quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Fausto Bordalo Dias - Madrugada 1970

Pois é. O primeiro album - LP - de Fausto não só é uma obra prima da música popular portuguesa, como inclui uma das melhores canções de todos os tempos, ÿ tão injustamente esquecida - A denúncia involuntária da atracção!!!!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Postal Para D. João III

Composição: Vitorino
Ao Zeca Afonso

Acorda João III
 
Querem-te roubar a fama
 
Um cardeal interesseiro
 
Pelo sto. ofício chama

Diz que vem pra nos salvar 
Da tentação de Mafoma
 
Metido numa redoma
 
Jura que é inofensivo

Traz baú de ordenações 
Cadafalso e sambenito
 
Cara de corpo-delito
 
Volta o polé pràs funções

Eu por mim faço um manguito 
Às armas do cardeal
 
Vou-te mandar um postal
 
Com novas dos teus filhotes

De todos a mais notada 
Com pergaminho d´elite
 
Essa bastarda Judite
 
Tens-lhe a alma confiada

Bate-me à porta de noite 
Diz que sou um excomungado
 
Mil heresias, culpado
 
Carbonário, contumaz

Diabo, anarquista negro 
Blasfémia não controlada
 
Quer saber qual o segredo
 
Da alma duma granada

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

domingo, 19 de dezembro de 2010

sábado, 18 de dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Sul













Deixo na marcha a marca doce 

Dum passo alegre por voltar 
Na outra margem, sou feliz 
Invoco a Terra, campo em flor 
Um mau olhado por Lisboa 
Rio da sorte e maus caminhos 
Linha entre a dúvida e o desejo 
Pão tão difícil 
Incerteza, d´amanhã 

Vou no vapor da madrugada 
A minha estrada vai prò Sul 
Dá-me um abraço d´encantar 
Volto para o fundo dum olhar 
Meiga paixão ao Sol do Estio 
Rubra papoila fugidia 
Encontro certo no trigal 
Nada me prende, vou-me embora 
Vou prò Sul...

Vitorino - A Canção do Bandido (Official Videoclip)

Não posso viver sem ti

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Assim falou um estudante inglês de 15 anos


«In this video, a fifteen-year-old British student
(I think the announcer calls him "Berkeley,
" but it could be "Rodney" or something else)
gives and rousing, articulate call-to-arms
for social justice, solidarity, and social justice.
This young man is one of the best speakers I've heard,
and I salute his passion and his integrity:




«(...)They can't stop us demonstrating,
they can't stop us fighting back, and how ever
much they try to imprison us in the streets of London,
those are our streets. We will always be there
to demonstrate, we will always be there to fight...
We are no longer that generation
that doesn't care,
we are no longer that generation
to sit back and take whatever
they give us.
We are now the generation
at the heart of the fight back
. (...) »

Fui apanhado numa tempestade...

sábado, 11 de dezembro de 2010

Greve nos aeroportos e Arte

Esquerda obediente e bem comportada (do blog fogemariafoge)

Considerações tardias à manifestação que no passado dia 20 de Novembro se iniciou no Marquês e se estendeu ao longo da mais estreita Avenida da Liberdade, que Lisboa de Abril conheceu.

Nunca este país assistiu a uma manifestação tão violentamente apertada pela polícia, que por sinal celebrava uma paz que pelos vistos, tanto assusta os senhores da guerra que entrincheirados no Parque das Nações, revelaram muita mais debilidade que força ou coragem.

Cedo se foi preparando o salão de festas em que se tornou este miserável pais que se propôs acolher a corja de bandidos que mais não fazem que servir obstinada e servilmente, os interesses do grande capital transnacional.

O ingrediente que fecunda, de vazio e apatia, os povos deste mundo, foi desde cedo generosamente servido, o MEDO.
O medo que me escuso de relembrar, mas que serviu de pretexto para sitiar este país.

O ridículo tomou conta das fronteiras, aos gendarmes (só me apetece chamar-lhes assim) mais valia que tivessem vestido as fardas de gala, mais apropriadas à dimensão dos convidados que aterraram em Figo Maduro e mais condizentes com as palhaçadas a que se dispuseram.

O silêncio geral, tão pouco me surpreendeu. Mais uma vez a estratégia resultara. Pergunto-me somente até quando irá valer e até quando continuaremos a seguir acriticamente os conselhos, análises, leituras e propostas que nos são impingidas por uma comunicação social invertebrada.

Chegado ao Marquês, também não me surpreendeu o tom monolítico de uma iniciativa aparentemente unitária. Tom que considero dispensável em contextos em que muito mais haveria a ganhar e muitos mais se poderiam adicionar, se a matriz imposta ao protesto não tivesse que obedecer a uma forma demasiado triste. Triste porque castradora da imaginação e limitadora da diferença que emancipa a liberdade.


E é aqui que a vaca tosse…
Começo a ter dificuldades em reconhecer-me numa esquerda que tem medo da diferença. Que sai à rua cedendo com subserviência a uma negociação imposta pela polícia, que vendendo a alma ao diabo faz com que de tantas voltas se desfaça a mortalha que abraça os corpos frios dos camaradas que em outros tempos, preferiram perder a vida, à liberdade de pensamento.

E que foge para casa antes das 5 da tarde, pois parece conviver mal com o sol posto. Uma esquerda à Sir David Attenbourough que se envergonha de desfilar ao lado da irreverência urbana, mas faz alarde em apoiar os guerrilheiros na selva.

E por isso com raiva contida lhes digo:
À merda para uma esquerda que quer que as manifestações, que são de todos porque são do POVO, sejam só suas e só para se poder mostrar.

À merda com uma esquerda que se contenta em sair à rua de cravo na mão a horas certas, conformando-se com tal possibilidade.

À merda com uma esquerda que não se indigna por ter de se manifestar entre bestas armadas até aos dentes e ainda assim se propõe auxiliá-los em tão cretina tarefa.

À merda com uma esquerda que convida guerrilheiros para a sua festa, mas abandona jovens à sua sorte, sabendo que vão servir de festim a uma matilha de cães raivosos largados em plena baixa de Lisboa.

À merda porque ainda assim continua a ser a minha esquerda, a mais querida de Portugal.

Uma esquerda que pelo valor dos homens e mulheres que a integram, reconheço capaz de rasgar novos caminhos. Uma esquerda generosa que não trocou os princípios pelo poder, que não capitulou perante o anunciado fim da história, uma esquerda que não abandona a luta contra as injustiças e contra as desigualdades e sobretudo, uma esquerda que não desiste do sonho (1).

Por isso repito, à merda com a vossa postura e vejam lá se não será tempo de acordarem.


fogemariafoge

(1) Possuo sérias discordâncias com o autor neste ponto. As acções falam mais alto que as supostas intenções

"Utopia e Barbárie" de Silvio Tendler




Aos companheiros do Brasil, onde posso eu fazer o download deste Documentário?
Abraço

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

OS EUA x JOHN LENNON



"De todos os documentários já feitos sobre John Lennon, este é o que ele amaria", disse Yoko Ono, a viúva do artista, sobre o documentário de David Leaf e John Scheinfeld. 

O ex-vocalista dos Beatles usou sua fama e fortuna para protestar contra a Guerra do Vietname e lutar pela paz mundial. O documentário mostra a transformação do artista em activista social e relata como o governo norte-americano tentou silenciá-lo e expulsá-lo do país. 

Focando-se no período de 1966 a 1976, o documentário aborda ainda a luta pelos direitos civis, a nova esquerda e os movimentos políticos, a decepção com o governo Nixon, o caso Watergate. O filme é costurado com depoimentos de pessoas importantes da época, como os activistas afro-americanos Angela Davis e Bobby Seale, os jornalistas Carl Bernstein e Walter Cronkite, o veterano do Vietname e activista Ron Kovic, o historiador e novelista Gore Vidal, entre outros. 

Mas Lennon é a presença central do documentário. Ele surge como uma pessoa de princípios, engraçado, um jovem extraordinariamente carismático, que se recusa a ficar calado frente às injustiças. Yoko Ono, ao contrário da imagem feita pela imprensa e pelos fãs, surge como factor agregador e importante nas decisões políticas do músico. 

Como o escritor Gore Vidal bem resumiu, Lennon, no início dos anos 1970, representava a vida, enquanto Richard Nixon e George Bush pai eram a morte. Disse então Lennon: O tempo fere todas as curas. Infelizmente, seu sonho, que foi calado ao som de tiros, é até hoje a prova da lucidez dessa afirmação.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Carro Movido a Ar Comprimido - Parte_1


O projecto do Comboio de Alta Velocidade em Portugal e a necessidade de o parar

Experiências de luta em Itália e no País Basco
18 de Dezembro, das 14h às 20h



O TGV, cujas obras vão ser brevemente iniciadas, é um dos projectos mais destruidores que o capitalismo concebeu para a região portuguesa. O impacto que terá no meio ambiente e nas vidas de todos é muito maior e muito diferente que aquele previsto por organizações ambientais e sociólogos do Estado. O TGV traz consigo a actualização do sistema de miséria em que todos vivemos abrindo a partir daqui o espaço necessário para que muitas mudanças sejam feitas na sociedade portuguesa. O controlo social, a transformação do território, a militarização das ruas e a urbanização desenfreada nas cidades, vilas e aldeias por onde passa a Alta Velocidade são apenas consequências imediatas de um projecto de desenvolvimento que é necessário combater.

Este processo de destruição teve já lugar em outras partes deste mundo, nomeadamente em França, Itália, Espanha e Pais Basco e em todos eles contou com grupos e movimentos de oposição variados tendo sido em alguns locais uma luta sem tréguas pela destruição das máquinas e instituições que queriam levar avante a construção da infra-estrutura do comboio. Muitas destas lutas continuam activas tal como as linhas de alta velocidade e o seu desfecho é imprevisível em inúmeros sítios. No meio de tudo isto apenas nos alegra o facto de que para muitos lutar contra o TGV é apenas o início de uma luta mais ampla contra o desenvolvimento do Capital e muitos outros dos seus projectos.


Perante a necessidade de divulgar e debater experiências de luta contra os vários projectos do TGV pela Europa (Itália e País Basco) e divulgar informação sobre este projecto em Portugal vai decorrer dia 18 de Dezembro na SEVERA a Jornada contra o TGV.

SEVERA: Largo da Severa nº 11, LIsboa, Mouraria.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

terça-feira, 30 de novembro de 2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Síntese de Novembro revolucionário português de 2010




Já qUE a revolução foi morta por revolucionários e sindicatos, que o capitalismo se tornou canibalismo, que a oposição bebe copos com o status, que os anarcas querem ser estrelas, e não há dinheiro para o natal, façam o favor de ENLOUQUECER, se desejam chegar a SER...

minha cabeça estremece



o silencio estrutural das flores 
e a mesa por baixo, a sonhar

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

"Casa do grevista" ocupada e desalojada em Lisboa

Algumas pessoas ocuparam um prédio na Rua de São Lázaro, em Lisboa. O "Colectivo Matéria Bruta", que participou numa manifestação que ontem, no final da tarde da Greve Geral em Lisboa, juntou algumas centenas de pessoas, ocupou este espaço devoluto no centro da cidade e que é propriedade da Câmara Municipal. A ocupação ocorreu ainda ontem e para hoje estava previsto um jantar no local.



A "Casa do grevista", ocupada ainda durante o dia de ontem, foi, no entanto, desalojada no final da tarde de hoje, conforme mostra o vídeo acima. A polícia retirou os ocupas e deteve 9 pessoas, que já foram entretanto libertadas.


Esta ocupação, como se percebe até pelo som do vídeo, mereceu o apoio dos vizinhos, que contestam a presença deste prédio devoluto. Esta é uma triste realidade no país e, em particular na cidade de Lisboa: muitas casas devolutas, ocupando espaço e apenas servindo os interesses da especulação, enquanto milhares de pessoas são empurradas para fora da cidade ou sujeitas aos mercados de aquisição ou aluguer, que afastam grande parte da população.


notícias aquiaqui ou aqui.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Greve Geral

Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual

Os Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual participam na Greve Geral. Tal como já divulgámos anteriormente, às 15h, estaremos todos no Rossio numa concentração conjunta. Os movimentos de precários estão juntos nesta Greve Geral desde o seu início.


Divulgamos aqui a Agenda da Greve Geral dos Intermitentes:
Em Lisboa, no Rossio:
11h/13h30 - marcha em Slow Motion organizada pelo CEM
11h/14h – Micro-Piquetes intermitentes de greve (circulam pelo centro/encontro no Rossio)
15h - Concentração/acção conjunta com os Precários Inflexiveis e conjunto dos trabalhadores a recibos verdes;
17h30 - Concerto organizado pelo SPGL(Sindicato dos Professores) com Camané, Jorge Palma, Zé Pedro (dos Xutos e Pontapés) entre outros (na Pç da Figueira) ;
20h30 – Mega-Piquete em frente ao Teatro Nacional D. Maria II
21h30 - conversa&reflexão (local: c-e-m ruas dos Fanqueiros, 150 – 2º)

No Porto, na Batalha
13h  – acção “um abraço pelo teatro"

Mais informação (aqui)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Os perigosos Anarquistas e a NATO

Videos da participação de activistas sem-partido, da PAGAN e de anarquistas na manifestação anti-Nato

Palavras de uma manifestante anónima a propósito da manifestação anti-NATO e da participação nela de anarquistas e outros elementos e grupos não-partidários:

« Manifestei-me ao lado deste grupo de anarquistas e muita honra tive em o fazer. (…) E muito orgulho tive em manifestar-me na única fracção da manif que foi sempre pacífica, mas nunca ordeira. »




Solidariedade com detidos na acção não-violenta



Manifestação anti-NATO




LISBON ANTI-NATO PROTEST



Eu fui a Lisboa abraçar-te

Por Antinatoportugal
.A ordem perturba mais do que a desordem.



Quem quiser ver, a democracia está aí: converteu a política, toda a política, no confronto com a polícia.

A política é hoje tudo aquilo que escapa ao sistema político-partidário. E contra o que escapa ao sistema político-partidário, a mentira da democracia chama a polícia.



Desta vez, não foram apenas os sitiados pelo controlo social e político – exercido pelo Estado em nome da falsa democracia – que sentiram na pele a repressão exercida pelo aparato da polícia-exército: alguns jornalistas, curiosos, transeuntes, imigrantes, ficaram espantados. Um carioca, ao entrar no Rossio às 18h da tarde ficou mudo e gelado: pensou que tinha regressado ao Morro Formiga na favela da Tijuca.

Mas a falsa democracia é por demais previsível: o ataque preventivo começou cedo. Ataque preventivo na rua, em Lisboa, ataque preventivo nos/dos Media com a série policial black block, ataque preventivo nas fronteiras. Assim desvia a falsidade da sua essência, assim limpa a ferocidade do seu Estado-Guerra: cercar o mal, isolar o desordeiro, o violento, o vândalo, os palhaços, os filhos-da-puta.

Mas se o Estado é cada vez mais guerra e cada vez mais previsível, o que dizer do PCP?



O meu avô e o meu pai foram/são comunistas. O meu avô foi preso, torturado, na prisão tentou suicidar-se para não ceder à tortura, para não ceder à violência: quis ceder a vida para não ceder a liberdade. Teve 7 dias em coma, tantos quanto os dias que ficou sob tortura do sono – a mesma tortura, entre tantas outras, que a NATO infligiu e inflige aos prisioneiros de guerra do Afeganistão e Iraque com o beneplácito do Estado português. Ao fim de 7 dias de tortura do sono, num rebate de lucidez, atirou-se a pique e de cabeça do vão das escadas do 4ª andar da prisão de Coimbra.

O meu pai, deu metade da vida pelo “partido”. Acumulou cólera e raiva, cortes nos direitos sociais e degradação da democracia. (A única coisa que ganhou foi, isso sim, o movimento de base e habitacional cooperativo que ajudou a fundar com sucesso). Acumulou mais cólera e raiva do que aquela que eu tenho.



O PCP é uma linha de comando de controlo da raiva e da cólera?



Nenhuma outra estrutura/movimento político e social no país é um “black block” em potência além do PCP.

Se a voz de comando disse-se: ocupem as fábricas, ponham cadeados nos portões, não deixem sair os camiões, o país parava. O PCP não tem de o fazer, só a ele lhe cabe essa responsabilidade, ou melhor, ao seu comité. Mas para achar a nossa responsabilidade em tudo o que fazemos, temos sempre que confrontar aquilo que realmente fazemos com as possibilidades do que poderíamos fazer e não fazemos. Nessa diferença, podemos achar a nossa irresponsabilidade.

Pergunto – não à voz de comando, aquele que declara à Lusa (Fonte: TVI) que as pessoas que foram impedidas de entrar no protesto «não pediram antecipadamente para fazer parte do corpo principal da manifestação»; ou ainda, citando a reportagem assinada no JN por Catarina Cruz, Carlos Varela e Gina Pereira, “o único caso de maior preocupação deu-se, a meio da tarde, quando um grupo não organizado foi cercado pelo Corpo de Intervenção da PSP, junto ao Marquês de Pombal. A intervenção policial deu-se a pedido dos organizadores da manifestação que perceberam que mais de 100 pessoas iam integrar o protesto. A polícia, fortemente armada, cercou o grupo na cauda do cortejo” –, pergunto a tantos comunistas e simpatizantes do PCP (e já agora aos outros movimentos partidários que a integravam) se têm o direito de impedir que um outro grupo de cidadãos exerça o mesmo direito que eles próprios gozaram no mesmo sítio, à mesma hora?

O que o PCP fez (ou a organização submetida à lógica centralista e autoritária do PCP) foi ilegal, ilegítimo e, sobretudo, um ultraje. E para fazer cumprir uma ilegalidade, chamou a polícia. E ditou-lhes: façam desta forma, cerquem esse grupo de cidadãos, ou seja, exerceu com eficácia o seu poder sobre as autoridades condicionando-as a agir fora da lei. Conseguiu o apartheid. Foi a peça que faltava no puzzle montado pelo circo do poder para legitimar mediaticamente a NATO, a sua cimeira, a sua máquina de guerra.

Foram três as entidades que montaram o circo mediático de legitimação da Cimeira da Nato: as altas-esferas políticas; a Polícia e os seus vários serviços; e os Media de Informação de Massa.

E o circo mediático tinha uma pedra-chave em todo processo de desvio da essência assassina da NATO e limpeza do sangue do seu cadastro criminal: os black block.

15 dias antes, começou-se a armar a tenda: telejornais transformados em séries policiais.

Os black block seriam a pedra-chave para montar o cerco, para apontar o adversário, para legitimar a repressão. Bastaria um carro a arder ou uma montra partida e, passe de mágica, o espectador lá de casa pensaria: de facto, os gajos da NATO até têm razão, estes tipos anti-Nato são uns arruaceiros. E todos os manifestantes passariam a ser arruaceiros e os senhores da Guerra uma espécie de caritas global d’ ajuda ao outro!

Mas desta vez, a tripla entente (Estado-Guerra, polícia e Media) não precisou de polícia infiltrada a partir as montras, para isolar o adversário, para desviar a atenção dos 35 mil mortos civis afegãos, os torturados, o horror, o ódio, o terror espalhado pela NATO. Tinham a voz de comando do PCP: a farsa dos B.B (barbies big-brother), a psicose colectiva instigada na TV por Estado-Guerra, Polícia e Media, passava a ter a sua realidade na manifestação contra a cimeira da Nato.

Nessa lógica, o PCP integrou a lógica do Estado: primeiro, limitou a sua actividade de protesto à legitimidade imposta pelo Estado da falsa democracia, como sempre tem feito (uma greve geral em 22 anos é uma espécie de suicídio assistido pelo capitalismo…), depois impedem um grupo de pessoas de juntar-se a uma só voz contra a Guerra, contra a NATO.



Cerquem esse grupo, cacem-nos, porque a democracia está em perigo!



E cercados que estávamos, passámos a ser o adversário, o arruaceiro, o vândalo, o criminoso que vem na TV. Nem uma pedra atirámos. O que o PCP e a polícia-exército fizeram foi fazer-me sentir, num par de horas, um palestino.

Num par de horas, a violência do cerco policial, converteu-nos em palestinos e palestinas (sem querer dramatizar, é apenas uma imagem, pois sei bem a diferença que vai entro um cerco num par de horas e um cerco total durante 3 gerações…). Nem sequer uma pedra atirámos. (Nem sequer aquelas garrafas d’água que se esborracharam no Vital Moreira… talvez tivessem sido anarcas com credencial!!!!!!!!!).

Entre pacifistas, libertários, membros da PAGAN, anarquistas e outros tantos seres como eu sem serem “istas” de nada, ali estiveram demonstrando a sua não-violência num momento inusitado de demonstração da violência do Estado e de clara violação de dois direitos fundamentais, o direito à manifestação em qualquer espaço público sem prévia autorização e o direito à livre circulação no espaço público do território nacional (não nos esqueçamos que ao longo do percurso foi-nos sucessivamente negado o acesso livre ao território que a voz de comando determinou que não podíamos pisar). À nossa volta, acabava a falsa democracia… mas quando a (falsa) democracia chega tão longe…



Sitiados, com polícias que nos ladeavam enfileirados a um metro ou dois de distância uns dos outros, já não tínhamos mais nada senão o corpo. Caçados os direitos, era a sobrevivência do corpo. A liberdade de ser corpo. Nada mais. Não atirámos uma pedra.



Por isso, no fim, quando te abracei, sei que abracei outro corpo, tão vivo quanto o meu, só violência de lágrimas. Mais nada.



Temos de voltar a fazer amor com a liberdade ou a democracia deixará de existir.



Pelo estado de ruína da cidadania, pela crescente militarização da polícia, pelo estado de ódio e controlo social, os nossos filhos (aqueles que continuem a afirmar a liberdade com a vida) caminharão já não escoltados de cada lado por um polícia, mas por tanques de guerra. Então, seremos cada vez mais palestinos e palestinas, cada vez mais cercados, e o nosso corpo, para viver, vai ter de explodir.



Júlio do Carmo Gomes



Mais duas breves notas:

Ainda os finlandeses impedidos de entrar na fronteira portuguesa. Num dia da vida deles, cada um desses homens, disse: o meu corpo não será uma arma. Nenhum Estado me obrigará a pegar numa arma. O meu corpo não tirará a vida a outro corpo. Objectores de consciência, pacifistas entranhados, vinham juntar-se aos activistas que em Lisboa condenaram outro tipo de homens: aqueles que, num dia da vida deles, não tendo coragem para matar com o seu próprio corpo, mandaram outro corpo puxar o gatilho. O que espanta não é a arbitrariedade da polícia, o abuso da autoridade, a sua insuficiência. Mas a normalização da violação de um direito fundamental. Já alguém apresentou uma queixa contra o Estado português no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem?



Na acção de desobediência civil não-violenta levada a cabo na manhã de sábado o ambiente de protesto e mesmo a actuação policial acabou por correr sem ânimos exaltados, com relevo para a calma dos activistas e para a descoordenação da polícia (por exemplo, não conseguiram evitar um acidente de duas viaturas, sem qualquer gravidade, não tinham carrinhas suficientes para os detidos, e, numa cidade sitiada por polícias, só passado 25 minutos passaram a ser em número igual aos dos activistas…). Em todo o tempo em que estive lá a observar, como testemunha e prestando o meu apoio aos activistas, só vi uma pessoa exaltada: Paulo Moura, jornalista do Público. Indignado comigo pelo facto de eu não ter conseguido, pelo desenrolar das circunstâncias, cumprir com o que com ele tinha combinado: ler o comunicado dos activistas uma única vez diante de todos os jornalistas presentes. Não foi possível. Não estava lá como profissional de conferências de imprensa… Exaltado, para espanto também das outras duas pessoas que assistiam aos seus amuos devido à sua árdua tarefa de jornalista violentado nos seus direitos humanos pelo conferencista de serviço, o espanto atingiu o clímax com o comentário do ofendido: “Vocês são iguais aos gajos lá de baixo da Cimeira”. Mesmo ficando na dúvida se apenas se referia aos adidos de imprensa dos senhores da guerra, respondi-lhe: “Nenhum de nós tem as mãos manchadas de sangue”. O profissional acalmou-se, respirou fundo, recompôs-se da figura: “Só tenho uma pergunta: quantos foram detidos?”. Ora, para isso, tem a polícia.



in Indymedia



.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Introducção à Ecologia Social III


A Ecologia que Defendo
A ecologia social, como a pretendo, lança mensagem que não é primitiva nem tecnocrática. Tenta definir o posto da humanidade na natureza – posto singular e extraordinário – sem cair no mundo tecnológico da caverna, por um lado, e sem voar para fora do planeta com astronaves e estações orbitais de ficção científica, por outro. Sustento que a humanidade é parte da natureza ainda que dela difira profundamente pela capacidade que tem de pensar conceitualmente e se comunicar simbolicamente.


A natureza, por outro lado, não é simplesmente uma cena panorâmica para ser vista passivamente através da janela. É o conjunto da evolução, a evolução em sua totalidade, precisamente como o indivíduo é sua biografia por completo, não uma simples soma de dados numéricos que indicam seu peso, altura, inteligência e assim sucessivamente.


Os seres humanos não são apenas uma de tantas formas de vida, uma forma meramente especializada para ocupar um dos tantos nichos ecológicos do mundo natural. São seres que, pelo menos potencialmente, poderiam fazer a evolução biótica auto-consciente e conscientemente dirigida. 

Com isso não quero afirmar que a humanidade não chegue a ter nunca um conhecimento suficiente da complexidade do mundo natural para poder tomar o timão da evolução natural e dirigi-la segundo sua vontade. Pelo contrário, minhas reflexões sobre a espontaneidade apontam para sugerir prudência nas intervenções sobre o mundo natural e sustentar que se deve modifica–lo com grande cautela. 


Porem, como argumentei em “Thinking Ecologically”, o que verdadeiramente nos faz únicos, singulares no esquema ecológico das coisas, é que podemos intervir na natureza com um grau de auto-consciência e de flexibilidade desconhecidos de todas as outras espécies.

Que possamos actuar de modo criativo ou destrutivo constitui o maior problema que devemos enfrentar em toda reflexão sobre nossa interacção com a natureza. Ainda que nossa potencialidade humana de dar auto – direcção consciente seja enorme, devemos entretanto recordar que somos ainda sub-humanos.


Nossa espécie está dividida de forma antagónica: por idade, género, classe, renda, etnia, etc. Falar de humanidade em termos zoológicos como fazem tantos ecologistas, inclusive tratando as pessoas como mera espécie e não como seres sociais que vivem em complexas criações institucionais, e não em primitiva região selvagem, é ingenuamente absurda. Uma humanidade iluminada, junta para se aperceber de suas plenas potencialidades, em uma sociedade ecológica harmoniosa, e somente uma esperança, um dever ser e não um ser.


Como será possível conseguir as transformações que proponho?
Não acredito que elas possam acontecer através do aparato estatal, isto é, um sistema parlamentar. Minha experiência com o movimento parlamentar alemão me clarificou que o parlamentarismo é moralmente daninho e corrupto. A representação dos verdes no Bundenstag confirmou, nesses últimos tempos, meus piores temores: sua maioria realista e favorável a participação da Alemanha na NATO e sustenta uma forma eco-capitalista incompatível com qualquer aproximação radical da ecologia.


Outro dado importante: o parlamentarismo invariavelmente mina a participação popular na política, no sentido que foi atribuído a esta palavra durante séculos. Para os antigos atenienses, a palavra política significava gestão da polis (cidade) por parte dos cidadãos em assembleias, mulheres, estrangeiros e escravos estavam excluídos. Também é verdade que eram os cidadãos ricos os que dispunham de recursos materiais e gozavam dos privilégios negados aos cidadãos pobres.


A ecologia radical não pode ser indiferente à realidade material da vida humana, não pode ser indiferente às relações sociais, nem as económicas. O delicado equilíbrio existente entre o uso da tecnologia com finalidade de libertação e seus usos com fins destrutivos para o planeta é matéria de juízo social, porém um juízo que vem incessantemente ofuscado quando ecologistas “sui géneris” denunciam a tecnologia como um mal irrecuperável ou a exaltam como uma virtude indiscutível. 


Os místicos e tecnocratas têm uma importante característica em comum: não se detêm para examinar a fundo a questão ecológica, nem projectam a lógica para além das mais elementares e simples premissas.


Uma Nova Política
Uma nova política deveria, segundo minha opinião, implicar na criação de uma esfera pública de base extremamente participativa a nível da cidade, do povoado, da aldeia, do bairro. O capitalismo produziu tanta desestruturação dos laços comunitários quanto à devastação do mundo natural. 


Em ambos os casos, nos encontramos frente à simplificação das relações humanas e não humanas, a sua redução às mais elementares formas interactivas e comunitárias. Entretanto, onde existirem ainda laços comunitários é justamente ai que devem ser cultivados e desenvolvidos. 


Estudei este tipo de política comunal (repito: entendo política no sentido helénico, não no significado actual que designo com estatal) em meu livro “The Rise of Urbanization and Decline of Civilizenship” (Sierra Club, 1987). Por polémico que possa parecer na Europa, porem menos nos EUA, creio na possibilidade de uma confederação de municípios livres como contra poder de base que se oponha a crescente centralização por parte do Estado-nação.



Neste terreno, uma política ecológica é possível e coerente com uma ecologia concebida como o estudo das comunidades humanas/não humanas. “A ecologia não é nada se não se ocupa da interacção entre as formas de vida para construir comunidades e desenvolverem-se como comunidades.” – Murray Bookchin

 
Marcos Antonio Scholottag
Engenheiro Ambiental
marcos@tubolaronline.com.br

terça-feira, 16 de novembro de 2010

As Dez razões para dissolver a NATO




As Dez razões para dissolver a NATO

Há 60 anos atrás foi criada a NATO para organizar a defesa dos Estados da Europa Ocidental e da América do Norte face à União Soviética. O fim da guerra fria retirou a razão de existir da NATO que, assim, ficou repentinamente sem inimigo. Começou, então, a reconversão dos seus objectivos políticos e militares a fim de justificar a sua existência. Na cimeira de Washington de 1999 redefiniu-se a estratégia da Aliança. Foi assim que, com a desculpa de contribuir para a estabilidade e a paz mundial, os líderes dos Estados membros decidiram ampliar o seu raio de acção de forma ilimitada para todo o planeta. Atrás desta mudança de estratégia está logicamente a vontade de controlar as zonas produtoras de recursos naturais de maior importância geoestratégia. Em 2002 na cimeira da NATO em Praga incorpora-se a luta contra o terrorismo internacional como um dos objectivos fundamentais e adopta-se a doutrina da guerra preventiva de Bush, o que colocou a Organização numa posição vulnerável face ao direito internacional.
Ora a melhor política de segurança é aquela que impossibilita a guerra. Para conseguir um mundo em paz, e mais justo, torna-se indispensável a dissolução da NATO.

Quais são as 10 razões que fazem da NATO um obstáculo para a Paz Mundial :

1) A NATO é o bloco militar mundial mais agressivo e mais belicista que potencia o aparecimento de novas guerras.
Com efeito, a NATO é uma organização militar que, desde 1999, decidiu abandonar o carácter defensivo da região do Atlântico Norte para adoptar uma estratégia ofensiva capaz de intervir militarmente em qualquer lugar do mundo. Tais intervenções militares podem provocar reacções em cadeia e a formação de novos blocos militares.

2) A NATO é uma organização não-democrática.
As decisões no seio da NATO são aprovadas fora de qualquer controle democrático, à margem dos parlamentos e instituições democráticas dos Estados membros, estando também sob o comando militar dos Estados Unidos da América. Uma resultante desse facto é que a NATO coage e restringe a política exterior dos Estados membros.


3) A NATO é, e tem sido, uma ameaça para a democracia.
A NATO aceitou que Estados não-democráticos tivessem sido seus membros, como foi o caso do Estado português da ditadura salazarista e do Estado grego da ditadura dos coronéis. A NATO participou também em conspirações e golpes antidemocráticos, assim como na manipulação da opinião pública. Ainda hoje fazem parte da NATO certos Estados pouco democráticos. O caso mais conhecido é o da Turquia.

4) A NATO tem como objectivo estratégico a guerra contra o terrorismo.
Uma vez desaparecida a URSS, a NATO ficou sem inimigo. Mas em vez de decidir dissolver-se inventou uma novo inimigo, o chamado terrorismo internacional. E foi com esse pretexto que interveio na guerra do Iraque em 2001, e agora no Afeganistão.


5) A NATO impulsiona e estimula novas corridas de armamento, e é por si mesma a ilustração mais viva do que é a militarização do mundo.
O aumento continuado dos arsenais dos países da NATO provoca o rearmamento reactivo de países como Rússia, China, Irão,…, assim como dos países que se consideram como seus rivais. A consequência de tudo isso é a crescente militarização do planeta.


6) A NATO é responsável pelo incremento das despesas militares, do crescimento da indústria e do comércio de armas a nível mundial.
O rearmamento constante dos Estados Unidos, assim como dos exércitos dos Estados membros da NATO, provoca um aumento contínuo das despesas militares, e promove a pesquisa em novas armas, assim como das indústrias que as produzem e do comércio que as vende. Não é, pois, de surpreender que os países da NATO representem 75% do total das exportações de armas no mundo.


7) A NATO promove a proliferação e a ameaça de guerras nucleares.
Os Estados Unidos possuem armamento nuclear em bases militares em solo europeu o que expõe os países europeus ao perigo de uma guerra nuclear.

8) A NATO define a imigração descontrolada como uma ameaça.
Toda esta estratégia de busca de novos inimigos e de ameaças imaginadas faz com que a NATO considere a imigração como uma ameaça. Esta postura de uma organização militar como é a NATO deve merecer a nossa maior preocupação


9) A NATO perpetua a tutela dos Estados Unidos da América sobre os Estados europeus e a política europeia.
Os governos europeus aceitam estar subordinados, através da NATO, aos interesses do complexo militar-indutsrial dos Estados Unidos. Esta situação impossibilita que a Europa assuma a função de promotora dos objectivos da Carta das Nações Unidas como o de evitar a eclosão de novas guerras. Para que isso seja possível torna-se indispensável a dissolução da NATO.


10) A NATO tem como função principal a defesa dos privilégios e dos interesses dos Estados mais ricos do mundo.
Esta é, indiscutivelmente, a razão mais importante para a subsistência desta organização militarista como é a NATO. O sistema sócio-econnómico dos países ricos exige o fornecimento permanente de matérias-primas que são vitais para manter o seu modelo económico que se mostra cada vez mais insustentável. A NATO é o instrumento militar que garante esse fornecimento, mediante o controle militar sobre os recursos e as regiões do planeta que são exploradas em benefício de um sistema depredatório e injusto. 


Um problema mundial chamado NATO.pdf 257.68 KB

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

sábado, 13 de novembro de 2010

Introducção à Ecologia Social II


Quais são as causas de nossos problemas ecológicos?
Atribuir a culpa de nossos problemas ecológicos à tecnologia, à mentalidade tecnológica ou à explosão demográfica é incoerência. 


A tecnologia – a má tecnologia, como os reactores nucleares, amplifica problemas existentes; porem, só por si, não os produz. 

O aumento da população é relativo, se é que seja um problema. Os demográficos (os que estudam estatisticamente as populações nos seus aspectos de natalidade, migrações, mortalidade, etc.) há muito tempo já sabem que o que faz as estatísticas crescerem são a pobreza material e a ruína cultural, e não as melhores condições de vida. Na verdade não sabem quantas pessoas poderiam viver decentemente no planeta sem provocar transtornos ecológicos. 


Os Estados Unidos, na última metade do século XIX, exterminaram milhares de bisontes, vastas áreas de florestas primitivas, e todo esse prejuízo aconteceu com a população inferior a cem milhões de habitantes, e com uma tecnologia muito atrasada para os níveis actuais.

Na realidade, não era a tecnologia e a pressão demográfica que operavam quando aconteceu esse grande drama de exploração. A praga que afligia o continente americano era mais devastadora que uma invasão de gafanhotos. Era uma ordem social que se deveria citar em cerimoniais: capitalismo, em sua versão privada no Ocidente, e em sua forma burocrática no Leste. 


Eufemismos como sociedade tecnológica, ou sociedade industrial, termos tão confundidos na literatura ecológica contemporânea, tendem a mascarar, com expressões metafóricas, a brutal realidade de uma sociedade predatória. Com isso distraímos a nossa atenção de uma economia estruturada sobre a competição.

Tecnologia e indústria são representados como os protagonistas perversos desse drama, no lugar do mercado e da ilimitada acumulação de capital, apoiando um sistema de crescimento (acumulação), que por fim devorará toda a biosfera.

Dos problemas da Hierarquia e da Dominação, aos enormes problemas sistémicos criados pôr essa ordem social devemos agregar os enormes problemas sistémicos criados pela mentalidade que começou a se desenvolver muito antes do nascimento do capitalismo e que foi completamente absorvida pôr ele. 


Refiro-me a mentalidade estruturada em termos da hierarquia e domínio, na qual a dominação do homem pelo homem deu origem a concepção de que dominar a natureza fosse o destino e inclusive a necessidade da humanidade. O facto de que o pensamento ecológico começou a difundir a ideia de que esta concepção é perniciosa, certamente é reconfortante. 


Por outro lado, ainda não se compreendeu claramente como surgiu essa concepção, porque existe e como pode ser eliminada. Devemos explorar as origens da hierarquia social e da opressão, se quisermos encontrar uma solução para a destruição da ecologia. 


É facto que a hierarquia em todas as formas – domínio do ancião sobre o jovem, do homem sobre a mulher, do homem em forma de subordinação de classe, de casta, etnia ou de quaisquer outras possíveis estratificações de status social – não foi identificada como um âmbito de domínio muito mais amplo do que o domínio de classe.

Esta tem sido uma das falhas cruciais do pensamento radical. Nenhuma libertação será completa, nenhuma intenção de criar uma harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza poderá jamais ter êxito enquanto não sejam erradicadas todas as hierarquias, e não só das classes, todas as formas de domínio, e não somente da exploração económica.


A Concepção de Ecologia Social
Estas ideias constituem o núcleo essencial de minha concepção de ecologia social contidas no livro “Ecology of Freedom”. Tenho afirmado com muito cuidado o uso que faço do termo social, quando trato de questões ecológicas, para introduzir outro conceito fundamental: nenhum dos principais problemas ecológicos que enfrentamos hoje podem ser resolvidos sem uma profunda mudança social. 


Esta é uma ideia cujas implicações não foram plenamente assimiladas pelo movimento ecológico. Levada a conclusão lógica, significa que não se pode pensar em transformar a sociedade presente de forma gradual, com pequenas mudanças. Estas são acções que podem apenas reduzir a louca velocidade com a qual a biosfera é destruída. 


Certamente, devemos ganhar o maior tempo que pudermos para evitar a destruição, entretanto o homicídio da biosfera prosseguira a não ser que possamos convencer as pessoas de que é necessária uma mudança radical e que nos organizemos para tal fim. 



Deve-se aceitar que a actual sociedade capitalista precisa ser substituída pôr aquela que chamamos de sociedade ecológica, isto é, uma sociedade que implique nas radicais mudanças sociais indispensáveis para eliminar os abusos ecológicos.



A Sociedade Ecológica
Devemos reflectir e debater profundamente sobre a natureza dessa sociedade ecológica. Ela não devera ter hierarquia, nem classes, nem o conceito de domínio sobre a natureza. Pôr isso não podemos de deixar de revalorizar os fundamentos do eco-anarquismo de Kropotkin e os grandes ideais iluministas (razão, liberdade, força emancipadora dos ensinamentos) levados a frente pôr Malatesta e Berniere. 



Os ideais humanistas que direccionaram os pensadores anarquistas de um certo tempo devem ser recuperados em sua totalidade, e transformados na forma de um humanismo ecológico que encarne uma nova racionalidade, uma nova ciência, uma nova tecnologia.

Os motivos que me levaram a acentuar os ideais iluministas libertários não foram os meus gostos e minhas predilecções ideológicas. Tratam-se, na realidade, de ideais que não podem deixar de ser levados em conta pôr qualquer pessoa comprometida ecologicamente. Em todo mundo aparecem inquietantes alternativas aos movimentos ecológicos. 



Pôr outro lado, está-se a difundir, na América do Norte assim como na Europa, uma espécie de enfermidade espiritual, uma atitude contra iluminista. Com o nome de retorno a natureza, evocam-se atávicos irracionalismos, misticismos, religiosidades declaradamente pagas. Culto das divindades femininas, tradições paleolíticas, rituais ecológicos vão se formando em nome de uma nova espiritualidade.

Esse retorno do primitivismo não é um fenómeno inócuo. 


Frequentemente está embebido de um pérfido neo-malthusianismo, que substancialmente propõe deixar morrer de fome de preferência as vítimas do Terceiro Mundo, com a finalidade de diminuir a população. A Natureza, afirmam, deve estar livre para continuar o seu curso.

A fome não é causada pelos problemas agrários, nem pelo saque das grandes empresas, nem pelas rivalidades imperialistas, nem pelas guerras civis nacionalistas, e sim pela superpopulação. 


Deste modo os problemas ecológicos são esvaziados de seu conteúdo social e reduzidos a mística interacção das forças naturais, frequentemente com acentos racistas que cheiram a fascismo. 


Por outro lado, está em vias de construção um mito tecnocrático, segundo o qual a ciência e a engenharia resolveriam todos os males ecológicos. 


Como nas utopias de H.G. Welles, afirma-se que é necessária uma nova elite para planificar a solução da crise ecológica. Fala-se de exigência de maior centralização do estado que desaguaria na criação de um Mega-Estado, em paralelo com as multinacionais. 


E como a mitologia se tornou popular entre eco-místicos, entre os sustentadores de um primitivismo em versão ecológica, do mesmo modo e teoria sistémica se tornou muito popular entre ecotecnocratas, entre partidários do futurismo, em versão ecológica.


Em ambos os casos, os ideais libertários do iluminismo – sua valorização da liberdade, do conhecimento, da autonomia individual – são negados pela sistemática pretensão de nos empurrarem para um passado obscuro, mistificado e sinistro, ou de catapultar-nos como mísseis num futuro radiante, porém igualmente mistificante e sinistro.



Marcos Antonio Scholottag
Engenheiro Ambiental
marcos@tubolaronline.com.br