quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ÍNDIOS GUARANI-KAIOWÁ ANUNCIAM MORTE COLETIVA APÓS ORDENS DE DESPEJO




Após receberem cinco ordens de despejo, os índios Guarani Kaiowá da terra Yvy Katu, em Japorã – MS, escreveram uma carta nesta semana anunciando que não sairão de suas terras e que, portanto, cientes que o Estado Brasileiro está tomando a decisão de priorizar o agronegócio, estão iniciando um ritual de preparação para a morte. Na carta, eles pedem que sejam enterrados em sua terra e que o Estado se responsabilize em cuidar das crianças e idosos que sobreviverem. Pedem ainda que todxs acompanhem o genocídio que irá acontecer, já que, diante de vários decretos de expulsão de suas terras, o Estado brasileiro está fazendo uma escolha de MATAR mais de 4.000 indígenas.




*Decisão definitiva de 5.000 indígenas Guarani e Kaiowá para Governo,
Hoje no dia 12 de dezembro de 2013, nós 5.000 mil indígenas Guarani e Kaiowá do TEKOHA YVY KATU recebemos notícia de mais uma ameaça de morte coletiva, é a ordem de violência contra nós e despejo expedida pela Justiça Federal do Tribunal Regional de São Paulo-S.P.
Assim, claramente a justiça brasileira vai matar todos nós Guarani e Kaiowá. Mais uma ordem de despejo da Justiça Federal deixa evidente para nós que a Justiça do Brasil está autorizando o extermínio Guarani e Kaiowá, as violências, morte coletiva, sobretudo extinção e dizimação Guarani e Kaiowá do Brasil.
Entendemos que em 10 anos, a Justiça Federal do Brasil já decretou várias vezes a nossa expulsão de nossa terra YVY KATU que significa que a Justiça do Brasil está mandando matar todos nós índios aqui no Yvy Katu. Já faz dois meses que retornamos comunicar à Justiça Federal e ao Governo Federal que nós comunidades voltamos a reocupar o nosso tekoha YVY KATU e recomeçamos morar no pedaço de nossa terra.
Avisamos também que não vamos sair mais de nossa terra YVY KATU, aqui morreremos todos juntos, aqui queremos ser enterrados todos. Essa é a nossa decisão definitiva que não mudamos nossa decisão. Já enviamos e reenviamos várias vezes ao Governo Federal e ao Ministro da Justiça, à Presidenta Dilma, ao Ministério Público Federal, ao Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Hoje 12/12/2013, mais uma vez, encaminhamos a nossa decisão definitiva à Presidenta Dilma e ao Presidente do Conselho Nacional da Justiça e do Supremo Tribunal Federal para entender e atender os nossos últimos pedidos. Demandamos às autoridades federais supremas do Brasil as seguintes. Estamos reunidos 4.000 mil Guarani e Kaiowá aqui no tekoha YVY KATU para resistir à ordem de despejo, a nossa decisão é lutar até morte pela nossa terra YVY KATU, nem depois de nossa morte não vamos sair daqui do YVY KATU.
Pedimos ao Governo Dilma e Presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa para mandar somente enterrar coletivamente todos nós aqui no tekoha YVY KATU. Nem vivos e nem morto iremos sair daqui de nossa terra antiga. Com vida ainda, antecipamos os nossos pedimos à Justiça, esse nosso direito de ser sepultado ou enterrado aqui no YVY KATU, esse pedido exigimos à Justiça do Brasil.
Solicitamos ainda à presidenta Dilma, à Justiça Federal que decretou a nossa expulsão e a morte coletiva para assumir a responsabilidade de amparar e ajudar as crianças, mulheres e idosos (as) sobreviventes aqui no YVY KATU que certamente vão ficar sem pai e sem mãe após a execução do despejo pela força policial.
Uma vez que a Justiça Federal de Navirai-MS em novembro, já determinou o uso da força policial contra nossa vidas e luta, diante disso comunicamos à juíza federal que nós vamos resistir até morte à ordem de despejo, temos absoluta certeza que morreremos pela nossa terra YVY KATU, a juíza já está ciente de nossa decisão. Todas as autoridades também já estão cientes de nossa decisão que como povo nativo Guarani vamos lutar até a morte pela terra YVY KATU.
Hoje 12/12/2013, mais uma vez passamos comunicar ao juiz federal do Tribunal Federal de São Paulo que não vamos sair do tekoha YVY KATU, aqui vamos resistir e morrer todos lutando. De forma igual, comunicamos à presidenta Dilma. Pela última vez, avisamos a todos (as) que a partir de hoje 12/12/2013, começamos a realizar um raro ritual religioso nosso de despedida da vida da terra, essa é a nossa crença, um ato consciente de preparação da vida para a morte forçada pelas armas de fogo dos homens brancos, ou melhor, começamos a participar da cerimônia de aceitação e confirmação da saída forçada da alma do corpo e sua volta ao cosmo Guarani em função da morte forçada no campo da luta.
Esse é um dos rituais de despedidas da vida que raramente se realiza, mas hoje começamos a praticar. Começamos a participar desse ritual de aceitação da morte forçada e despedida da vida, das famílias e dos amigos (as), pois sabemos bem que a Justiça Federal está autorizando os homens brancos armados para atacar e matar nós aqui no tekoha YVY KATU.
Comunicamos a todos (as), pois nós Guarani e Kaiowá do YVY KATU decidimos a resistir à ação de despejo e seremos mortos pela arma de fogo dos homens brancos ou policiais. Não há dúvida. Não iremos recuar nem um passo para traz, vamos resistir por questão de honra e profundo respeito aos nossos ancestrais mortos no YVY KATU, decididos, vamos lutar e morrer pela nossa terra onde estão enterrados os nossos antepassados. Por essa razão, pedimos ao Governo e a Justiça para mandar enterrar nós todos aqui no tekoha YVY KATU, porque nem vivo e nem morto não vamos sair do tekoha YVY KATU.
Essa é a nossa decisão definitiva. Mais uma vez, convidamos a todas as sociedades nacionais e internacionais para acompanhar e assistir ao genocídio e a dizimação de 4.000 povo nativo Guarani e Kaiowá do YVY KATU pela justiça do Brasil por meio dos homens “brancos” POLICIAIS armados brasileiros aqui no Mato Grosso do Sul/BRASIL.
Tekoha Yvy Katu, 12 de dezembro de 2013
Comunidades Guarani e Kaiowá do tekoha YVY KATU-Japorã-MS-BRASIL”

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

CTT, o Testemunho tão triste quanto certeiro da marafada-da-escrita-afiada Raquel Ponte


Testemunho tão triste quanto certeiro da marafada-da-escrita-afiada Raquel Ponte
"Fuck [this reality], cause we've got music and poetry instead."


Há um punhado de anos atrás concretizei um sonho antigo: ser carteira.

Durante cinco rigorosos meses, que coincidiram com as estações das chuvas, acordei kantianamente às 4:30 da manhã para separar correspondência num armazém de cinco mil metros quadros, no Cais do Sodré. 

Depois de artilhar o trolley com 30 quilos de mercadoria, subia à pressa, e a pique, até à Calçada do Combro. É que às 7h. era suposto começar o meu "giro". Com sorte, terminava por volta das 14h., mas tinha dias mais lentos, que se esticavam até às 18h. 

Com o passar do tempo veio o frio; as cartas de amor, primorosamente caligrafadas, e os postais de longas distâncias, perderam a batalha do romantismo para as contas da edp, da epal, da emel, da lisboa gás, do meo, da zon, para as cartas de penhoras dos tribunais, para os créditos mal parados nos cofidis e restantes BEStas agiotas que nos obscurecem os dias com assombrosa austeridade. 

Hoje li que o Goldman Sachs e o Deutsche Bank são os novos donos dos CTT, e que a eles se vão juntar mais amigos para o grande banquete dos chacais; que houve histórias de luvas - e Horta e Costas - por resolver no passado; que os meus ex-colegas vão fazer giros no IEFP - mãos honestas, vazias, sem luvas; que o volume de rigorosas cartas não pára de aumentar... nem a chuva... nem o frio; que nos matam as viagens, e o sonho e os redutos de amor que ainda temos em nós. 

Coração vazio nesta honesta despedida."