terça-feira, 27 de julho de 2010

Ecologia Profunda - Um Novo Renascimento


Fritjof Capra 

Hoje estamos diante de uma série de problemas globais que prejudicam a biosfera e a vida humana de maneiras tão alarmantes que logo podem se tornar irreversíveis. 

Chegamos a esse estágio, face o paradigma que configurou a sociedade ocidental e influenciou o resto do mundo. Esse paradigma, consiste em uma série de ideias e valores entre eles a visão do Universo como um sistema mecânico composto de estruturas elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade com uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado a ser alcançado pelo crescimento económico e tecnológico e por último a crença de que uma sociedade na qual a mulher é em toda a parte subordinada ao homem segue uma lei básica da Natureza. 

Esses valores estão perdendo a força e o novo paradigma que pode ser chamado de visão holística do mundo, vê o mundo como,um todo integrado e não como uma reunião de partes dissociadas. Também pode ser chamado de visão ecológica, se o termo "ecológico" for usado em sentido amplo e profundo. 

Este sentido amplo e profundo do ecológico está associado a uma escola filosófica e a um movimento global radical, conhecido como "Ecologia Profunda". 

O ambientalismo superficial é antropocêntrico. Vê o homem acima ou fora da natureza, como fonte de todo valor, e atribui a natureza um valor apenas instrumental ou de uso. 

A Ecologia Profunda não separa do ambiente natural o ser humano nem qualquer outro ser. Vê o mundo como uma teia de fenómenos essencialmente interrelacionados e interdependentes. Ela reconhece que estamos todos inseridos nos processos cíclicos da natureza, e somos dependentes deles. 

Finalmente a consciência ecológica profunda é espiritual ou religiosa. Uma vez que o conceito de espírito humano é entendido como o modo de consciência no qual o indivíduo sente-se conectado com o cosmos enquanto um todo, torna-se claro que a consciência ecológica é espiritual em sua essência mais profunda. 

Não surpreende portanto, seja coerente com a chamada "Filosofia perene" das tradições espirituais - quer estejamos nos referindo à espiritualidade dos místicos cristãos, dos budistas, ou a filosofia e cosmologia subjacentes às tradições dos nativos americanos. 

Toda a questão de valores é crucial para a ecologia profunda, ela é, de facto, a característica central que a define, ela baseia-se em valores ecocêntricos (isto é, centrados na Terra). É uma visão do Mundo que reconhece o valor inerente da vida não-humana.

Todos os seres são membros de Oikos-Lar Terreno, a comunidade une-se numa rede de interdependências. Quando  essa percepção tornar-se parte da nossa consciência quotidiana, um sistema ético radicalmente novo emergirá. 

Tal ética ecológica é urgente hoje, especialmente na ciência, já que a maior parte do que os cientistas estão fazendo não é no sentido de promover e preservar a vida mas, destrui-la. Com físicos criando sistemas armamentistas que ameaçam varrer a vida do Planeta, químicos contaminando o meio ambiente, biólogos criando novos e desconhecidos microorganismos sem saberem as conseqüências, psicólogos e outros cientistas torturando animais em nome do progresso cientifico. 

Por fim a visão de que os valores são inerentes a toda a Natureza viva está fundada na experiência ecológica profunda, ou espiritual, de que a Natureza e o EU são um só. Essa expansão do EU até chegar à identificação com a Natureza é o fundamento da ecologia profunda conforme reconheceu claramente Arne Naess: "O cuidado ocorre se o EU se expandir e aprofundar-se de maneira que a protecção da Natureza seja sentida e concebida como protecção de nós mesmos."