segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Chico Buarque e Gilberto Gil - Cálice censurado




"Cálice" é uma canção escrita e originalmente interpretada pelos cantores brasileiros Chico Buarque e Gilberto Gil em 1973. Na canção percebe-se um elaborado jogo de palavras para despistar a censura da ditadura militar. A palavra título, por exemplo, é cantada pelo coral que acompanha o cantor de forma a soar como um raivoso "Cale-se!". A canção teve sua execução proibida durante anos no Brasil. Em uma outra versão, gravada no álbum Chico Buarque (1978), Milton Nascimento canta os versos de Gil.

História
"Cálice" foi composta para o show Phono 73, que a gravadora Phonogram (ex-Philips, e depois Polygram) organizou no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, em maio de 1973. O evento reuniria em duplas os maiores nomes de seu elenco, onde deveria ter sido cantada por Gil e Chico. Gil havia composto o refrão "Pai, afasta de mim este cálice / de vinho tinto de sangue", uma óbvia alusão à agonia de Jesus Cristo no Calvário, tendo a ambiguidade (cálice / cale-se) sido imediatamente percebida por Chico. Gil havia composto ainda a primeira estrofe da canção. A partir de dois encontros com Chico, compôs a melodia e as demais estrofes, quatro no total, sendo a primeira e a terceira de Gil e a segunda e a quarta de Chico.

No dia do show, quando os dois começaram a cantar "Cálice" tiveram os microfones desligados. De acordo com Gil, a canção havia sido apresentada à censura e eles foram recomendados a não cantá-la. Os dois haviam decidido, então, cantar apenas a melodia da canção, pontuando-a com a palavra "cálice", mas isto também não foi possível Segundo o relato do Jornal da Tarde, a Phonogram resolveu cortar o som dos microfones, para evitar que a música, mesmo sem a letra, fosse apresentada. Irritado, Chico tentou os microfones mais próximos, que também foram cortados em seguida.

A canção foi eventualmente liberada cinco anos depois, tendo sido lançada em Chico Buarque (1978) ao lado de "Apesar de Você" e "Tanto Mar", outras canções censuradas pelo regime. 

À época, Chico declarou que aquele não era o tipo de canção que estava compondo (estava trabalhando no repertório de Ópera do Malandro), mas que elas deveriam ser registadas, pois a libertação tardia não pagava o prejuízo da proibição. Na gravação, as estrofes de Gil, foram interpretadas por Milton Nascimento, fazendo coro com o MPB4, em dramático arranjo de Magro.