domingo, 2 de outubro de 2011

é só tirar e levar


Na minha descida ao querido jardim do século XIX, verde jóia no seco verão alentejano, sofro com a perspectiva de ter apenas o “correio da manhã” como leitura para acompanhar o meu “descafé”. Homicídios, violações, crise não combinam com um “Nicola” e um saquinho de refinado açúcar. E voltar atrás, com este calor…

Mas o meu caminho passa pela “casa da cultura”, e logo, pela biblioteca municipal. Perfeito, lá encontrarei a companhia certa para ler.

Chegado à biblioteca, porta aberta, ar condicionado ligado, mas ninguém para me atender. Devem chegar a seguir, pensei eu enquanto me dirigia para a secção de literatura inglesa.
Para minha surpresa, autores norte-americanos, ingleses, bem como germânicos, estavam profundamente misturados, como uma louca orgia de ecstasy e verão, levando-me a perguntar o porquê  da rotulagem das diferentes nacionalidades de origem.
Deve ser uma questão de literatura anglo-saxónica, onde nem a ordem alfabética é respeitada, como se a pseudo-organização da biblioteca fosse a ruína de um distante passado.

Nisto passaram 20 minutos, eu sozinho numa abandonada biblioteca… quem é que rouba livros não é verdade? Ainda se fosse cobre…

Para ajudar toda esta fantástica situação, encontrei a “Instrução dos Amantes”  de Inês Pedrosa  em literatura germânica. Como nunca li, se calhar até é verdade, literatura germânica escrita por uma autora portuguesa quiçá.

Alguém entra, e logo sobe umas escadas laterais à biblioteca, frustrando as minhas expectativas de alguma atenção e cuidado. Mais de meia hora passou, e a minha paciência esgotou, pelo que peguei num livro de Annaís Nin, “ Debaixo de uma Redoma”, que nem é das minhas autoras favoritas, e saí calmamente, passando por funcionários e cidadãos, a caminho do meu jardim. Depois devolvo claro.

…e antes do café ser servido, comecei a ver toda a minha recente aventura como uma distópica metáfora.
Portugal, o “meu” país, espelhado perfeitamente numa biblioteca do interior.
É só tirar e levar.
(e não me refiro ao cobre)