quinta-feira, 29 de abril de 2010

Enquanto bebemos o nosso café na esplanada...


A sol brilha forte. A nossa alegria multiplica-se pelo numero de amigos que vemos na esplanada, aqueles que não vemos há já não sei quanto tempo.

Os miúdos brincam com um raio de uma lata de coca-cola, fazendo um barulhão que quase parece o fim do mundo. Mas não é. Apenas crianças brincando com lixo.

O fim do mundo, o verdadeiro, o mundo que conhecemos, começou bem longe daqui, numa tal de WALL STREET, NASDAQ e outras siglas importadas do outro lado do Oceano, dos países "desenvolvidos", que inventaram um FMI, entre outros, e criaram dívidas para o "nosso" Estado.
"Vivemos acima das nossas posses" dizem-nos nos programas da manhã da télévisão.

Mas eu nem sequer tenho um carro. Terá sido aquele chocolate que comi ontem?
Não interessa. Para salvar o PAIS, nossos democraticamente eleitos lideres irão ajoelhar-se perante FMI e Bancos Centrais, e pedir empréstimos que só os meus filhos por nascer irão pagar, quando completarem 50 anos.

A escravidão será a nossa herança.
Tudo isto enquanto bebemos o nosso café na esplanada.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Governo diz que Estado deve poder recorrer a trabalho temporário, e eu que nao sei se vou receber em Abril




A ministra do Trabalho sublinhou, esta terça-feira, que a par dos privados também o Estado tem que ter a possibilidade de recorrer a trabalho temporário, «desde que seja dentro da legalidade».

A ministra do Trabalho considera que, nas sociedades actuais, o recurso do Estado ao trabalho temporário deve ser encarado com "naturalidade". Helena André entende que não há nada de errado nesta opção, desde que seja tudo feito «dentro da legalidade», com «respeito pelos direitos de quem trabalha»...

Eu, precário ligado ao IEFP, instituição pública, não sei se vou receber este mês. Não sei se vou poder pagar casa este mês, não sei se vou poder pagar água e gás este mês, não sei se vou poder comer, com os meus meios, este mês.

Porque trabalho para um Estado "Moderno"...

sábado, 17 de abril de 2010

Acção Contra Call Center em simultâneo nos Mayday Lisboa, Porto e Coimbra



Bom dia, fala a Ana... Bom dia, fala o João... Bom dia, fala o Pedro... Bom dia, fala a Susana... António, Sara, Miguel, Zé, Victor, Marta...

Os Call-Centers estão aí para servir... ou melhor, estão aí para se servir. Para que os patrões das grandes empresas se possam servir das vidas e das pessoas que exploram sob a precariedade mais repressiva. Portugal Telecom, TMN, Vodafone, Optimus, Banco Totta, BPI, BPN, SAPO, Continente, Pingo Doce... mas também no Estado, na CGD, na DGCI, na Segurança Social... só para lembrarmos alguns dos mais conhecidos.

Os seus chefes ou patrões não servem ninguém senão a si próprios. Servem-se do roubo das vidas e das expectativas de uma geração para poder contar todos os segundos de chamadas telefónicas em euros, sempre mais euros. Os capatazes dentro dos Call-Center esperam um dia, quando crescidos, ser grandes, no meio de precários, afinal, eles também são precários... o isolamento e a competição entre pares tem destas coisas, volta pessoas umas contras outras.

Mas os mesmos servem-se sempre. Servem-se da impunidade com que gozam do esforço da maioria. Servem-se da influência e da corrupção que lhes dá ligações ao poder. Servem-se de quase todos, num jogo sempre viciado à partida.

Mas desta vez, demos a volta às regras. Usámos os meios que eles criaram na exploração para passar uma mensagem que vale por todos e por todas. Demos a volta à precariedade falando com quem tem de ser ouvido para lá da máquina, dos segundos, dos euros. Vamos dar a volta à precariedade porque queremos juntar num só grito todas as vozes presas nos telefones dos Call-Centers. No 1º de Maio juntamo-nos num grito de Mayday. Somos muitos mais!

terça-feira, 13 de abril de 2010

A Quarta Guerra Mundial - The Fourth World War (2003)



(EUA, 2003, 76min. - Direção: Rick Rowley)

Documentário quase poético sobre um dos temas mais importantes do planeta: A luta mundial contra a opressão do neoliberalismo.

A regra do empobrecimento de uma população é quase sempre a mesma: Emprestar dinheiro do FMI, cumprir seus ajustes estruturais, privatizar todos os setores que possam gerar lucros, seguir as regras liberais da OMC. Com isso sempre vem a miséria e daí o descontentamento. Para combater tanta gente descontente que sai às ruas, usa-se a polícia e o exército, para que o Estado que as corporações querem, não se transforme no Estado que as pessoas querem.

A Quarta Guerra Mundial hoje é travada em todos os cantos do mundo. De um lado os povos e do outro os governos dos países que se ajoelharam ante as exigências das grandes corporações.
Veja os depoimentos e lutas contra políticas neoliberais em alguns países pelo mundo: Argentina, Coreia, África do Sul, México, Itália, Canadá. Choque-se com a opressão brutal pura e simples que o Estado de Israel faz sobre a Palestina. ( Possui cenas que ferem as nossas sensibilidades, mas que não tornam este documentário menos real, menos parte da nossa História colectiva). AQUI

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Thich Nhat Han: 2º Treino da Plena Atenção


"Consciente do sofrimento causado pela exploração, injustiça social, roubo e opressão, estou determinado a praticar generosidade no meu modo de pensar, de falar e de agir. A minha opção é não roubar e não possuir nada que porventura pertença a alguém - em vez disso, hei-de compartilhar o meu tempo, energia e recursos materiais com quem precise.

Consciente de que a busca da riqueza, fama, poder e prazeres sensoriais podem criar sofrimento; de que a felicidade depende do meu estado de espírito e não de condições externas; e de que para ser feliz aqui e agora a única coisa que preciso é lembrar-me de que já possuo todas as condições para tal, prometo viver de uma forma que contribua para a redução do sofrimento de todos os seres vivos na Terra."

Thich Nhat Han (2º Treinamento da Plena Atenção)

viversemdinheiro

sábado, 10 de abril de 2010

O Neoliberalismo segundo Frei Betto


O neoliberalismo é o novo carácter do velho capitalismo. Este adquiriu força hegemónica no mundo a partir da Revolução Industrial do século 19. O aprimoramento de máquinas capazes de reproduzir em grande escala o mesmo produto e a descoberta da electricidade possibilitaram à indústria produzir, não em função de necessidades humanas, mas sobretudo visando ao aumento do lucro das empresas.

O excedente da produção e a mercadoria supérflua obtiveram na publicidade a alavanca de que necessitavam para induzir o homem a consumir, a comprar mais do que precisa e a necessitar do que, a rigor, é supérfluo e até mesmo prejudicial à saúde, como alimentos ricos em açúcares e gordura saturada.

O capitalismo é uma religião laica fundada em dogmas que, historicamente, merecem pouca credibilidade. Um deles reza que a economia é regida pela "mão invisible" do mercado. Ora, em muitos períodos o sistema entrou em colapso, obrigando o governo a intervir na economia para regular o mercado.

O fortalecimento do movimento sindical e do socialismo real, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial (1940-1945), ameaçou o capitalismo liberal, que tratou de disciplinar o mercado através dos chamados Estados de Bem-Estar Social (previdência, leis trabalhistas, subsídios à saúde e educação etc.).

Esse carácter "social" do capitalismo durou até fins da década de 1970 e início da década seguinte, quando os EUA se deram conta de que era insustentável a conversibilidade do dólar em ouro. Durante a guerra do Vietnam, os EUA emitiram dólares em excesso e isso fez aumentar o preço do petróleo. Tornou-se imperioso para o sistema recuperar a rentabilidade do capital. Em função deste objectivo várias medidas foram adoptadas: golpes de Estado para estancar o avanço de conquistas sociais (caso do Brasil em 1964, quando foi derrubado o governo João Goulart), eleições de governantes conservadores (Reagan), cooptação dos social-democratas (Europa ocidental), fim dos Estado de Bem-Estar Social, utilização da dívida externa como forma de controle dos países periféricos pelos chamados organismos multilaterais (FMI, OMC etc.) e o processo de erosão do socialismo real no Leste europeu.

O socialismo ruiu naquela região por edificar um governo para o povo e não do povo e com o povo. À democracia económica (socialização dos bens e serviços, e distribuição de renda) não se adicionou a democracia política; não nos moldes do Ocidente capitalista, mas fundada na participação activa dos trabalhadores nos rumos da nação.

Nasceu, assim, o neoliberalismo, tendo como parteiro o Consenso de Washington ¬ a globalização do mercado "livre" e, segundo conveniências, do modelo norte-americano de democracia (jamais exigido aos países árabes fornecedores de petróleo e governados por oligarquias favoráveis aos interesses da Casa Branca).

O capitalismo transforma tudo em mercadoria, bens e serviços, incluindo a força de trabalho. O neoliberalismo o reforça, mercantilizando serviços essenciais, como os sistemas de saúde e educação, fornecimento de água e energia, sem poupar os bens simbólicos ¬ a cultura é reduzida a mero entretenimento; a arte passa a valer, não pelo valor estético da obra, mas pela fama do artista; a religião pulverizada em modismos; as singularidades étnicas encaradas como folclore; o controle da dieta alimentar; a manipulação de desejos inconfessáveis; as relações afectivas condicionadas pela glamourização das formas; a busca do elixir da eterna juventude e da imortalidade através de sofisticados recursos tecnocientíficos que prometem saúde perene e beleza exuberante.

Tudo isso restrito a um único espaço: o mercado, equivocadamente adjectivado de "livre". Nem o Estado escapa, reduzido a mero instrumento dos interesses dos sectores dominantes, como tão bem analisou Marx. Sim, certas concessões são feitas às classes média e popular, desde que não afectem as estruturas do sistema e nem reduzam a acumulação da riqueza em mãos de uma minoria. No caso brasileiro, hoje os 10% mais ricos da população ¬ cerca de 18 milhões de pessoas ¬ têm em mãos 44% da riqueza nacional. Na outra ponta, os 10% mais pobres sobrevivem dividindo entre si 1% da renda nacional.

Milhares de pessoas consideram o neoliberalismo como estágio avançado de civilização, assim como os contemporâneos de Aristóteles encaravam a escravidão um direito natural e os teólogos medievais consideravam a mulher um ser ontologicamente inferior ao homem. Se houve mudanças, não foi jamais por benevolência do poder.

Autor: Frei Betto.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ANTÓNIO SÉRGIO (1883-1969)


Voltando ao tema, dos grandes pensadores, ensaístas, homens de ideias e de acções, hoje vou chamar a vossa atenção sobre António Sérgio de Sousa.
António Sérgio, nasceu em Damão (Índia Portuguesa) e foi influenciado pelo contacto com várias culturas. Seguiu a tradição familiar e estudou no Colégio Militar, completando o curso da Marinha de Guerra. Abandonou a Marinha com a implantação da República em 1910. Sérgio não considerava a questão república/monarquia importante. Importante seria o progresso económico e moral de Portugal. Socialismo, para ele não era de modo nenhum o socialismo marxista. Sérgio estaria situado numa linha política social-democrata, admirando a Inglaterra, um posicionamento semelhante ao que seria adoptado pelos países da Escandinávia. A sua acção foi marcadamente voltada para a problemática da Educação, chegando a ser, por dois meses, Ministro da Educação. Um dos grandes problemas de Portugal, era o analfabetismo.
O século XIX foi caracterizado por reformas que raramente passaram dos textos legislativos ou declarações de intenções.

O desenvolvimento do capitalismo português, na sua unidade fundamental e na diversidade das suas orientações, não determinou entre nós um alto desenvolvimento das forças produtivas. O sistema escolar português não ultrapassou, por isso mesmo, os limites dos estreitos interesses económicos e culturais da burguesia. Nunca se alcançou a democratização real da Educação e da Instrução.

O conceito de cultura de António Sérgio: Homem culto (...) significará um indivíduo de juízo crítico, afinado, objectivo, universalista, liberto das limitações de nacionalidade e de classe (...). (...) e somos filósofos na proporção exacta em que nos libertamos dos limites que nos inculcam a raça, a nacionalidade, o sítio, o instante, o culto, o temperamento, a classe, o sexo, a moda, a profissão.

Neste campo, a sua actividade foi imensa: fundou a revista Pela Grei; colaborou na revista Águia, com homens como Teixeira de Pascoaes ou Fernando Pessoa; escreveu também na revista Seara Nova, onde se encontraram personagens como Aquilino Ribeiro, Raul Brandão ou Azeredo Perdigão; foi director da "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira"; escreveu uma imensa obra teórica em grande parte reunida nos Ensaios; lançou em Portugal a ideia do Cooperativismo, que se viria a revelar a sua obra mais duradoura, nomeadamente ao nível das cooperativas de habitação; fundou a Junta Propulsora dos Estudos; difundiu o método Montessori; criou o ensino para deficientes e o cinema educativo, tendo ainda tempo para fundar o Instituto Português do Cancro.
Foi professor, nomeadamente na Universidade de Santiago de Compostela. Pugnava por combater o ensino meramente baseado na memória e treinar as crianças no exercício da democracia, vendo a escola como «modelo» para a sociedade. Entendia o ensino como factor de ressurgimento nacional e criador de uma elite humanista, sendo a cultura vista como produto da Democracia, por oposição ao autoritarismo.

António Sérgio foi um opositor ao regime de Salazar. Sérgio queria algo original, um socialismo associativista, libertador ou mesmo libertário, a criar de dentro para fora, pacificamente, pela extensão gradual mas ilimitada do princípio cooperativo. Era um homem cultíssimo e de grande curiosidade mental, leitor permanente e crítico, conhecia bem as obras de Marx e não ignorava a vida e as acções deste, mas nunca foi marxista, nem revelou tendência para o ser.

A luta política de Sérgio contra o regime não parou e só esmorecia quando as circunstâncias eram por de mais impeditivas da expressão do pensamento. Tendo acabado por se convencer, após o seu regresso ao país em 1933 e até ao insucesso da candidatura Norton de Matos, de que o sistema nunca se liberalizaria a ponto de procurar quem o continuasse ou lhe sucedesse recorrendo a eleições honestas, o pensador voltou a ser conspirador activo e passou de novo a privilegiar uma solução de índole militar.
Esteve intensamente envolvido na preparação e na execução da candidatura presidencial de Humberto Delgado, mas convencido de que poderia redundar num golpe militar, em vez de umas tranquilas eleições democráticas.

Vemos hoje o que foi a vida de Sérgio pela seguinte síntese:
Sérgio foi preso em 1910, 1933, 1935, 1948 e 1958. E a propósito das últimas quatro vezes pensou (e depois escreveu) que foi na prisão que encontrou a verdadeira «união nacional» - de oposição à ditadura militar, primeiramente, e, depois, a Salazar, ao Estado Novo e ao fascismo."
O essencial da actividade política de Sérgio é sempre enquadrável com o seu aspecto teórico - a ligação à Democracia, à Liberdade, como via para a Educação e Cultura.

casoseacasosdavida