terça-feira, 11 de agosto de 2009

REVOLUÇÃO SALGADA

Existe algo de profundamente inspirador na areia destas praias, neste sol, neste sal.

Existe algo mágico no acto de um homem/mulher esticar uma toalha e um corpo perante um grande oceano.
Apenas uma toalha e um corpo.

Nada de televisões, crises económicas internacionais, Gripes Ás ou Zs numa cidade de outro continente, nenhum salvador, nenhum ditador, nenhum presidente dos EUA.
Nenhum crédito, nenhum débito a um banco em falência, nenhum plano económico, nenhuma comissão europeia, nenhuma prestação de um carro ou casa.

Apenas uma toalha e um corpo.
E todo o sal do Mediterrâneo ou Atlântico.

Nada poderia estar mais perto de Deus ou do Nirvana...

Abandonemos então nossas casas e empregos, subsídios e outras compensações sociais, para encher de bolachas e leite nossas mochilas de peregrinos, e estendamos nossas toalhas sobre as areias das praias, sob o sol, através do sal de nossas vidas e oceanos emocionais, abandonados na intensa luz branca que nos abraça, quando os nossos corpos se deitam em suas libertárias toalhas, ou mergulham em ondas do Oceano-deus, do nirvana-Solar.

Abandonai então a civilização de Betão.
Regressai ao intemporal paraíso das praias, de onde nunca deveríamos ter saído, para agora, finalmente, nossas almas regressarem a casa, ao todo celeste, ao colo do Paí.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Publicidade Anti-Fumador

Ontem, de regresso de Londres, um amigo meu trouxe um pacote de tabaco de enrolar, onde estava, PREVENTIVAMENTE, a fotografia de um cadáver, e uma legenda "os fumadores morrem jovens".

Certo. Tudo muito bem, há que trabalhar a consciência do zé povinho. Acordá-lo para as consequências dos seus actos...

Mas, já agora, gostava que também podéssemos dispôr de fotografias de criancinhas mortas no Iraque ou Afeganistão, ou sem pernas e sem braços, em cada estação gasolineira deste grande país, que é o nosso.

Imaginem... Estou a entrar na auto-estrada e carrego no pedal, só para sentir a máquina que está nas minhas mãos. E lá vai uma criancinha...

Estou eu no meu passeio domingueiro, fotografando a paisagem com os meus globos oculares, e passa o zé litro com o seu porche de 1962, deixando-me com má imagem perante o meu Z3, novinho em folha... Logo, tenho que dar uma lição a esse presunçoso e à sua lata restaurada, e subo a velocidade para 200 KM hora, em apenas 15 segundos.
E prontos, lá se vai uma turma do infantário, na região de etnia curda, no norte do Iraque.

É assim a vida. E as pessoas precisam estar informadas.
Pelo menos, ao fumar, cada um mata-se apenas a si próprio. O que eu acho uma actividade muito mais autónoma, independente. Basta fumar ao ar livre. Que cada um se mate apenas a si próprio, é o que eu desejo para este novo século...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O meu Processo de Bolonha

Não estou nada feliz com o processo de Bolonha. Nada mesmo. Há meses atrás, procurando trabalho numa instituição, disseram-me que tinha sorte, pois tinha uma licenciatura de 5 anos, logo tinha preferência em relação aos colegas com a nova licenciatura de Bolonha. Não estranhei tal facto. Tirei um curso de 5 anos, onde foi incluído um estágio de 9 meses numa instituição real, de pessoas e necessidades reais. Não tinha ordenado, mas o trabalho era bem a sério.


Hoje tirava o mesmo curso em 3 anos. Sem muitas das cadeiras e, principalmente, sem o estágio. Assim acontece com a maioria dos actuais cursos superiores. E, se desejam os adicionais 2 anos de curso que lhes dará direito ao grau de mestre, os alunos e suas famílias verão o valor das propinas quadruplicarem, ou pior, conforme o curso. O resultado é óbvio. Só famílias de classe média alta podem suportar tal esforço, para um ou dois filhos, e não sem sua dose de sacrifício.

Abaixo destes, todos os outros desistem, ou endividam-se em créditos bancários, o que até é bastante frequente no nosso país. Considerando a actual empregabilidade da maior parte dos licenciados (pode encontrá-los em boa parte das caixas de supermercado, ou como empregados de mesa na pizzaria do seu centro comercial), a escolha para a restante classe média torna-se a cada dia mais fácil. Trabalhar sem uma formação específica, em seja o que for. Mas existem alternativas, é verdade.


E consideremos a formação dos nossos futuros mestres. Dois anos para completarem várias cadeiras e um seminário, uma gigantesca investigação científica, tantas vezes sem o necessário apoio do professor\orientador, que têm tantos outros projectos, mestrandos e responsabilidades. Um trabalho que, em alguns casos, alcança as mil páginas, quase metade delas com estudos estatísticos. No final, os avaliadores só irão dar uma olhadela geral, habituados que estão a estas lides, e se focarão na defesa de trabalho, uma prova oral. E, na generalidade dos casos, nenhum cidadão do país real alguma vez lucrará com tal odisseia mestral, excepto as lojas de fotocópias, e os departamentos das universidades que ficam com uma infinita fonte de folhas de rascunho. E o actual Governo, é claro, que melhor ocultará o seu desinvestimento nas universidades com as mega-propinas associadas à obtenção do grau de mestre.

Não estou nada feliz com o processo de Bolonha.