Assim que piso a rua, acontece outra vez.
Uma cotovelada numa Cannon, um empurrão numa Nikon, um rosnar para uma Casio, e um raspanço de barriga numa Sony.
O tempo não podia estar pior.
Uma maré alta de turistas barra o meu caminho para o emprego.
Lisboa na moda, Lisboa no fundo do poço, Lisboa à venda.
Sôfregamente empurro, abro caminho, escavo caminho, perco o meu caminho.
Desesperadamente, subo ancas, barrigas, ombros, cabeças, tento elevar-me acima desse mar de Lazer, duma classe média mundial à qual nunca pertencerei. À qual não tenho autorização de pertencer.
Subo, lutando contra correntes de gente relaxada, ou em processo de relaxamento, procurando sobreviver, trabalhar, pagar o que como, lutar para comer.
E para onde corro eu, através desse turístico oceano que inflama Lisboa?
Para a recepção de um hotel.