sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

A seita

 

A seita

(Hugo Dionísio, in Facebook, 25/01/2023)

Hoje em dia, quem se libertar para fora da esfera “liderada” pelos EUA e acantonada no G7, EU e NATO, e assim romper com o circuito comunicacional, político-ideológico e também cultural, constituído pelo identitarismo individualista anglo-saxónico e judaico-cristão, identificativo do que se designa como “o bilião de ouro”, não pode senão chegar à conclusão de que a elite privilegiada que exerce, de facto, o poder, está cristalizada numa espécie de seita ou sociedade secreta, tão mais hermética quanto maiores são as ameaças externas ao seu domínio. O clube de Nações “livres” a que aludiu Biden na reunião do G7, é um clube seleto, mas fechado e, como em qualquer seita, para entrar é preciso prescindir de algo importante: da liberdade!

Como todas as seitas, a sua existência parte de uma noção de “exclusividade”, associada a uma certa “excecionalidade”, que justifica diferentes tratamentos e entendimentos. Acho que todos podemos concordar, que aquilo que identificamos como ideologia neoliberal se funda, pelo menos primariamente, numa ideia de excecionalismo civilizacional, fundador de uma cultura única, “eleita” para liderar o Mundo e a Humanidade. Nem os mais empedernidos fanboys da NATO podem negar o ideal, herdado das luzes europeias e do supremacismo britânico e hiperbóreo, que posiciona os EUA como líderes “eleitos” da Humanidade. Sem falar de Hollywood, no canal História (que disso tem muito pouco), sucedem-se os programas, documentários e peças sobre a origem divina, excecional, até “extraterrestre” da nação norte americana e da sua vocação civilizadora.

Aliás, é neste excecionalismo racial que radica a origem do individualismo neoliberal por oposição a uma visão mais coletiva e cooperante da Humanidade. É neste excecionalismo que se funda a lógica da competição – diz a teoria que é o melhor quem ganha (meritocracia) – por oposição à lógica que fundou as sociedades humanas e, em última análise, a própria existência do animal que somos – a cooperação, a capacidade de trabalhar coletivamente, o animal social e político.