sábado, 23 de outubro de 2010

Economia e Sangue - capitulo 3



Logo após o trabalho, saindo apressado na esperança de afundar o focinho num suculento hambúrguer, quando deparei com uma marcha militar, carregada de louvores, corpos mutilados e flores de todas as cores.

Como um carnaval, de apropriada luxúria e carne em fartura, a marcha era encabeçada por um carro principal, de estrutura piramidal, onde costelas humanas formavam andaimes e andares, em cujas extremidades pendiam, rasgadas, cabeças de barbudos e vencidos guerreiros.

Para minha profunda irritação, a marcha parou ali mesmo, e um grande general, coberto de medalhas como um pombo coberto de penas, ostentando colares de dentes descarnados, de olhos enterrados na cara e nariz descaído, começa então a rugir palavras ao desbarato, como uma metralhadora descontrolada, onde qualquer sentido ou ideia se perdeu, para grande euforia da uma multidão, cujos olhos eram pérolas negras rodeadas de sangue.

Toda esta pompa e circunstância mexeu-me com os nervos. Tenho o carro preso pela multidão, e a merda do general parece nunca mais se calar. Sinto-me preso, estagnado, encurralado, um girino numa poça prestes a secar.

E as moscas, já vos falei das moscas? Eram milhões, mas ninguém parecia notar. Era de esperar que estes senhores da guerra tivessem umas armas químicas, mas, possivelmente, as moscas deviam ser aliados deles, dançando e celebrando o festim de carne putrefacta do carro principal…

E o meu carro… não tenho sorte nenhuma.


Thom Yorke Analyse (From The Basement)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Economia e Sangue - capitulo 2



…senti leve torpor e náusea no corpo, logo pela manhã, e ela levou-me pela mão até à praia, sentir o cheiro do mar…


…ao chegar-mos, um nauseabundo fedor acordou-me de um lascivo coma matinal…


…milhares de cabeças afegãs flutuavam na praia, cobrindo o oceano…


…ela não aguentou e começou a chorar – não acredito na maldita poluição que estas multinacionais petrolíferas largam por todo o lado… pobres tartarugas, pobres gaivotas, como sobreviverão elas agora?


…quanto a mim, que me sentia já muito melhor, estava com pouca paciência para sensibilidades ecológicas, e a barriga dava horas de alarme…
 

-sim fofinha, é verdade, temos de fazer alguma coisa… falamos sobre isso no Mac – encerrei eu com genial elegância, levando-a pela mão…


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Economia e Sangue - capitulo 1


Mais uma vez ficamos engarrafados em mais uma via principal de mais uma mega-cidade qualquer.

- Um acidente - disseram, mas não passava de uma avalanche de criancinhas iraquianas decepadas, de um qualquer camião da BP. – Andam de barriga cheia, e depois admiram-se – cuspo eu com grande sabedoria, na exacta direcção do condutor.

-Apertem mas é os cintos, que esta merda vai girar – arranha o meu excelso condutor, enquanto sacode a verga das mudanças. E disparamos pela sangrenta auto-via, guinando e chiando com grande euforia, logo seguidos por dezenas de veículos provocados por tal desempenho motorizado.

Ao todo, segundo o jornal das 10 da manha, 10 carros se despistaram na coagulada estrada, sete pessoas morreram, três ficaram tetraplégicos, e um deixou de foder para sempre. Mas nós estávamos à frente, e em 15 minutos estávamos no trabalho.

Mais um dia começou. Que tédio… Nada acontece na minha vida.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

domingo, 3 de outubro de 2010

sábado, 2 de outubro de 2010