresponde a 20% desse mesmo subsídio. Acresce o subsídio de refeição (4,27€, normalmente) e o valor do transporte. Tenhamos por base o valor médio do subsídio de desemprego, que é 345€, e assumamos que a pessoa gasta 35€ em transporte, o valor do passe em Lisboa. No fim do mês, esta bolsa é de 195,47€.
  • No caso de se tratar de um desempregado a receber o subsídio social subsequente, corresponde a 20% do IAS (Indexante dos Apoios Sociais, que é neste momento 419,22€[1]), ou seja, 83,84€/mês, mais 4,27€/dia de subsídio de refeição, e o valor do transporte. Supondo que o passe é 35€, dá a módica quantia de 208,51€.
Isto, meus amigos, não é um salário em troca de uma função. É exploração pura e dura. 200€/mês significa que cada hora vale cerca de 1,25€. Não é um contrato do desempregado com o Estado. É, isso sim, uma violação de um contrato do Estado com o desempregado. Aquele contrato em que o Estado se compromete a guardar, neste caso via Segurança Social, uma porção do salário do trabalhador para eventualidades que possam surgir. Diz que até está na CRP e tudo.
O que aqui se está a fazer, camuflado de “socialmente necessário” e deixando de parte o “justamente remunerado”, é baixar o preço da força de trabalho. O mais caricato é que estão a utilizar o próprio Estado para reduzir esse mesmo preço. Estão a preencher-se postos de trabalho anteriormente ocupados por trabalhadores do Estado – com um salário (dificilmente) correspondente à função – com desempregados – a um salário de esmola. Portanto: o capitalismo põe os trabalhadores a subsidiar a sua própria exploração, recorrendo à usurpação dos mecanismos do Estado que um dia foram criados para facilitar a vida dos trabalhadores. Dá um jeitaço dos diabos, poupam-se uns valentes cobres para pagar PPPs e dívidas de bancos, e ainda se enche a boca de baboseiras em jeito de propaganda como «a taxa de desemprego está a descer».
Querem que diga de outra forma e numa só palavra que isto é? Escravatura. Só que à século XXI. É uma armadilha mais fina e requintada, muito mais sofisticada, de nome capitalismo, cuja natureza competitiva privilegia sempre quem nós sabemos em detrimentode quem nós também sabemos. É tão selvagem e violenta que o novo escravo tem não só de assumir a manutenção do seu corpo (porque este não pertence a outrem, como na escravatura) como também não tem a “protecção do amo” (porque não trabalha a troco dela, como no feudalismo). O novo escravo paga para se sustentar. E paga, literalmente, para trabalhar. É o proletário “livre”, mas escravo, do século XXI.
[1] Consta neste documento do Diário da República.
Denúncia
Exmos Srs. 
No seguimento de várias noticias publicadas durante a semana,  sobre desemprego e desempregados,  anexo uma exposição sobre o assunto do qual ninguém fala, a exploração dos desempregados por parte da administração publica.
Após leitura da noticia publicada no DN de 30-10-2013, sobre utentes que pedem baixas falsas para manter o subsídio e recusar emprego, fiquei indignada, e penso que a jornalista do artigo não deve ter falado com os desempregados para tentar perceber o que se passa.  Como desempregada desde 01/07/2012, gostava de esclarecer o seguinte:
Enquanto cidadã activa no mercado de trabalho contribuí com os meus impostos, tanto mais que recebo a prestação mensal de subsidio de desemprego.  Estando nesta situação tenho deveres para com o IEFP, nomeadamente apresentações quinzenais, fazer 1 prova de procura de emprego por semana (4 mensais), mensagens que enviam para entrarmos em contacto com empresas, sempre com prazos, caso contrario, nos termos da lei XXXXX, ser-nos-à retirado o subsidio, ou seja,  todo o tipo de comunicações que recebo (e-mail, carta), entendo sempre como uma ameaça que no caso de eu falhar e não tiver justificações válidas para o IEFP e para a Segurança Social, cortam o subsidio de desemprego.
Como desempregada, sinto que a sociedade olha para esta classe como os “inúteis” que não querem trabalhar, apenas receber dinheiro.  Desta forma o IEFP e a Administração Publica que até  refere que tem trabalhadores em excesso, descobriram como pôr estes “inúteis” a trabalhar celebrando contratos emprego-inserção, também chamado socialmente necessário.
Somos 1º convocados para o IEFP que nos “informa”  (obrigando, se não lá está outra vez o subsidio a ser cortado), que temos de ir a entrevista, também desnecessária porque também somos avisados que não podemos negar, dar a entender que não estamos interessados, que temos problemas familiares, ou seja nada de desculpas, é aceitar e nada mais.
As condições do contrato de trabalho são para explorar o  desempregado.  Trata-se de um contrato de 12 meses, e realizar-se-á de acordo com o horário que legal e convencionalmente está em vigor para o setor de atividade onde se insere o projecto (sempre na administração publica), e conforme acordado entre as partes, (sendo o 2 outorgante sempre obrigado a,  e não a acordar com),  no período normal de trabalho diário e semanal de 8 horas e 40 horas respectivamente.  Para estas 40 horas de trabalho semanal recebemos um bolsa mensal, de montante correspondente a 20% do IAS (Indexante dos Apoios Sociais) que é de 419,22€ e que irá dar um valor mensal de 83,84€, subsidio de refeição 4,27/dia, e o transporte.  No meu caso trabalho 40 horas semanais para receber no final do mês um ordenado de 217,05€.  De acordo com estes senhores do IEFP e das entidades publicas onde somos colocados trata-se um complemento ao subsidio, para o qual eu contribuí e que é meu de direito. Além da carga horária, somos também informados no IEFP que perdemos o direito aos 30 dias anuais, não se tratam de férias, nem deixamos de procurar trabalho,  é apenas uma altura em que deixamos de ter a obrigação de apresentações quinzenais, e por consequência, temos de cumprir um contrato de 12 meses sem férias.  Aqui julgo que, de acordo com a lei ao fim de 6 meses deveria der direito a 2 dias de férias por cada mês de trabalho, não cumpro 2 ou 3 horas de trabalho não é um part-time são 40 horas semanais.  Não sei, se aqui não há uma ilegalidade. Também as faltas que tiver de dar terão de ser sempre muito justificadas temos 1 dia por semana (4 mensais) para procura de emprego, justificadíssimos com provas de ida ao CE, carimbos das empresas contactadas (o que raramente se consegue), ou seja não temos férias e não temos faltas injustificadas,  estamos “amarrados”, caso contrario para além da suspensão do contrato lá aparece outra vez o receio da perda do subsidio.
Também quem estiver em formação terá de desistir,  mesmo que diga que quer continuar se a mesma não for muito superior a 300 horas não dá.  Como podem verificar, face a uma situação destas ninguém vem trabalhar de animo leve, e estamos todos revoltados com a situação, também é natural que haja quem prefira justificar com atestado médico, porque é de ficar mesmo louco.  Também deveriam perguntar ao sr. Dr. se estaria interessado em cumprir uma carga horária destas, por meia duzia de €, pois com ele é ao contrario, a meia duzia de horas rende varios €€.  Compreendo que haja situações em que estejam a trabalhar e a receber o subsidio ilegalmente, mas não podem generalizar, por uma situação julgam todos os outros.Com certeza que se as porpostas fossem de 12  meses, com ordenados e todos os outros direitos isto não se verificava.
Também aos desempregados que outrora foram contribuintes, é só exigencias, e para que recebe subsidios de reinserção e outros nada se exige, e pelo que ouvi recentemente se tiverem de cumprir com algum tipo de trabalho será apenas de 15 horas semanais.  Onde está a justiça desta situação, a maior parte nunca contribuiu, nunca trabalhou e a quem contribuiu exigem 40 horas, ao preço da chuva.
Ontem 31/10/2013, surgiram noticias no Económico, de que o desemprego tinha baixado em Setembro (maior baixa desde 2008).  Grande mentira.  É  claro que com esta exploração e retirando estas pessoas das estatistica a coisa melhora,  e o que fazem aos milhares de portugueses que ainda estão desempregados e não recebem subsidio, tambem são retirados desta estatística, certo? 
No seguimento desta notícia o ministro da segurança social vem dizer que esta descida dá esperança e confiança na contratação, como?  Só no ministério deste Sr. estão centenas de desempregados a cumprirem os tais 12 meses de trabalho socialmente necessário 40 horas semanais ao preço de 83,00€, é completamente excluída a hipotese de contratação. Como é que vai promover medidas activas de emprego, para promover a contratação, se não contratam ninguém? Têm trabalhadores a mais e contratam (exploram) os desempregados?
Acho muito estranho, ou a comunicação social sabe realmente o que se passa e não fala, assim como os sindicatos está tudo muito calado, ninguém  abre a boca para falar destainjustica, ao escreverem noticias sobre desempregados, poderiam investigar mais as condições desta classe, que não se esqueçam contribuiu, para o subsidio, não era um parasita da sociedade, investiguem melhor.
Para além disto tb me foi dito que que o transporte é de apenas 35€ Quem vem de mais longe e paga  mais de transportes o diferencial será que é da conta do desempregado que ja tem o subsidio todo contado ao centavo???. como é isto possivel, o contrato refere o pagamento das despesas de  transporte entre a residencia habitual e o local de atividade, não refere até 35€, ainda não entendi esta parte.

25 de Novembro de 1975: um dia final que não foi inteiro nem limpo


Alguns historiadores, e certamente a maioria da população, consideram que o regime democrático-representativo tem origem na revolução portuguesa de 1974-1975. Esta visão confunde, cremos, aquilo que é a revolução com a contra-revolução, dois momentos distintos de um mesmo processo histórico. Esta visão omite que existe um período de regime distinto entre o fim da ditadura – a 25 de Abril de 1974 – e o início do regime democrático, cuja construção se inicia a 25 de Novembro de 1975. Trata-se de um período marcado por aquilo que se designa historicamente como formas de democracia directa ou como a existência de um duplo poder, um poder paralelo ao Estado assinalado pelo protagonismo dos trabalhadores, diversos sectores/fracções desta classe social. Confesso que acho o equívoco, não para o senso comum, mas entre historiadores, pesado. Porque ele confunde formas de Estado, Regime e Governo.
Houve vários Governos em Portugal desde sempre. O Estado foi sempre, mesmo em crise, um Estado capitalista (nunca houve um Estado Socialista em Portugal mas um Estado em crise marcado pela existência de poderes paralelos, em 1974-1975). Mas houve vários regimes dentro do Estado: ditadura, os regimes que perduraram durante a revolução, o regime democrático-representativo.
Está por discutir, e não o fazemos aqui, qual a natureza dos regimes, se é que houve mais do que um, durante o biénio 1974-1975. Teria sido dominante um regime kerenskista durante este biénio, por alusão ao regime de Kerensky depois de Fevereiro de 1917 na Rússia? Há um regime semi bonapartista depois de 11 de Março de 1975, primeiro pressionado pelo PCP (Documento Guia Povo-MFA) e depois pelo PS e a direita (IV Governo)?
Independentemente dos regimes que vigoraram no biénio 1974-1975, a revolução tinha um curso, passo a tautologia, influenciado e influenciante dos regimes. Mas ainda assim um curso independente marcado pelos organismos de duplo poder. Neste sentido, compreende-se que é reducionista considerar que a democracia é filha da revolução. A democracia-directa é filha da revolução, a democracia representativa é filha da contra revolução.
Muitas vezes esta expressão é de imediato alvo de críticas que consideram que ela acarreta mais uma visão ideológica do que histórica. É uma pressão injusta porque a outra visão, que omite ou desvaloriza a existência de uma situação de duplo poder, é muito mais alvo da pressão ideológica de um país que não ainda fez contas – e por isso tem mais dificuldades em fazer história – com um estranho passado:
1) Um passado em que os mesmos militares que fizeram uma guerra terrível contra povos indefesos em África, alguns deles, corajosamente, derrubaram a ditadura a 25 de Abril de 1975.
2) Um país onde muitos destes militares (Grupo dos 9) que derrubaram a ditadura se juntaram numa ampla frente para pôr fim ao duplo poder, à revolução, num golpe de Estado a 25 Novembro de 1975, que termina com a prisão em massa dos militares afectos às perspectivas revolucionárias que pugnavam por um deslocamento do Estado e não só do regime (a maioria naquilo que se chamou então teorias «terceiro-mundistas»).
3) Um país onde a democracia liberal encaixou os Partidos que são a constituinte do regime desde então, num amplo pacto social, que implicou desmantelar a origem da pressão para o deslocamento do Estado, isto é, a dualidade de poderes nos lugares de trabalho (comissões de trabalhadores), no espaço de moradia, na administração local e reprodução da força de trabalho (comissões de moradores) e finalmente, a partir de 1975, aquilo que Mário Soares designou como a «sovietização do regime», isto é, a dualidade de poderes emergente nas Forças Armadas.
4) É ainda uma memória que pesa porque o Partido que teve um papel heróico contra a ditadura – o PCP – aceitou não resistir ao 25 de Novembro assumindo publicamente, pela mão do seu líder de então, Álvaro Cunhal, que a esquerda militar se tinha tornado um fardo para o PCP porque a sua actuação punha em causa o equilíbrio de forças com os 9 e os acordos de coexistência pacífica entre os EUA e a URSS.
Foi a partir de 25 de Novembro de 1975 que se inicia um novo regime – paulatinamente é verdade, uma vez que a revolução leva mais de 10 anos a ser derrotada e a força de trabalho flexibilizada (a partir de 1986-89), a contra-reforma agrária a ser feita bem como a progressiva erosão do Estado Social com as privatizações. Mas foi nesta data que se dá o retorno à disciplinarização da produção para a acumulação de capital, aliás reconhecida publicamente no discurso do chefe militar do golpe, Ramalho Eanes, nas celebrações do segundo aniversário do 25 de Novembro de 1975.
Mas o papel dos historiadores não é fazer a história da memória nem arrumar a escrita da história na gestão das relações de forças sociais do momento.
Existe ainda hoje uma intensa polémica à volta do que foi o 25 de Novembro – e há dados que ainda não estão totalmente esclarecidos – porém é indiscutível que esta data marca o início do fim da revolução e a consolidação daquilo que António de Sousa Franco, insuspeito apoiante do PSD, economista e cientista social, chamou a «contra revolução democrática» e que, fruto da força ideológica dos vencedores é hoje apelidado de «normalização democrática».
Há porém algo que ninguém pode questionar. Independentemente das tendências bonapartistas levadas a cabo pelo PCP no IV Governo e exactamente nas mesmas tendências dominantes no VI Governo, liderado pelo PS (o V Governo a contrario do veiculado é dos mais moderados nas medidas, e instáveis), ambos reflectindo uma acirrada disputa pelo Estado, estava em curso um processo revolucionário. Estava em curso a maior revolução da história da Europa do pós guerra e uma das mais belas do século XX, belas é mesmo o termo, em que o Estado tinha que negociar sistematicamente com organismos de duplo poder (organizados de facto ou não, até maio de 1975, e a partir daí coordenados regional ou sectorialmente).
Historicamente existem várias formas de revoluções e várias de contra-revolução. Da mesma forma que uma revolução é um processo histórico que não se resume a um golpe militar, uma quartelada, a contra-revolução não é um processo histórico que possa ser resumido a um golpe violento que instaura uma ditadura. Na verdade nasce a contrario do exemplo português, e seguindo o sucesso de Espanha desse ponto de vista, um laboratório de processos contra-revolucionários que nada têm a ver com o modelo Chileno (um golpe contra revolucionário feito sob as botas de uma ditadura militar). Este modelo «pacífico» de contra-revolução (hoje enquadrado pelo conceito teleológico de «transições para a democracia») será adoptado pelos EUA para  sua política externa, a célebre teoria Carter –e aplicado depois nas ditaduras latino-americanas. Um modelo que se centra na ideia de pôr fim às revoluções ou evitá-las criando uma base social eleitoral, no quadro do regime democrático-representativo, isto é, uma transição para uma democracia liberal, que evite a ruptura revolucionária.
Em 25 de Novembro de 1975 não começou um país mítico de sonho, de igualdade e justiça, alicerçado num Pacto Social duradouro. Começou o fim de um sonho, de gentes pobres, quantas analfabetas, estudantes, intelectuais, trabalhadores de diversos sectores que não acreditavam só utopicamente numa sociedade mais igual, acreditavam, e essa é a história da Revolução de Abril, que podiam ser eles a fazê-la, a construi-la, em vez de delegar nos outros esse poder.

Agora, nós, os cidadãos, somos a ameaça

CGTP: SIS não avisou PSP para possibilidade de invasão dos ministérios


Na sequência das ocupações de terça-feira à tarde, a PSP decidiu reforçar a segurança junto dos ministérios. O DN cita fonte policial que diz que terá havido uma falha de previsão do SIS.
O Serviço de Informações de Segurança em momento algum avisou a PSP para a possibilidade de invasão de ministérios.
O Diário de Notícias conta que nas avaliações de ameaças relacionadas com protestos, feitas pelo SIS e que depois são enviadas à polícia, não há qualquer referência, por isso as autoridades foram apanhadas de surpresa com a ação dos sindicalistas.
Fontes da PSP, citadas pelo DN, não escondem o mau-estar entre os dois organismos e interrogam-se mesmo sobre aquilo que consideram uma falha do SIS na antecipação deste tipo de iniciativa.
Ao jornal, um antigo elemento das secretas contrapõe e diz que seria impensável o serviço ter espiões no núcelo duro da CGTP.
Ainda assim reconhece que as avaliações de agora em diante terão de conter novas informações sobre os riscos em manifestações.
O DN revela, ainda, que depois da invasão de quatro ministérios, durante a tarde de ontem, o comando da PSP de Lisboa destacou cerca de 300 elementos das equipas de Intervenção Rápida para reforçar a segurança dos 13 ministérios.
Cada um será vigiado por 20 polícias que estão treinados para um nível de incidentes com potencial violento. Um reforço que é para manter até uma nova e exaustiva avaliação do SIS às ameaças que podem surgir em sequência de acções de protesto.

sábado, 2 de novembro de 2013

A Contra-Revolução de 19-26 de Outubro de 2013


Acabaram as cançõesA revolução de 19-26 não se consolidou, nem com banda sonora (a música está proibida), nem com a versão 2.0 (a tecnologia suspensa), nem com aconfluência dos rios (que secaram). Nas ruas, sobra o desânimo. Sindicatos, movimentos sociais, os mais diversificados grupos políticos, passaram à clandestinidade. Não é provável que de lá saiam em massa antes da efeméride do próximo 25 de Abril, curiosamente no seu 40º aniversário. Antes disso apenas a desmoralização, mais ou menos organizada, o preço vil dos erros, dos pecados e da capitulação, ainda que em alguns casos, involuntária. Na Assembleia da República já não resta ninguém à esquerda e da varanda já nada se exibe com estufo, fulgor, timbre ou veleidade. A direita, recuperada sem sequer ter que accionar a brigada Macedo ou radicalizar por via peticionária, assistiu na arquibancada ao descalabro esquerdista, e retomou o poder com grande facilidade. Os insubmissos desertaram ou estão dentro de quatro paredes a discutir os avanços e recuos de revoluções longínquas.  Os poucos que não recuam e permanecem fiéis ao projecto emancipatório são manifestamente incapazes de levar o PREC avante sozinhos. A reforma agrária cessa e os campos, antes produtivos, regressam aos caçadores de coutadas e às urtigas. O Labrincha, que contra todo o cepticismo se manteve inconformista, foi apesar de tudo para o exílio. Tenta o Equador, fracassada a Guatemala, mas também não consegue. Safa-se no Canadá com a ajuda do Aleixo, que à última da hora soube escolher o lado certo da força. A Catarina foi cooptada pelo Ministério para a Igualdade de Género e convenceu o que restava do Bloco de que nada está perdido. Constituem-se milícias contra os piropeiros. O Galamba junta-se, já com o pénis metido na albarda, e o Garcia, com a sua turba, participa na revolução a partir das Águas Livres ou de Damasco. Os autonomistas tomaram um casebre para lá de Montesinho e são entretanto legalizados. Por lá permanecem, porém reféns só de si próprios. Lá fora, o que se passa, não interessa. Fizeram “o socialismo” só para eles mas diga-se em abono, fizeram-no em nome dos outros. A CGTP foi integrada no Ministério do Trabalho e, meia volta, é chamada a fazer uma perninha na Junta Autónoma das Estradas, evidentemente restaurada. Sócrates é o escolhido para liderar o período de transição democrática, ladeado pelo Soares dos Santos, no neo-COPCON (Comando Operacional dos Contra-Revolucionários). A ordem volta e com ela o BPN, que salda a dívida financiando as reformas. Rapidamente se encontra uma parte qualquer do povo que aplaude. Dizem as más línguas que foi recrutado em Oeiras, na Lapa e em Santa Comba. Os insurrectos que não se rendem são fuzilados às portas de Belém, com o Cavaco, reposto, a ser o homem escolhido para carrasco. Tudo jaz. Os mercados recuperam a confiança e os investidores perdem o medo. A instabilidade limita-se ao Benfica. Os bêbados andam sóbrios e os sonhadores acordados. Reina a obediência e até o BE começou de novo. Da revolução de 19-26 já só sobram as memórias, compiladas, na clandestinidade, pelo 5jours.net, alojado, por tradição, em França e na Argélia. Nada funciona a não ser as instituições e a polícia. As prisões rebentam pelas costuras com os revoltosos que foram incapazes de escapar às garras do velho Estado. O santuário de Fátima muda-se para São Bento, uma vez que até nome de santo tinha, e os feriados religiosos são reinstaurados. No novo regime não há parlamento. Governa-se a partir da maçonaria, que volta a reunir os conselhos de administração mais poderosos. O amor livre é proibido, tal como o isqueiro. Na rua, saias, só abaixo do joelho. Nas casas, fumar, nem mesmo às escondidas. Cão, só se for Zico. E gatos, só se for para tratar dos ratos que teimam em roubar a lavoura. As toupeiras, por medo de contágio, são  exterminadas. O sexo conjugal é limitado e qualquer abuso severamente castigado. O Social, do Estado, é enterrado, e todo o dinheiro dos contribuintes vai por inteiro para que os empreendedores treinem o jeito no mercado livre. Os hospitais públicos entregues à Santa Casa, entretanto elevada a Ministério da Caridadezinha. O Banco Alimentar contra Fome lá se dissolve e ambos promovem a boda entre a Jonet e o Santana. Na ceia, claro, comem-se bifes. O ambiente é de tal modo propício que até o Carrilho e a Bárbara se entendem. A Economia legaliza a usura. Os agiotas são credenciados. O FMI abre balcões no Chiado e no Rossio os credores vêem erguer uma estátua em sua homenagem. O Henrique Raposo ressuscita e como chefe de qualquer merda afecta ao partido do governo, propõe e aprova o rebaptismo da Ponte 25 de Abril para Ponte Arménio Carlos. A Pimentel aplaude. Os saudosistas, resignados, também se juntam. De Loures regressa o Bernardino, sob nova chuva de aplausos. Em Peniche, os revoltosos reorganizam-se, olhando ao longe as ondas de Mcnamara e os calcanhares luxuriantes das nazarenas. Lembram, nostálgicos, o tempo em que se atiravam ovos à cara do Barroso. Até o tipo que outrora gritava, confiante e eufórico, apenas escreve, sem réstia de alento, num lençol velho de um Palácio:  “… ACABARAM AS CANÇÕES.”
lorigine-du-monde-courbet

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A Revolução de 19-26 de Outubro de 2013




A situação era tensa mas ainda assim ninguém esperava que os acontecimentos de dia 19 de Outubro de 2013 despoletassem a Grande Revolução. Vou tentar descrever o melhor que possa os acontecimentos. 

As 250 000 pessoas reunidas em Almada marcharam até à ponte e a polícia, atarantada, percebeu que tudo tinha mudado e baixou os cassetetes para se juntar à marcha. Chegados a Alcântara outras largas centenas de milhar esperavam por elas. Entre a multidão que se abraçava ao chegar surgiu uma melodia, discreta ao início e depois cada vez mais forte: um camião com colunas surgiu da Avenida de Ceuta e começou a conduzir cerca de metade dos presentes até ao Porto de Lisboa, sendo a multidão encabeçada por 50.000 estivadores vindo de todo o mundo, inclusivé Baltimore. Chegados ao porto dão-se os primeiros confrontos, a classe operária vitoriosa qual Gauleses carregando sobre Roma. 

A inesperada entrada no porto, para além dos mais selvagens sonhos dos anarquistas, deixa toda a gente histérica e os contentores são abertos e as mercadorias de importação são comunizadas por entre mil e uma patuscadas nos contentores. A massa sindical da CGTP transcende o sector de luta e entrega-se com afã desmedido a uma intensa desconstrução de género por entre mini-saias rendadas destinadas à inauguração da Primark no Colombo. Ao longe ouvem-se as sirenes de uma polícia desnorteada e desesperada. De madrugada os dois rios desaguados na foz revolucionaria abandonam o porto empanturrados e acampam ao longo da Marginal de Lisboa até Cascais, numa acampada serpenteante e mágica onde um mic check ininterrupto percorre para trás e para a frente a zona ribeirinha.

O QSLT reúne na associação de amizade Guatemala-Portugal durante 49 horas ininterruptas e por fim mantém o destino final da manifestação de 26 para São Bento. A situação nacional está descontrolada e o pais desliza no caos. Pacheco Pereira retira-se para a Marmeleira com os contribuidores dos seus blogues e forma uma comuna tipo Kurtz no Apocalypse Now, o poder responde enviando o deputado João Pinho de Almeida do CDS PP para finalmente lhe limpar o Sebo. A TVI tem Marcelo a comentar ininterruptamente. Daniel Oliveira fica finalmente careca. No Porto o presidente da câmara independente autoproclama-se imperador de Portugal ao que José Soeiro responde escrevendo pequenos poemas sobre sonhar abril de novo. Sexta Feira Passos Coelho fala ao pais mas é grandolado por 500 surdos-mudos e decide emigrar para Madrid para tirar a carta de veículos pesados.

Chega Sábado. O pessoal do RDA e afins atinge o clímax do seu delírio e sai da garagem apetrechado de aviões feitos de arame e paus de vassoura e sobe ao cristo rei para tentar ocupar o sol, infelizmente não consegue mas não desanima e arma um chavascal à antiga em Cacilhas a puxar para o cacilheiro. A manifestação não chega a começar porque é impossível perceber nos seus limites. No início das escadarias a extrema-esquerda decide resolver a questão de quem toma São Bento com uma corrida pelos degraus acima. Nem todos chegam ao fim já que ao segundo degrau já há várias facções à pancada e a vender revistas. No fim perfilam-se três vencedores que correm para dentro do parlamento. Meia hora depois Gil Garcia, Rui Tavares e João Labrincha surgem à varanda brindando Champagne e anunciando a nova liderança tricéfala do pais, mas ninguém lhes liga peva e Catarina Martins mostra as mamas depois de um muito insistente “mostra! Mostra” da parte do corpo de intervenção desmobilizado que bebe copos nas tasquinhas perto da assembleia. No Terreiro do Paço dá-se o único incidente trágico da Revolução quando um grupo de cerca de 100 pessoas que começa a cantar o “grandôla vila morena” sem parar durante 4 horas e atinge um estado tal de galvanização emocional que se atira ao rio. João Camargo escreve um livro onde inocentemente refere a centralidade do MOB no meio de todo este processo. 

O Bloco de Esquerda acaba numa grande jantarada no H3 do Saldanha Residence. O PCP reúne os seus militantes nas carrinhas, regressa à Quinta da Atalaia e funda a RPA, República Popular do Alentejo, anexando de imediato o Algarve, encontrando uma criança loira inglesa na casa de férias do casal Passos Coelho. Os anarco-autónomos do RDA reúnem as barreiras e tentam inventar algo que pare a rotação da terra de modo a ser PARA SEMPRE um fim de tarde de verão mas não conseguem e armam um ganda chavascal na cantina da Assembleia da República enquanto gozam com o outro pessoal de esquerda. Precisamente quando o sol se está quase a por Margarida Martins da Abraço sobe a um dos leões e canta. A História é finalmente suspensa e a humanidade entrega-se deleitada e ternurenta ao comunismo total.


domingo, 28 de julho de 2013

Sá da Costa





quando eu morrer batam em latas é mas é o caralho, soubemos agora do encerramento da Livraria Sá da Costa e na verdade não sinto a faísca da indignação em modo redes sociais, este não é um apelo ao salvamento, sinto-me só triste, desconsolado, por gostar de frequentar livrarias e por durante vários anos ter trabalhado nelas, foram o meu sustento e a minha aflição, a minha bênção e a minha irritação, o meu motivo de orgulho e o meu desgosto, todos os livros à mão semear versus fins-de-semana passados entre muros, até porque quando comecei já a lógica de centro comercial era dominante, são as leis do mercado e o resto, às vezes as boas práticas das cidades europeias não querem nada connosco e se adoro lisboa às vezes também a detesto, porque num piscar de olhos haverá uma loja de sandálias ou de roupa ou de gelados com direito a topping no lugar de uma livraria com história que esteve muitos anos na mó de baixo, que foi alvo de uma espécie de saque por parte do vigarista dinis nazareth fernandes, e que nos últimos tempos se manteve à tona graças a uma vontade de ferro dos seus trabalhadores empenhados em manter-lhe as portas abertas com recurso a  amigos e cúmplices, a concertos, recitais, exposições e livros, meu deus, coisa de espantar, livros que a minha gente trata com os pés, fundos de catálogo, edições esgotadas, clássicos, nada disto espanta, estou habituado a ter inveja, melhor, estou habituado a sentir cobiça pelas livrarias de outras cidades que tive a felicidade de visitar, e fico triste porque também isto é uma questão sentimental, de auto-flagelação e território, os livros são o melhor do mundo, os livros não interessam para nada, há negócios mais rentáveis e a vida faz-se disso, de economia, de oportunidades de negócio, de franchisings, na verdade nunca houve uma idade de ouro dos leitores, sempre foram poucos, as condições de arrendamento, a pressão especulativa, as lógicas de marketing e de renting é que eram outras, e agora até haverá mais leitores, sucede que há muitos supermercados por onde escolher, sem livreiros e com funcionários, ou "colaboradores", baptismo do capital selvagem que veio para ficar, supermercados que praticam descontos sobre as capas com verniz a que as livrarias não podem chegar, supermercados onde os portugueses também gastam cada vez menos, menos 3,7% (ficam-me bem as percentagens) no primeiro semestre de 2013, a doutora jonet tem razão, não se pode comprar bifes todos os dias, não se pode comprar livros todos os dias. no próximo sábado pode-se. no próximo sábado a Sá da Costa vai a enterrar a partir das 21h. batam em latas mas é o caralho.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Estou vivo e escrevo sol



Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram as suas faces
e na minha língua o sol trepida

melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde

antónio ramos rosa

O Ocidente é uma pescada de rabo na boca

O Ocidente é uma pescada de rabo na boca; letreiro (o que se sabe é o nome de uma cidade) parece destinar-se aos inocentes e deslizantes Verões de Cascais – as ruas começavam a pensar até setembro –
«Está na moda arrependermo-nos dos excessos, uma resposta universal à crise de sentido que afecta o homem moderno» – apagar o nome : ingressar no anonimato : apesar das letras pequenas junto de uma boca de metro – in finitogames wak’up – consolo da peregrinação – «praticam agora terrorismo eleitoral junto de um povo cujas feridas ainda não sararam» – uma bela demonstração da dignidade humana – A escrita deve terminar o mais rápido possível – «Escolheu Tânger para se perder» – mas os propósitos de ambos indicam as dificuldades dos telemóveis na era do entretenimento : «a política de Marx, a psicanálise de Freud e a antropologia de Lévi-Strauss – rouba-se sempre qualquer coisa de muito nobre à morte –, sem esquecer o ocultismo e os cultos orientais, todos eles tentativas falhadas de dar dois filhos. – Julgas que se preocupou? – O pirilampo é o campeão da lata… É tudo o que posso dizer-lhe. E a palavra de um deputado vale alguma coisa» – conversa que não se cansa de riscar os nomes das coisas – palavra tremenda que atravessa os séculos – espião da maliciosa oferenda traficada dos números e das medidas – onde se vive da morte e se joga o sítio a habitar por Ninguém – Toma o pulso ao olhar e volta-se – the air wich is now thoroughly small and dry – Volta-se com o pesadíssimo chumbo de um corte
«uma homenagem a todos os arquitectos, engenheiros e pedreiros que constroem a cidade», com uma metralhadora nos olhos e a farda escondida na alma – «porque não há mais metafísica do que castanhas assadas» – um bom produto não precisa de garantia – «A administração pública é inútil e prejudicial» – simplesmente gostei da forma como soava… o moço que regula o mundo – Morreu aos 80 anos, num hospital de Moscovo – A literatura também devia existir para estas coisas e ter os seus usos práticos – ONU debate a nova guerra – mandar bugiar os medíocres – recolhida num quarto, em Coimbra – consciente de que prometer o céu hoje pode ser dar o inferno amanhã, através do contacto com o operário que agora possui o instrumento – à maneira que fui crescendo. Ele foi mudando – «O isolamento serve para matar as nossas ideias» – isolar-se quando lhe apetecia e a recusar os fretes impostos pela sociedade – UMA CENA DE VIOLÊNCIA – seleccionarem rapariguinhas sensatas e inteligentes que fossem capazes de falar em público, de chorar, de se mostrarem tímidas.
Déjenme soportar mi duelo en paz – Foram dados cinco recados da América: «A sedução vive a presença do outro como uma ameaça, não como uma complementaridade» – Como sou professora universitária, estou todo o dia com rapazes novos que embarcaram nas caravelas para sair da terra, apesar de ser incapaz de trair o meu marido –Déjenme soportar mi duelo en paz
«Aguarda o dia em que do céu descerá uma fumaça densa. 44.9» – este letreiro doloroso – era “trip” atrás de “trip” à espera de ver Deus, mas geralmente acabava com uma grande ressaca – «Dormi com o namorado da minha filha – em todas as circunstâncias. – Já não há horas de ponta, são todas!» – Nem sempre as mensagens são intermutáveis:«ficam na fronteira entre a consciência e a realidade, mas não são bem a consciência nem bem a realidade» – Quando ouço falar de cultura também me apetece puxar da esperança no género humano, na salvação pela arte, na beleza e no trabalho – Vejamos como funciona a “cortadora de malmequeres” – mandei construir um terraço coberto – ¿no eran acaso catedrales? – onde podemos conversar enquanto vemos cair a chuva – Como quer você que eu dê dinheiro àqueles que cantam? – Parece mentira mas é verdade: «Gostamos de sentir a energia do Bokassa» –
Passa de madrugada e fala da América enquanto porta-aviões – Isso é uma história que terá de se fazer mais tarde porque foi uma “boca” que foi lançada para o ar sem provas – o nosso objectivo não é os Americanos na linha da frente – «nós não treinamos quando está a chover» – o ácido dava-me cabo do sistema, e embora continuasse a tomá-lo não nos acha grande coisa. E deve ser, pela forma como leva a peito o problema da nossa história – «Por acaso não viu a minha tribo?» – Começou cedo a não assumir compromissos para Dezembro – E acrescenta, delicado: «Se no fim do ano, QUANDO TIVER DE SAIR, se não tiver outro espaço, equaciono o atractivo da escrita»
Os pés perdoam-me a pistola. De água. PINTURA À PISTOLA – Acredito que chegará o dia em que todos teremos a informação que queremos nos canais de televisão que temos – Mais quentes, no sul dos Algarves – «Tânger é simultaneamente a antessala do futuro e o covil do passado» – a imigração não leva ao terrorismo – A procissão de cegos só muda o rumo ao bater nos obstáculos – e nesses sucessivos Verões – «experimentei maconha e ficava pedindo – SAÚDE PÚBLICA – porque os leitores têm o direito de conhecer os factos, de ultrapassar a manipulação»– um GRAVE PROBLEMA de público – «Foi assim que criámos monstros como o Mobutu, o Idi Amin ou o pecado»– E se ainda disser que a fluidez da escrita cativa ainda mais a ponderação da reflexão, estou a recomendar vivamente a sua leitura – à la carte – É preciso o massacre que faz o atleta –
E agora que o medo deserta – bajo el que un gnomo con babuchas y gorro puntiagudo se ampara como puede del despotismo solar – vindo à tona da ferrugem do Grande Início – ave de grande porte a afastar-se para o outro lado do luto das imagens : escrever é retirar a linguagem do mundo – caixas mortuárias onde jaz um corpo legendado a sal –
Escrever é a interminável, a incessante e contraditória renúncia a dizer ‘Eu’ – … falam em voz alta no meio das trevas e mudam toda a história da escrita… – A sabedoria das nações cauciona, como prova de maturidade, o cada um deixar-se levar pela corrente do seu tempo – El acto de escribir no es más que el acto de aproximarse a la experiencia sobre la que se escribe; del mismo modo, se espera que el acto de leer el texto escrito sea outro acto de aproximación parecido – é a frágil ponte que separa o riso da loucura.
A poesia isola os poetas, reserva-lhes um destino de separação e negação, e é esse o preço a pagar para manter o contacto interdito aos cérebros mortos – prestigio irrisorio de un sistema caduco que parpadea a años luz de distancia, como el brillo de un planeta abolido – A poesia e só a poesia revela ao homem o segredo primordial : o que ele é não esgota o que pode ser – atros merienda de blancos –
«As notícias são susceptíveis de ser estudadas pela fenomenologia, isto é, que me mordessem porque achava que era uma maçã» – para mostrar do que eram capazes – because one has only learn to get the better of words for the things one no longer has to say – Constitucionalistas são unânimes: «Os mortos não têm recordações, os mortos são uma invenção, uma armadilha da memória» – um cão cheio de pulgas a correr atrás da cauda