sábado, 23 de outubro de 2010

Economia e Sangue - capitulo 3



Logo após o trabalho, saindo apressado na esperança de afundar o focinho num suculento hambúrguer, quando deparei com uma marcha militar, carregada de louvores, corpos mutilados e flores de todas as cores.

Como um carnaval, de apropriada luxúria e carne em fartura, a marcha era encabeçada por um carro principal, de estrutura piramidal, onde costelas humanas formavam andaimes e andares, em cujas extremidades pendiam, rasgadas, cabeças de barbudos e vencidos guerreiros.

Para minha profunda irritação, a marcha parou ali mesmo, e um grande general, coberto de medalhas como um pombo coberto de penas, ostentando colares de dentes descarnados, de olhos enterrados na cara e nariz descaído, começa então a rugir palavras ao desbarato, como uma metralhadora descontrolada, onde qualquer sentido ou ideia se perdeu, para grande euforia da uma multidão, cujos olhos eram pérolas negras rodeadas de sangue.

Toda esta pompa e circunstância mexeu-me com os nervos. Tenho o carro preso pela multidão, e a merda do general parece nunca mais se calar. Sinto-me preso, estagnado, encurralado, um girino numa poça prestes a secar.

E as moscas, já vos falei das moscas? Eram milhões, mas ninguém parecia notar. Era de esperar que estes senhores da guerra tivessem umas armas químicas, mas, possivelmente, as moscas deviam ser aliados deles, dançando e celebrando o festim de carne putrefacta do carro principal…

E o meu carro… não tenho sorte nenhuma.