quinta-feira, 26 de novembro de 2009

É o direito estúpido, é o direito...



Há coisas na vida que se arrastam por tempos indetermináveis. Todos, sem excepção conseguimos realizar um exercício de memória e recuperar no baú duas ou três coisas que temos de fazer, mas que não nos tem apetecido... Resultado, a coisa arrasta-se por muito tempo até que tem mesmo de ser!
Acontece coisa parecida com o caso "Casa Pia".
Não me irei alongar sobre coisas que não domino, nomeadamente, efectuar o triste número dos "ses" e "na minha opinião", mas como cidadão e, acima de tudo, profissional que trabalha directa e indirectamente com crianças e jovens (em e sem risco) há um conjunto de aspectos que me afligem, inquietam e preocupam no que concerne à forma como um caso tão "pantanoso" se arrasta durante tanto tempo, sem que haja um fim aparente à vista. As considerações não têm, obviamente, qualquer relação directa com a noticia que motiva este texto.
1. Se a justiça não cria mecanismos de se tornar mais célere, independentemente do caso em questão, na promoção da defesa do SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA e no cumprimento do direito de menores, corremos o risco dos menores o deixarem de ser (em 7 anos, uma criança de 12 desenvolve-se num adolescente de 19), passando tais acontecimentos a pesar definitivamente e irremediavelmente sobre os "ombros" dos jovens. Isto é inaceitável para o bom do desenvolvimento psíquico e afectivo de qualquer pessoa, quanto mais nas idades em que a identidade se começa a formar e consolidar.
2. O SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA nem sempre é salvaguardado, estando dependente, caso a caso, dos respectivos procuradores, advogados e juízes. Ou seja, não há efectivamente o respeito pelo SUPERIOR INTERESSE DA CRIANÇA...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Recibos verdes - se tirei uma licenciatura, porque razão sou um escravo?

O capitalismo medíocre resiste à modernização e insiste na precariedade. Quem quer decência no trabalho já descobriu a forma de a enfrentar

Movimento contra falsos recibos verdes acaba de editar um livro

A situação é surreal: dezenas de professores contratados por uma empresa de Lisboa na garagem de uma empresa de reparação automóvel de Matosinhos para leccionarem Música e Inglês nas escolas do Porto. Isto ocorre no quadro das chamadas actividades de enriquecimento curricular, obra do Ministério da Educação e dos municípios. Estes jovens professores podem almejar, depois de feitos todos os descontos, receber menos de quatrocentos euros por mês. O abuso foi denunciado pelo deputado José Soeiro e pelo FERVE - Fartas/os d'Estes Recibos Verdes -, um movimento social que se dedica a lutar contra os falsos recibos verdes. Este pedaço de papel tem o poder, com a cumplicidade activa do Estado, de transformar 900 mil trabalhadores em mercadoria barata e descartável. Para celebrar dois anos de luta, o FERVE organizou um livro editado pela Afrontamento. Esta crónica tem o seu título, como singela homenagem. É sobre "desigualdades sólidas, capitalismo líquido, vidas gasosas", para retomar a certeira formulação de Sandra Monteiro, directora da edição portuguesa do "Le Monde diplomatique". Uma obra colectiva que conta também, entre outros, com contributos de Manuel Carvalho da Silva ou do próprio José Soeiro, para além de depoimentos pungentes de quem, maioritariamente jovem, tem de viver na corda bamba.

Sabemos que o tal capitalismo líquido, o que corrói todos os laços sociais dando demasiado poder a patrões com poucos escrúpulos, comprime salários - uma vez que os trabalhadores precários auferem remunerações inferiores - e diminui os incentivos para a aquisição de novas qualificações, porque todos os horizontes se estreitam.

O que talvez não seja tão conhecido é que o capitalismo líquido gera uma desmoralização que se inscreve na mente e no corpo, sem separações artificiais: a investigação na área dos determinantes sociais da saúde tem mostrado que a precariedade está associada a uma maior vulnerabilidade a vários tipos de doença, incluindo doenças mentais.

Face à cumplicidade dos poderes públicos, resignados ao ciclo vicioso de um capitalismo medíocre, que desistiram de disciplinar e de modernizar, o precariado vai lentamente descobrindo novas formas de associação e evitando as armadilhas dos que querem substituir a luta de classes pela luta de gerações. A lição desta história é clara: a decência no trabalho é obra da acção colectiva de todos os trabalhadores, dos que resistem ao esfarelamento dos direitos duramente conquistados e dos que reivindicam novos direitos. O informado activismo do FERVE, de que este notável livro é produto, revela que a lição está estudada e por isso pode ensinar-nos novas lições. Vale mesmo a pena aprendê-las.

Economista e co-autor do blogue Ladrões de Bicicletas

Tags: dois anos a ferver, ferve, livro, afrontamento, sandra monteiro, capitalismo líquido, trabalhadores precários,recibos verdes, joão rodrigues,

Como já alguém fez notar, agora que o proletariado é uma designação sociológica caída em desuso, a economia de mercado liberal e globalizado deu origem a esta nova classe: o precariado, para a qual os amanhãs não cantam – a questão (essa sim, essencial) é mesmo se existe um amanhã com trabalho dentro… e, já agora, até quando.

Pois é meus amigos, até quando?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Terence McKenna - Principais ideias I


McKenna teorizou que, como a selva Norte Africana diminuiu perto do final da última era glacial, dando lugar a pastagens e savanas, um ramo de nossos antepassados primatas que habitavam arvores deixaram a copa florestal, e começaram a viver em áreas abertas fora da floresta. Lá, eles experimentaram novas variedades de alimentos, e adaptaram-se, física e mentalmente, ao seu novo ambiente.

Entre os novos itens alimentares encontrados neste novo ambiente, um deles foram cogumelos contendo psilocibina crescendo perto do esterco de gado que ocupou as novas savanas e pastos desse momento. McKenna, referenciando a investigação de Roland L. Fisher, afirmou que a melhoria da acuidade visual foi um efeito da psilocibina em doses baixas, e supôs que esta teria conferido uma vantagem adaptativa. Ele também alegou que os efeitos de doses um pouco maiores, incluindo a excitação sexual, e, ainda maiores doses, alucinações, êxtase espiritual e glossolalia (Falar em uma língua previamente desconhecida pelo orador) deu vantagens evolutivas, ao nível da selecção natural, para os membros das tribos que faziam uso de cogumelos. Houve muitas mudanças provocadas pela introdução deste cogumelo psicoativo a dieta primata. Nomeadamente, uma maior coesão do grupo ou tribo, através de rituais xamânicos regulares, aumentando exponencialmente os comportamentos de cooperação dentro do grupo, tornando assim o grupo mais eficiente em ultrapassar os desafios impostos pelo seu meio natural.

McKenna diz, por exemplo, que a sinestesia (A diminuicão das fronteiras entre os sentidos) causada pela psilocibina levou ao desenvolvimento da linguagem falada: a capacidade de formar imagens na mente de outra pessoa através do uso de sons vocais.

Cerca de 12.000 anos atrás, mais mudanças climáticas removeram os cogumelos contendo psilocibina, da dieta humana. McKenna argumentou que o evento resultou num novo conjunto de profundas mudanças na nossa espécie, regredindo a humanidade para a anterior estrutura social, brutal e primata, que tinham sido modificadas e/ou reprimida por consumo freqüente de psilocibina.

sábado, 14 de novembro de 2009

Heartbeat

And now the world is asleep
How will you ever wake her up when she is deep in her dreams, wishing
And yet so many die
And still we think that it is all about us
It's all about you
You sold your soul to the evil and the lust
And the passion and the money and you
See the same ones die, people hunger for decades
Suffer under civilized armedrobbers, modern slaveholders

Can you feel my heart is beating
Can you see the pain you're causing
Can you feel my heart is beating
Can you see the pain you're causing

Blood blood blood...blood is rushing

Nneka - Nigeria

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Casamento Gay, Sim ou Sopas?



Passei pelo meu quiosque favorito, para beber um café antes de enfrentar a medonha repartição de finanças, para assuntos que aqui não são chamados, quando folheei o JN, e pumba! Casamento Gay! Outra vez!

Então o meu amigo Abílio, que eu respeito de sobremaneira, humana e intelectualmente, deu-me o melhor argumento contra a legalização do casamento gay que ouvi até agora (existem muitos, quase todos absurdos, na minha opinião). Há pouco legalizaram medidas para que pessoas casadas pudessem preencher o IRS de forma separada.

Pois se, para casais hetero, já rende mais esta medida, para quê os casais Gay casarem?

Numa sociedade puramente pragmática, este é um bom argumento.

Compete-me agora responder com o que acho ser o melhor argumento a favor da legalização do casamento gay (além de roubar o negócio a Espanha, ou acham que alguém espera pelo parlamento português?).

Podemos nós, cidadãos portugueses, usufruir de um direito básico, como é o direito ao casamento, de consciência tranquila, negado que é a outros cidadãos do nosso pais?

Existe Igualdade de Direitos, ou Não Existe Igualdade de Direitos.

No caso do Casamento, não existe igualdade de direitos.

Façam então o favor de corrigir esta situação.

Sim à Legalização do Casamento Gay.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

NÃO HÁ HISTÓRIA DE PORTUGAL SEM FAUSTO


Em homenagem a Fausto Bordalo Dias, grande génio da música popular portuguesa, que deu ás futuras gerações um acesso priviligiado à sua história, aquela que não se fala todos os dias. Que as gentes portuguesas se rebelem, uma vez mais, contra a arrogância e despotismo dos actuais senhores feudais.



O romance de Diogo Soares

Diogo Soares
O grande general
Chamado "o Galego"
O homem dos olhares fatais

Comanda sessenta mil homens
De terras estranhas
Vencendo e lutando
Por quem paga mais

Eficaz nos sermões
Insinuante pois
Ganhou a simpatia
De príncipes e samurais

Já é governador
Do reino de Pegu
Mais forte do que o rei
Mais rico por golpes mestrais

Naquela cidade
Vivia um mercador
De nome Mambogoá
De fortuna sem fim

E naquele dia
O dia das bodas
Casava uma filha
Com Manica Mandarim

Diogo Soares passou por ali
Ao saber da festa
Felicitou noivos e pais

E a noiva tão linda
Ofereceu-lhe um anel
Agradecendo a honra
Por gestos puros e sensuais

Então o galego
Em vez de guardar
O devido decoro
Prendeu-a e disse-lhe assim:

"Ó moça formosa
És minha, só minha
A ninguém pertences
A ninguém, senão a mim"

O pai Mambogoá
Ao ver pegar o bruto
Tão rijo na filha
Ouvindo este insulto de espanto

Levantou as mãos aos céus
Os joelhos em terra
No retrato da dor
Pedindo e implorando num pranto

"Eu peço-te Senhor
Por reverência a Deus
Que adoras concebido
No ventre sem mancha e pecado

Não tomes minha filha
Não leves meu tesouro
Que eu morro de paixão
Que eu morro tão abandonado

"Mas Diogo Soares
Mandou matar o noivo
Que chorava abraçado
À moça assustada
Tremendo

E a noiva estrangulou-se
Numa fita de seda
Antes que a possuísse
À força o sensual galego

A terra e os ares
Tremeram com os gritos
Do choro das mulheres
Tamanhos que metiam medo

E o pai Mambogoá
Pedindo pelas ruas
Justiça ao assassino
Acorda a cidade em sossego:

"Ó gentes Ó gentes
Saí como raios
Na ira das chuvas
Na ventania do açoite

E o fogo consuma
Seus últimos dias
E lhe despedace
As carnes no meio da noite

"Em menos de um credo
Numa grande gritaria
P'lo amor dos aflitos
Juntou-se ao velho o povo inteiro

Com tamanho furor
E sede de vingança
Arrastaram-no preso
Diogo Soares ao terreiro

E o povo a clamar
Que a sua veia seja
Tão vazia de sangue
De quanto está o inferno cheio

E subiu ao cadafalso
Cada degrau beijou
Murmurando baixinho
O nome de Jesus a meio

Seu filho Baltasar Soares
Que vinha de casa
O qual vendo assim
Levar seu pai

Lançou-se aos seus pés a chorar
E por largo tempo abraçados
No abraço dos mortais

"Senhor porque vos levam
Cruéis e vingativos
Senhor porque vos batem
E porque vos matam medonhos?"

"Pergunta-o aos meus pecados
Que eles to dirão
Que eu vou já de maneira
Que tudo me parece um sonho"

E foram tantas pedras
Sobre o padacente
Que este morreu bramindo
O rosário dos seus pecados

Ensopado na baba
Do ódio dos homens
Escuma animal
De todos os cães esfaimados

As crianças e os moços
Trouxeram seu corpo
Sem vida pelas ruas
Arrastado pela garganta


E a gente dava esmola
Oferecida aos meninos
Dava como se fosse
Uma obra muito pia e santa

Assim terminam os anais
Do grande general
Chamado "o Galego"
O homem dos olhares fatais.

Fausto (Por Este Rio Acima, 1982)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Um tempo como não houve outro...


Vivi um tempo como não houve outro... líderes humanistas gritaram a biliões de miseráveis do mundo, para que ajudassem algumas centenas de marajás multimilionários, das oceânicas dívidas que eles tinham criado, mas cujas consequências seriam pagas por todos, mesmo por quem não tinha para comprar um pacote de arroz ou milho.


E os marajás tiveram auxílio imediato... onde milhões de asiáticos e africanos desesperaram, décadas e décadas a fio, por umas migalhas tão raras... se fossem balas ou minas, tinham-nas no momento. A partir das fábricas dos mesmos marajás.


Um tempo como não houve outro...