Na minha descida ao querido
jardim do século XIX, verde jóia no seco verão alentejano, sofro com a
perspectiva de ter apenas o “correio da manhã” como leitura para acompanhar o
meu “descafé”. Homicídios, violações, crise não combinam com um “Nicola” e um saquinho
de refinado açúcar. E voltar atrás, com este calor…
Mas o meu caminho passa pela
“casa da cultura”, e logo, pela biblioteca municipal. Perfeito, lá encontrarei
a companhia certa para ler.
Chegado à biblioteca, porta
aberta, ar condicionado ligado, mas ninguém para me atender. Devem chegar a
seguir, pensei eu enquanto me dirigia para a secção de literatura inglesa.
Para minha surpresa, autores
norte-americanos, ingleses, bem como germânicos, estavam profundamente
misturados, como uma louca orgia de ecstasy e verão, levando-me a perguntar o
porquê da rotulagem das diferentes
nacionalidades de origem.
Deve ser uma questão de
literatura anglo-saxónica, onde nem a ordem alfabética é respeitada, como se a
pseudo-organização da biblioteca fosse a ruína de um distante passado.
Nisto passaram 20 minutos, eu
sozinho numa abandonada biblioteca… quem é que rouba livros não é verdade?
Ainda se fosse cobre…
Para ajudar toda esta fantástica
situação, encontrei a “Instrução dos Amantes”
de Inês Pedrosa em literatura
germânica. Como nunca li, se calhar até é verdade, literatura germânica escrita
por uma autora portuguesa quiçá.
Alguém entra, e logo sobe umas
escadas laterais à biblioteca, frustrando as minhas expectativas de alguma
atenção e cuidado. Mais de meia hora passou, e a minha paciência esgotou, pelo
que peguei num livro de Annaís Nin, “ Debaixo de uma Redoma”, que nem é das
minhas autoras favoritas, e saí calmamente, passando por funcionários e
cidadãos, a caminho do meu jardim. Depois devolvo claro.
…e antes do café ser servido,
comecei a ver toda a minha recente aventura como uma distópica metáfora.
Portugal, o “meu” país, espelhado
perfeitamente numa biblioteca do interior.
É só tirar e levar.
(e não me refiro ao cobre)