quarta-feira, 23 de junho de 2010

Elis Regina - Como Nossos Pais

 
Faço minhas as palavras da Elis...

Como Nossos Pais

Elis Regina

Composição: Belchior
Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...
Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...
Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

01/14- Mindwalk- O Ponto de Mutação [port-Br]






Filme obrigatório a todos os que se preocupam com o mundo que os rodeia, e com a forma como o vemos e agimos sobre ele. Confronto entre o paradigma cartesiano e o paradigma holístico, entre o mundo máquina e o cosmos de absoluta interdependêndia entre tudo o que existe, entre a politica de massas e a demanda ecológica pela sustentabilidade dos sistemas, entre o mundo acelerado do consumo e producção e o isolamento necessário para que a pessoa se encontre consigo mesma, e com as grandes questões da humanidade.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A caminho da simplicidade voluntária (parte II)


Serge Mongeau

A simplicidade voluntária
A expressão "simplicidade voluntária" foi popularizada nos Estados Unidos por Duane Elgin no seu livro publicado em 1981 Volontary Simplicity; Elgin atribuia a paternidade do conceito a Richard Gregg, um adepto de Gandhi que havia escrito em 1936 um artigo com esse título.

Da minha parte, escrevi uma primeira versão de La simplicité volontaire em 1985, no âmbito de uma colecção de livros sobre saúde; a minha reflexão sobre a saúde tinha-me levado à conclusão que nos países industrializados, a maior parte dos nossos problemas de saúde são derivados do sobre-consumo e que a nossa busca de saúde nos devia levar a um estilo de vida mais sóbrio, claramente contra a corrente. Dizia:

" A simplicidade não é a pobreza, é um despojar que nos deixa mais espaço para o espírito, para a consciência. É um estado de espírito que nos convida a apreciar, a saborear, a procurar a qualidade, é uma renúncia aos artefactos que pesam, incomodam e impedem de ir até ao fim das possibilidades".

Voltei a escrever o meu livro numa reedição aumentada em 1998, desta vez insistindo nos efeitos sociais e ecológicos do nosso consumo excessivo: "Hoje em dia, dou-me conta que a via da simplicidade voluntária não constitui simplesmente o melhor caminho para a saúde, mas é sem dúvida a única esperança para o futuro da humanidade".

A via da simplicidade voluntária abre-se por um caminho pessoal de introspecção: trata-se de cada um descobrir quem é, e identificar as respostas às suas verdadeiras necessidades, e quando falo de necessidades penso para além das necessidades físicas de base, nas necessidades sociais, afectivas e espirituais. O que é que me vai preencher plenamente em todas as minhas dimensões e capacidades?

No nosso mundo de abundância, isto significa que temos de escolher; não ir mais na corrente da moda, da publicidade ou do olhar os outros, mas sim em função das necessidades autênticas. Por definição escolher significa agarrar qualquer coisa e deixar de lado outras coisas. Quando se começa a escolher consome-se menos, e por isso precisamos menos dinheiro para viver.

Podemos então trabalhar menos e com o tempo ganho podemos fazer tudo o resto que é essencial à nossa plenitude: reflectir, falar com os que nos estão próximos, manifestar a nossa compaixão, amarmo-nos, brincar... E também responder por nós proprios às necessidades que pesam mais e mais pelas compras, que nos tornam cada vez mais dependentes. De facto é ai que está a dimensão essencial da simplicidade voluntária: reencontrar o tempo, que dá asas à consciência.

Agarrar tempo para viver é agarrar tempo para pensar, é parar o tempo, é aproveitar o momento presente. Quando se vive a correr, no stress, não se sente o tempo a passar, deixamo-nos arrastar, deixamo-nos levar pelas circunstâncias e pela vontade dos outros. Reencontrar o tempo é tomar posse da nossa vida, o que permite libertar-se verdadeiramente, ir para além da informação superficial, contra a corrente, se necessário. Moldar a sua vida, vivê-la como se quer. Empenhar-se também. É minha convicção profunda que quando se reflecte, quando nos informamos e que abrimos os olhos, não se pode mais aceitar o que se passa no mundo e tenta-se muda-lo.

A simplicidade voluntária dá-nos pano para mangas, no nosso mundo baseado no consumismo, é uma recusa ao consumo cego, é o caminho para um consumo consciente, responsável, social. É uma recusa do sistema capitalista que está a dar cabo do planeta.

É um caminho difícil hoje em dia, pois vivemos num mundo minado, carregado de armadilhas que procuram explorar-nos para o seu proveito próprio:
- aproveitando-se das nossas capacidades e explorando-nos pelo lucro, no mundo do trabalho da maioria;
- manipulando-nos para que legue-mos o poder nas suas mãos: o mundo politico;
- quando nos prometerem todo o género de benefícios para que compremos os seus produtos ou serviços, com o que enriquecerão os seus bolsos.

A maior parte de nós cai nas armadilhas e perdemos o controle sobre as nossas vidas. A simplicidade voluntária aparece-nos como um instrumento essencial para se libertar. Vão-me dizer: sim, mas é um caminho individual e mesmo egoísta. Individual de certa maneira, mas não individualista, pois a via de saída, mesmo que faça parte de um processo pessoal, conduz muito rapidamente ao colectivo: não conseguimos libertar-nos sozinhos.

Somos seres sociais e não conseguimos remar contra a maré em permanência. Precisamos da aceitação dos outros, é essencialmente o que dá sentido à nossa vida. Para viver aceitavelmente temos necessidade de serviços colectivos adequados: de cidades mais conviviais, transportes públicos acessíveis e eficazes, de todo o género de serviços públicos...

Para a nossa sobrevivência neste planeta, precisamos de empreender acções colectivas significativas. Para mim adoptar a simplicidade voluntária não é retirar-se do mundo, saltar fora do barco para gozar egoisticamente a vida. Sim, existe uma dimensão de busca de prazer na simplicidade voluntária, mas a longo prazo a nossa vida não pode ser projectada separadamente da evolução do mundo. Eu não quero fazer a minha vidinha sozinho e que tudo o resto se derreta aos meus pés: a poluição, o efeito de estufa, a violência... Vêm ter comigo onde quer que eu esteja.

Serge Mongeau Vers la simplicité volontaire
Postado por Ana Loichot em O Decrescimento

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O CAPITALISMO SOMOS NÓS parte V e VI



V
Nós todos os que aqui estamos participamos nesta mentira (dinheiro). Vivemos nela. Os nossos gestos de todos os dias são cúmplices da sua criação e aprofundamento.

O capitalismo como o conhecemos hoje é uma estória que foi sendo criada a partir dos momentos mais violentos e criativos da humanidade. Alimenta-se das suas guerras e revoluções para se perpetuar e aperfeiçoar. Para construir todo um sistema de defesa de um modo de vida que é o seu.

O lazer, as polícias, as férias pagas, o trabalho, o exército, os salários, a economia como gestão permanente da crise, os engates, os copos, os carrões, hollywood, os partidos, os sindicatos, o simulacro de decisão a que chamam eleições, as esplanadas na praia, a publicidade, a bolsa e as agências de rating, a europa, são tudo instâncias de defesa desse modo de vida a que chamam capitalismo.

Curiosamente uma proporção desastrosa da humanidade dedica o seu tempo de trabalho a essas actividades, que no fundo servem apenas para garantir que acreditamos o suficiente na sua mentira. O suficiente para que possamos continuar a ler verdades básicas e simples atrás recordadas (II) como uma compilação de ingenuidades.

VI
Desse modo, aqueles que considerem que o capitalismo, mais do que os servir, se serve deles, terão de organizar a sua autonomia e liberdade. Abandonar os supermercados, as fábricas, as empresas, os bancos, as torres de comunicação.

Recuperar as ruas, ocupar os espaços, desertar da economia global.

Como resposta à crise que inventaram para nós, organizemos a greve não anunciada por tempo indeterminado, ou o boicote e sabotagem por parte dos precários, trabalhadores já despojados de todo o direito, a expropriação das terras abandonadas à caça desportiva, a autogestão dos meios de subsistência e a sua distribuição, o derrubar do império global e o erguer da economia social e local, a proliferação das novas estórias.

O capitalismo dá-nos a escolher entre a miséria e o trabalho com a promessa de um futuro de conforto que nunca chega.

A revolta oferece-nos um presente de incerteza que contém a maior aventura que um ser humano se pode oferecer: Organizar a sua vida autonomamente com os seus amigos e vizinhos.


terça-feira, 15 de junho de 2010

O CAPITALISMO SOMOS NÓS parte IV

No tempo em que temos vivido há uma narrativa fundadora de onde nascem todas as mentiras. Essa mentira chama-se dinheiro, capital.

O dinheiro não é outra coisa senão o trabalho. Uma forma de quantificar e qualificar o trabalho.

Uma maneira de separar as pessoas entre aquelas que podem mandar fazer e as outras que têm que fazer o que lhes mandam.

É nesse sentido que o dinheiro é o poder. É uma narrativa que organiza e complexifica o mundo de tal maneira que separa as pessoas da possibilidade de se alimentarem sozinhas. Para comer e satisfazer as suas necessidades mais básicas têm que fazer as tarefas que aqueles que podem, porque têm mais dinheiro, lhes mandam fazer.

Têm que trabalhar, não só para comer, mas também para poder mandar outros fazer as coisas de que precisam.

Essa mentira - que começou por ser uma brincadeira entre gente que só queria trocar batatas por cenouras - já se desenvolveu e se intensificou com um tal grau de sofisticação que contaminou, colonizou todos os momentos da nossa vida. Ao ponto de se tornar uma imagem de si própria, uma imagem da mentira.Uma mentira que se tornou autónoma da realidade, abstracta.

Hoje ela diz-nos que todos os seres humanos têm que realizar trabalho, produzir dinheiro.
Já esquecemos onde é que começou nem sabemos porquê, já não interessa.

Petróleo vai regressar aos máximos históricos já no próximo ano...


O economista canadiano Jeff Rubin diz que o petróleo vai regressar aos máximos históricos já no próximo ano se não houver uma nova recessão.

Em entrevista ao Negócios, na sua passagem por Portugal para promover o livro "Por que é que o seu mundo vai ficar muito mais pequeno" – obra editada pela Lua de Papel que se debruça sobre a subida do preço do petróleo e o fim da globalização -, o ex- economista-chefe da CIBC World Markets falou sobre os preços do crude, a maré negra no Golfo do México, a crise da Zona Euro e a exploração de petróleo em águas profundas e nas areias betuminosas.

sábado, 12 de junho de 2010

Sons & Ruralidades - Festival de ecologia, artes e tradições populares (10 a 13 de Junho, em Vimioso, Trás-Os-Montes)



É chegada a altura de nos reunirmos...

O festival SONS & RURALIDADES pretende ser um novo modelo de festival cultural, superando o espaço e tempo do festival para revitalizar e regenerar a região rural do nordeste transmontano. Este festival faz parte de um programa de desenvolvimento para esta região, procurando que a arte e a cultura sejam a causa para a revitalização da região, procurando novas aproximações artísticas, sociais e económicas. Estimulando sinergias entre o património faunístico e florístico e o património cultural, material e imaterial. Pensando os humanos como parte da natureza e a biodiversidade como um todo. Criando novas oportunidades de criar e de reflectir colectivamente sobre o desenvolvimento local e proporcionando novas visões de futuro.


sexta-feira, 11 de junho de 2010

O CAPITALISMO SOMOS NÓS parte III


























Desde os tempos mais antigos que a vida e o quotidiano se constroem em cima de narrativas - mentiras que organizam o mundo.
Nalguns lugares houve quem contasse à luz de fogueiras que sabia ouvir e falar com pedras e estrelas.
Noutros sítios inventou-se que as pessoas que nasciam numa dada terra, bem como os seus filhos e netos, pertenciam àquela terra que que por isso deviam obedecer a quem reunisse forças e brutalidade suficiente para estabelecer a ordem nessa terra.
Ainda noutro canto as pessoas já nasciam a acreditar que as coisas, o chão onde se anda, as casas onde se vive, até os objectos, pertencem sempre a uma pessoa qualquer - mesmo se usados por outros, pertencem-lhe - e se alguém morrer passarao a pertencer aos seus filhos.
As pessoas acreditam nestas coisas, e como tem necessidade de estórias dessas para arrumar o mundo e fugir à loucura e à solidão, tomam o pequeno almoço em cima delas, dormem, trabalham, procriam, sempre de acordo com as estórias que conhecem.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A caminho da simplicidade voluntária (parte 1)

tirado de O Decrescimento.blogspot


O decrescimento pode ter continuidade na vida pessoal de cada um através da escolha da simplicidade voluntária. Uma iniciativa individual que leva a acções colectivas.
Face aos problemas que afectam o nosso planeta, o decrescimento não é uma opção entre outras, é necessária. Não podemos impor um crescimento ilimitado a um planeta, a Terra, fechado e limitado. De facto, um tal crescimento assenta na utilização sempre maior dos recursos do planeta e gera resíduos cada vez mais abundantes; ora, neste momento, já ultrapassamos a capacidade de produção da Terra; consumimos o capital terrestre em vez de aproveitarmos os seus frutos; consumimos a capacidade da Terra de utilizar as suas multiplas substâncias químicas devido às invenções humanas, e para as quais a natureza não tem mecanismos suficientes de metabolização. Resultado: o equilíbrio do planeta tal como o conhecemos e tal como o necessitamos para a nossa sobrevivência está ameaçado a curto prazo. Vinte anos, cinquenta anos, cem anos até que os desastres batam à porta? A maioria vê esta ameaça muito longínqua, apesar de o seu modo de vida estar já, directa ou indirectamente, a ser afectado. E que são estes poucos anos na história da Terra, que data de milhões de anos, ou na história da humanidade, que conta centenas de milhares de anos? À escala de uma vida humana, a história da humanidade vive, talvez, os seus últimos segundos. E que fazemos face a esta perspectiva? Os que podem, consumem cada vez mais, os que não podem aspiram chegar lá o mais rapidamente possível. E os nossos governos puxam a maquina à sua capacidade máxima: “é preciso manter um crescimento contínuo para conseguir criar empregos e suportar o aumento constante do consumo.”.

O decrescimento escolhido ou imposto
Encontramo-nos, neste momento, num cruzamento de caminhos. Para os que conservaram uma certa lucidez, está claro que vamos atingir brevemente os limites inultrapassáveis do uso dos recursos do planeta. Acreditar que a ciência e da tecnologia podem fazer recuar indefinidamente os limites do consumo é apenas um mito perigoso. Os limites estão à nossa porta e são quase inevitáveis; a única dúvida está na ordem da sua entrada em cena. Veremos os nossos filhos criar monstros às custas de todas as substâncias mutagénicas que absorvem todos os dias através do ar que respiram, da água que bebem e dos alimentos que ingerem? A menos que já sejam estéreis, a baixa de produção de espermatozóides já está bem estabelecida no mundo industrializado... As mudanças climáticas transformarão os nossos países em desertos ou em pântanos? (...)

Claro, se nada for feito, e rapidamente, o momento de agir peremptoriamente vai chegar. Face às catástrofes os governos não terão escolha. Mas que tipo de sociedade será construída? Sociedades autoritárias com medidas restritivas impostas à maioria, mas decididas no topo, e podemos estar certos que estas beneficiarão os poderosos. A sociedade desigual arrisca de se tornar ainda mais mal concebida, com privilégios cada vez maiores para uma minoria.

Felizmente, no norte como no sul, mulheres e homens perceberam que globalmente estamos no caminho errado, que a via da mundialização que nos é apresentada como desejável e inegável leva-nos directamente à catástrofe. Perceberam também que já nada há a esperar dos governos, comprometidos e dominados pelo dinheiro. As nossas, assim chamadas, democracias ocidentais nada têm de democrático.

Quando nos perguntaram antes de enviar soldados bombardear o Iraque ou o Kosovo? Antes que os alimentos geneticamente modificados terem invadido as prateleiras dos supermercados? Antes de mudar as regras do subsidio de desemprego? Antes de dar cabo do nosso sistema ferroviário? De facto, antes de tomarem todas estas decisões que afectam directamente as nossas vidas? Os que decidem por nós estão comprados pelas classes de capitalistas internacionais. A população aceita esta situação porque se deixa subverter pela forte máquina ideológica do capitalismo.

O maior perigo neste momento é a passividade. Apresentam-nos a mundialização como uma tendência inevitável, dizem-nos que depois do fracasso do socialismo, o capitalismo e a lei de mercado é a única via possível. Nada disto é verdade. Sem conhecer todas as soluções aos problemas sociais e ambientais com que nos deparamos, sem ter uma visão precisa do que será a sociedade ideal. Há certamente outras vias de acção que permitam o progresso para uma eco-sociedade, uma sociedade em que os humanos vivam em harmonia entre eles e a natureza. Em suma, trata-se de abolir a submissão à economia e criar uma sociedade que favoreça o bem-estar completo de todos os seus membros.

Como fazer estas mudanças? Não tenho a pretensão de conhecer A estratégia a adoptar que nos leve a essa sociedade desejável onde todas e todos possam viver convenientemente, em comunidades solidárias onde os seus filhos poderão, mais tarde, viver. Mas a minha longa experiência de militância, as minhas numerosas leituras e as minhas longas horas de reflexão levaram-me à estratégia que se segue. Acredito que por agora é necessário por em marcha acções em três frentes, que estão, aliás, intimamente ligadas:

1)Libertar-se do sistema: a cada um de tomar as medidas de forma a sair da cadeia de sobre-consumo- necessidade de ganhar muito dinheiro- stress e cansaço- passividade. A simplicidade voluntária é uma via que permite reencontrar tempo para viver e agir.

2)Unir-se para fazer mais com menos: desenvolvendo as nossas comunidades locais, criarmos serviços que permitem viver melhor a menor custo e que respondam melhor à totalidade das necessidades.

3)Criar organizações nacionais e internacionais eficazes que permitam que a nossa voz seja ouvida alto e bom som para impedir os governos de continuar esta via neoliberal.

Não tenhamos ilusões, o capitalismo não cederá facilmente. Ao poder do dinheiro devemos opor-nos com poder dos números, da imaginação e da tenacidade.
Não tenho intenção de desenvolver aqui as duas últimas acções, mas não gostaria que se pense que é por as julgar menos importantes.

Serge Mongeau
Vers la simplicité volontaire em http://www.decroissance.org/

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O CAPITALISMO SOMOS NÓS parte II

Num belo dia em que aqueles-que-comem decidam perceber de onde vem e como nasce a sua comida;
Decidam aprender com os poucos que ainda amam a terra e a cultivam a fazer crescer os seus frutos e como se alimentar deles;
Decidam construir
redes entre uns que se dedicam a plantar tomates e cebolas para as fazer trocar pelas batatas e cenouras que outros ajudaram a crescer;
Decidam perceber que no tempo que lhes restar dessa semana de 3 horas de cultivo da terra, uns poderão dedicar-se a ensinar os filhos dos vizinhos a ler ou a aprender matemáticas, outros dedicar-se a cozinhar essas batatas, cebolas e cenouras, e a oferecê-las numa tasca a alguém que traga um bom vinho ou bom pão;
Decidam usar esse tempo para se apropriar das técnicas elementares que lhes permitam acender lâmpadas, ouvir rádio, ver filmes, pôr camionetas a andar com restos de comida, recuperar casas, utilizar até à exaustão todos os objectos, todos os restos, todos os destroços que o capitalismo produziu à custa da anulação da sua vida;
Nesse dia as notas ficarão a apodrecer nos bancos e nas caixas registadoras, e serão papeis duros demais para limpar o cú.

1/5 Dinheiro como débito (2006) [Captions + legendas Pt ]

terça-feira, 8 de junho de 2010

O CAPITALISMO SOMOS NÓS parte I

Foi há cento e tal anos a última vez que um economista se dedicou a contabilizar as horas de trabalho necessárias para produzir toda a comida que se produz no mundo.

Já nessa altura se chegou a uma conclusão brutal: se todos aqueles que se vê obrigados a trabalhar se dedicassem apenas a produzir toda a comida que se produz no mundo, passariam apenas 3 horas por semana entregues a essa tarefa!

Hoje, com outras técnicas, as horas de trabalho necessárias para produzir toda a comida que se produz no mundo estarão mais reduzidas a uma ínfima parte de todo o trabalho que hoje se realiza no mundo.

O resto serve para quê?

domingo, 6 de junho de 2010

A Vida depois do Crescimento



Life After Growth - Economics for Everyone from enmedia productions on Vimeo.

Precisamos encarar a realidade pelo que ela é, e não pelo que desejamos que seja, ou o que os outros desejam que seja, como jornais, TVs e seus Patrões, nossos líderes e outros mega agiotas...
Precisamos prepararmo-nos para o futuro, que está cada vez mais próximo.
Precisamos voltar à terra e à comunidade.

sábado, 5 de junho de 2010

Como Cuba sobreviveu ao pico do petróleo




16 de Dezembro de 2009
Roberto Pérez Rivero é um biólogo cubano, pioneiro da permacultura na ilha e uma referência para os defensores da agricultura sustentável. Entrevista de Ricardo Coelho, em Copenhaga.


Uma delegação de Cuba tem estado presente no Fórum pelo Clima para dar alguns workshops sobre a sua experiência com a superação da dependência do petróleo e a promoção da agricultura biológica e das hortas urbanas. Falei com Roberto Pérez Rivero, permacultor, sobre a sua experiência, que tem inspirado tantos defensores da agricultura sustentável por todo o mundo. Apesar da minha posição crítica em relação ao regime político cubano, creio que este é um exemplo que devemos seguir e estudar atentamente.

Pode falar-me da experiência cubana com a superação da dependência do petróleo?

Depois do colapso da União Soviética, estando nós ainda a sofrer com o bloqueio dos EUA, tivemos de encontrar soluções para a nossa independência energética. Um dos nossos enfoques foi a mudança do nosso sistema de produção agrícola, seguindo os princípios da permacultura, um sistema de agricultura sustentável. Reduzindo a utilização de máquinas e de fertilizantes químicos (feitos com base em petróleo) reduzimos muito o nosso consumo energético. Também alteramos os nossos hábitos alimentares, de modo a comer menos carne e mais vegetais.

Ao mesmo tempo, investimos muito em medidas de eficiência energética. Por exemplo, o governo distribuiu gratuitamente lâmpadas de baixo consumo por toda a gente. Ao mesmo tempo, a rede de transportes públicos gratuitos foi ampliada e o uso do automóvel privado é algo raro hoje em Cuba. O governo deu o exemplo tornando obrigatório que os seus membros dêem boleia a quem lhes pede nas suas deslocações de automóvel.

Outro importante aspecto é o investimento nas renováveis em pequena escala. O governo instalou painéis solares fotovoltaicos em casas, escolas e hospitais e criou parques eólicos, reduzindo drasticamente a nossa dependência de combustíveis fósseis.
Esta experiência está relatada no filme “O poder da comunidade: como Cuba sobreviveu ao pico do petróleo” (http://www.powerofcommunity.org/), que aconselho todos a ver. 



A revolução agrícola teve também impactos na vossa soberania alimentar.
Sim, antes dos anos 90, a nossa economia dependia muito de importações. Quando perdemos parceiros comerciais, a economia colapsou, o fornecimento de alimentos foi travado e o cubano médio perdeu cerca de 13 kgs. Foram tempos difíceis, que nos forçaram a repensar tudo. Então, começamos a encher as cidades com hortas urbanas, ocupando edifícios abandonados, espaços de estacionamento e jardins públicos. Como não tínhamos fertilizantes ou pesticidas químicos, recuperamos modos de produção tradicionais e inventamos alternativas biológicas. Hoje, as nossas cidades obtém a maioria dos seus alimentos destas hortas.





A revolução agrícola e energética é apresentada como uma iniciativa comunitária. Como foi isso possível num país onde o governo controla apertadamente a economia?
Há muitos mitos em torno de Cuba, um deles é o de que os cubanos não têm qualquer poder sobre o processo de tomada de decisões. O papel do governo foi importante no apoio a este processo de transformação mas fomos nós, com o nosso esforço, a mudar a face do nosso país. Isto seria possível num país capitalista, onde as empresas mandam nos governos?
Encontramos uma solução para os nossos problemas. Não é perfeita, mas é algo que estamos a construir. Só exigimos que nos respeitem e que não nos exijam para mudarmos a forma como vivemos as nossas vidas.





Mas também vemos hortas urbanas a nascer em países capitalistas, não?
Claro, isso só mostra como o conceito de produção local e sustentável pode ser aplicado em todo o lado. Em Nova Iorque, os bairros pobres nos subúrbios eram povoados por criminosos e traficantes de droga. Mas as comunidades latinas fizeram o que puderam para transformar os bairros em locais agradáveis, criando hortas urbanas onde cultivavam a sua comida. A experiência foi tão bem sucedida que o Presidente da Câmara Rudy Giuliani quis entregar a área a imobiliárias mas os residentes revoltaram-se e conseguiram travá-lo.






Como é que Cuba é afectada pelas alterações climáticas e quais são os vossos planos para a adaptação?

Em Cuba já se sentem os efeitos das alterações climáticas. No ano passado, um furacão destruiu grande parte das nossas culturas e tivemos de importar de novo alimentos. Isto foi duro mas nós não desistimos.

Estamos a fazer a nossa parte. Reduzimos o nosso consumo de energia. Aumentamos a nossa área de florestas em 12% (uma área equivalente a El Salvador) e planeamos ter 36% do nosso território coberto com florestas e 35% com áreas protegidas. Já quase não usamos petróleo importado e aprendemos a respeitar a natureza. E fizemos tudo isto sem receber créditos de carbono e sem investir em energia nuclear, só com o poder da comunidade e a aposta nas renováveis. Estamos a construir uma sociedade socialista não só para nós mas também para os nossos netos.
As alterações climáticas vão tornar a nossa vida mais difícil, mas não nos vão derrubar. Já recuperamos muitas vezes de situações difíceis, nós encontramos sempre uma forma de nos levantarmos de novo.
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Fonte: Esquerda.net