domingo, 30 de outubro de 2011

PAUS


Isto dos PAUS....
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Não há razões, não há conceitos, não há paciência para bios.....
Tocamos juntos porque gostamos uns dos outros e precisamos de fazer música. PAUS é o resultado de quando nos juntamos os quarto com instrumentos e uma cervejas.....
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Mas pronto, só para que saiba.....
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Há pouco menos que um ano atrás, tocamos pela primeira vez juntos na avenida. Queríamos que o nosso primeiro ensaio de sempre fosse assistido. Quase como um princípio testemunhado, um começo para a história partilhado com mais pessoas do que apenas nós quatro.....
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A ideia na verdade começou de uma conversa que tivemos sobre a possibilidade ou interesse de tocarmos com duas baterias pegadas pelo mesmo bombo - e assim nasceu a ideia da bateria siamesa. Depois do primeiro ensaio, que tal como qualquer primeiro ensaio, não foi nada de especial mas deu para perceber que o potencial polirítmico do instrumento e a química que existia entre nós os quatro,( o hélio e o quim na bateria, o makoto no baixo e o shela nos teclados e todos a tentar cantar) era qualquer coisa de nova e desafiante. Mas a cada ensaio ou gravação percebemos que ainda há muita coisa para explorar. ....
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Outra coisa que decidimos, simplesmente porque nos podíamos dar a esse luxo e porque não nos apetecia aborrecer no estúdio, foi atrevermo-nos a irmos com as músicas o mais abertas possíveis para a gravação. Objectivamente isto quer dizer que o que levamos para gravar são ritmos e fills de bateria e depois reagimos a isso. É sempre uma surpresa, há um oportunidade sempre presente de falharmos e isso é o que nas dá a tusa para fazermos as músicas assim. Acho que essa tensão se sente no resultado final. Compor enquanto se grava é uma novidade para nós e faz todo o sentido para um grupo de pessoas que se aborrece com demasiada facilidade.....
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Pronto. Isto é PAUS.....
Beijinhos....



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Poema dum Funcionário Cansado



A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só


António Ramos Rosa



Sabem que me escondo na Bellevue
Ninguém comparece ao meu rendez-vous

Os meus amigos enterrados no jardim
E agora mais ninguém confia em mim

Era só para brincar ao cinema negro
Os corpos no lago e cartões jovens e desemprego

domingo, 2 de outubro de 2011

é só tirar e levar


Na minha descida ao querido jardim do século XIX, verde jóia no seco verão alentejano, sofro com a perspectiva de ter apenas o “correio da manhã” como leitura para acompanhar o meu “descafé”. Homicídios, violações, crise não combinam com um “Nicola” e um saquinho de refinado açúcar. E voltar atrás, com este calor…

Mas o meu caminho passa pela “casa da cultura”, e logo, pela biblioteca municipal. Perfeito, lá encontrarei a companhia certa para ler.

Chegado à biblioteca, porta aberta, ar condicionado ligado, mas ninguém para me atender. Devem chegar a seguir, pensei eu enquanto me dirigia para a secção de literatura inglesa.
Para minha surpresa, autores norte-americanos, ingleses, bem como germânicos, estavam profundamente misturados, como uma louca orgia de ecstasy e verão, levando-me a perguntar o porquê  da rotulagem das diferentes nacionalidades de origem.
Deve ser uma questão de literatura anglo-saxónica, onde nem a ordem alfabética é respeitada, como se a pseudo-organização da biblioteca fosse a ruína de um distante passado.

Nisto passaram 20 minutos, eu sozinho numa abandonada biblioteca… quem é que rouba livros não é verdade? Ainda se fosse cobre…

Para ajudar toda esta fantástica situação, encontrei a “Instrução dos Amantes”  de Inês Pedrosa  em literatura germânica. Como nunca li, se calhar até é verdade, literatura germânica escrita por uma autora portuguesa quiçá.

Alguém entra, e logo sobe umas escadas laterais à biblioteca, frustrando as minhas expectativas de alguma atenção e cuidado. Mais de meia hora passou, e a minha paciência esgotou, pelo que peguei num livro de Annaís Nin, “ Debaixo de uma Redoma”, que nem é das minhas autoras favoritas, e saí calmamente, passando por funcionários e cidadãos, a caminho do meu jardim. Depois devolvo claro.

…e antes do café ser servido, comecei a ver toda a minha recente aventura como uma distópica metáfora.
Portugal, o “meu” país, espelhado perfeitamente numa biblioteca do interior.
É só tirar e levar.
(e não me refiro ao cobre)

Manifesto Mulheres Brasileiras



Vimos por meio deste, manifestar nosso repúdio ao preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal e exigir que providências sejam tomadas por parte das autoridades competentes.

Concretamente, apontamos a comunicação social portuguesa e a forma como, insistentemente, tem construído e reproduzido o estigma de hipersexualidade das mulheres brasileiras. Este estigma é uma violência simbólica e transforma-se em violência física, psicológica, moral e sexual. Diversos trabalhos de investigação, bem como o trabalho de diversas organizações da sociedade civil, têm demonstrado como as mulheres brasileiras são constantemente vítimas de diversos tipos de violência em Portugal.

O estigma da hipersexualidade remonta aos imaginários coloniais que construíam as mulheres das colônias como objetos sexuais, escravas sexuais, e marcadas por uma sexualidade exótica e bizarra. Cita-se, por exemplo, a triste experiência da sul-africana Saartjie Baartman, exposta na Europa, no século XIX, como símbolo de uma sexualidade anormal. Em Portugal, esses imaginários coloniais, infelizmente, ainda são reproduzidos pela comunicação social.

Teríamos muitos exemplos a citar, mas focaremos no mais recente, o qual motivou um grupo de em torno de 140 mulheres e homens, de diferentes nacionalidades, a mobilizarem-se, a partir das redes sociais, para escrever este manifesto e conseguir apoio de diferentes organizações da sociedade civil. Trata-se da personagem “Gina”, do Programa de Animação “Café Central” da RTP (Rádio Televisão Portuguesa). A personagem é a única mulher do programa, a qual, devido ao forte sotaque brasileiro, quer representar a mulher brasileira imigrante em Portugal. A personagem é retratada como prostituta e maníaca sexual, alvo dos personagens masculinos do programa. Trata-se de um desrespeito às mulheres brasileiras, que pode ser considerado racismo, pois inferioriza, essencializa e estigmatiza essas mulheres por supostas características fenotípicas, comportamentais e culturais comuns. Trata-se de um desrespeito a todas as mulheres, pois ironiza/escarnece sua sexualidade, sua possibilidade de exercer uma sexualidade livre, o que pode ser considerado machismo e sexismo. Trata-se, ainda, de um desrespeito às profissionais do sexo, pois ironiza o seu trabalho, transformando-o em símbolo de deboche/piada/anedota, sendo que não é um trabalho criminalizado em Portugal, portanto, é um direito exercê-lo livre de estigmas. No anexo 1 desta carta estão: o vídeo de um dos episódios (na versão on-line), e a transcrição de um dos episódios, bem como, a imagem dos personagens (na versão impressa). Destacamos que o fato é agravado por se tratar de uma emissora pública, a qual em hipótese alguma deveria difundir valores que ferem o direito das mulheres e da dignidade humana.

Além deste caso que envolve a televisão, existem muitos outros em revistas, jornais e publicidades, que exemplificam a disseminação do estigma em vários meios de comunicação de massa e cujos exemplos seguem em anexo. Seja qual for o meio de comunicação utilizado, é constante a representação estereotipada da mulher brasileira como objeto sexual, o que acaba por interferir na forma como as imigrantes brasileiras são percebidas e tratadas dentro da sociedade portuguesa. 

-Anexo 2: a capa da Revista Focos, edição 565/2010, a qual apresenta as mulheres brasileiras como sedutoras e as representa com uma imagem cujo destaque é a bunda;
-Anexo 3: a reportagem do Diário de Notícias, edição do dia  26/06/2011, sobre o movimento SlutWalk Lisboa, a qual descontextualizou uma imagem, acabando por reforçar os estigmas contra a mulher brasileira, fazendo exatamente o contrário do objetivo do movimento;
-Anexo 4:  publicidade do Ginásio Holmes Place- Health Club, atual, sobre uma modalidade de aulas intitulada “Made in Brazil”, a qual é representada por uma imagem cujo destaque é a bunda;
-Anexo 5: publicidade da Agência de Viagens Abreu, na Revista B de Brasil, edição inverno de 2001, cuja a imagem do Brasil é uma mulher e a mensagem da publicidade é uma referência direta aos descobrimentos e a disponibilidade, aos portugueses, do que havia e há no Brasil.
-Anexo 6: episódio do programa de humor "Mini-Malucos do Riso", da SIC, no qual afirmam que no Brasil só há prostitutas e futebolistas.

Exigimos, das autoridades competentes, que se faça cumprir a “CEDAW – Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres”, da qual tanto Portugal, como o Brasil, são signatários. Destacamos, também, o “Memorando de Entendimento entre Brasil e Portugal para a Promoção da Igualdade de Gênero”, no qual consta que estes países estão "Resolvidos a conjugar esforços para avançar na implementação das medidas necessárias para a eliminação da discriminação contra a mulher em ambos os países".

sábado, 1 de outubro de 2011