Considerações tardias à manifestação que no passado dia 20 de Novembro se iniciou no Marquês e se estendeu ao longo da mais estreita Avenida da Liberdade, que Lisboa de Abril conheceu.
Nunca este país assistiu a uma manifestação tão violentamente apertada pela polícia, que por sinal celebrava uma paz que pelos vistos, tanto assusta os senhores da guerra que entrincheirados no Parque das Nações, revelaram muita mais debilidade que força ou coragem.
Cedo se foi preparando o salão de festas em que se tornou este miserável pais que se propôs acolher a corja de bandidos que mais não fazem que servir obstinada e servilmente, os interesses do grande capital transnacional.
O ingrediente que fecunda, de vazio e apatia, os povos deste mundo, foi desde cedo generosamente servido, o MEDO.
O medo que me escuso de relembrar, mas que serviu de pretexto para sitiar este país.
O ridículo tomou conta das fronteiras, aos gendarmes (só me apetece chamar-lhes assim) mais valia que tivessem vestido as fardas de gala, mais apropriadas à dimensão dos convidados que aterraram em Figo Maduro e mais condizentes com as palhaçadas a que se dispuseram.
O silêncio geral, tão pouco me surpreendeu. Mais uma vez a estratégia resultara. Pergunto-me somente até quando irá valer e até quando continuaremos a seguir acriticamente os conselhos, análises, leituras e propostas que nos são impingidas por uma comunicação social invertebrada.
Chegado ao Marquês, também não me surpreendeu o tom monolítico de uma iniciativa aparentemente unitária. Tom que considero dispensável em contextos em que muito mais haveria a ganhar e muitos mais se poderiam adicionar, se a matriz imposta ao protesto não tivesse que obedecer a uma forma demasiado triste. Triste porque castradora da imaginação e limitadora da diferença que emancipa a liberdade.
E é aqui que a vaca tosse…
Começo a ter dificuldades em reconhecer-me numa esquerda que tem medo da diferença. Que sai à rua cedendo com subserviência a uma negociação imposta pela polícia, que vendendo a alma ao diabo faz com que de tantas voltas se desfaça a mortalha que abraça os corpos frios dos camaradas que em outros tempos, preferiram perder a vida, à liberdade de pensamento.
E que foge para casa antes das 5 da tarde, pois parece conviver mal com o sol posto. Uma esquerda à Sir David Attenbourough que se envergonha de desfilar ao lado da irreverência urbana, mas faz alarde em apoiar os guerrilheiros na selva.
E por isso com raiva contida lhes digo:
À merda para uma esquerda que quer que as manifestações, que são de todos porque são do POVO, sejam só suas e só para se poder mostrar.
À merda com uma esquerda que se contenta em sair à rua de cravo na mão a horas certas, conformando-se com tal possibilidade.
À merda com uma esquerda que não se indigna por ter de se manifestar entre bestas armadas até aos dentes e ainda assim se propõe auxiliá-los em tão cretina tarefa.
À merda com uma esquerda que convida guerrilheiros para a sua festa, mas abandona jovens à sua sorte, sabendo que vão servir de festim a uma matilha de cães raivosos largados em plena baixa de Lisboa.
À merda porque ainda assim continua a ser a minha esquerda, a mais querida de Portugal.
Uma esquerda que pelo valor dos homens e mulheres que a integram, reconheço capaz de rasgar novos caminhos. Uma esquerda generosa que não trocou os princípios pelo poder, que não capitulou perante o anunciado fim da história, uma esquerda que não abandona a luta contra as injustiças e contra as desigualdades e sobretudo, uma esquerda que não desiste do sonho (1).
Por isso repito, à merda com a vossa postura e vejam lá se não será tempo de acordarem.
fogemariafoge
(1) Possuo sérias discordâncias com o autor neste ponto. As acções falam mais alto que as supostas intenções
(1) Possuo sérias discordâncias com o autor neste ponto. As acções falam mais alto que as supostas intenções