quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Introducção à Ecologia Social I


“A dominação da natureza pelo homem tem origem na própria dominação do humano sobre o humano.”
A Ecologia da Liberdade, pág. 1, Murray Bookchin.

A ecologia social reclama que a crise ambiental é um resultado da organização hierárquica do poder e da mentalidade autoritária, enraizada nas estruturas da nossa sociedade. A ideologia ocidental da dominação da natureza advém destas relações sociais.
A alternativa é uma sociedade baseada em princípios ecológicos; uma unidade orgânica na diversidade, liberta da hierarquia e baseada no respeito mútuo pelo inter-relacionamento de todos os aspectos da vida. Se mudarmos a sociedade humana, as nossas relações com o resto da natureza também se modificarão.

Princípios chave:
O cerne da ecologia social é que os problemas ecológicos advêm de enraizados problemas sociais. A hierarquia social e as classes sociais legitimam a nossa dominação do ambiente e suportam o sistema consumista;
“As causas profundas dos problemas ambientais são o comércio pelo lucro, a expansão industrial e a identificação do ‘progresso’ com os interesses corporativos.”
O que é a Ecologia Social?, Murray Bookchin.

O dano ecológico praticado pela nossa sociedade é mais do que equivalente ao mal que inflige à própria humanidade. A Ecologia Social acentua que o destino da vida humana segue palmo a palmo com o destino do mundo não-humano.
“Os ecologistas Sociais acreditam que coisas como o racismo, o sexismo, a exploração do terceiro mundo são produtos do mesmo mecanismo que causa a devastação das florestas tropicais.”

Filosofia ambiental: Dos direitos dos animais à Ecologia Radical.
“A ecologia mostra que a natureza nos pode fornecer princípios éticos. Um ecossistema vigoroso maximiza a diversidade e a interacção e minimiza a hierarquia e a dominação. O melhor de tudo é que é arquivado/conjugado/alcançado através de uma ‘individualidade rica e um complexo inter-relacionamento das partes.’”
Renovando a Terra, John Clark, pág. 5

Dr. Marcos Antonio Scholottag, Engenheiro Ambiental, nos esclarece:
Antes de comentar sobre Ecologia Social é preciso esclarecer que a cultura ecológica observa a consciência colectiva da responsabilidade dos seres humanos pela sobrevivência do planeta, das espécies animais e vegetais, percebe-se a necessidade de eliminação da miséria e da pobreza social no mundo, pelas relações que devem permitir vida para todos e um bem-estar dos seres humanos e de todos os seres da natureza. E também, que os sistemas humanos envolvem os seres vivos individuais, as sociedades e os sistemas sociais. Sendo que os sistemas ambientais comportam componentes naturais (biomas), antrópicos (construções) e humanos (sociais).

Então, a Ecologia Social é o estudo dos sistemas humanos em interacção com seus sistemas ambientais, ou seja, é a ciência que pretende estudar as conexões que as sociedades estabelecem entre seus membros e as instituições e de todos eles para com a natureza envolvente.

Assim, fica mais fácil entender suas principais premissas, que são:

1. O ser humano sempre interagiu intensamente com o ambiente. Nem o ser humano nem o ambiente podem ser estudados separadamente. Há aspectos que somente se compreendem a partir desta interacção mútua, particularmente as florestas secundárias, toda a gama de sementes e de frutas que são resultado de milhares de anos de trabalho sobre sua genética.

2. Esta interacção é dinâmica e realiza-se no decorrer do tempo. A história dos seres humanos é inseparável da história de seu ambiente e de como eles interagem. 

3. Cada sistema humano cria o seu adequado ambiente. É diferente e possui simbolizações singulares.

4. A ecologia social interessa-se por saber, afinal, de que forma, através de qual instrumento, e por que critério os seres humanos se apropriam dos recursos naturais? 
Uma distribuição desigual afecta de que maneira os grupos humanos? 
Que tipo de discurso usa o poder para justificar a concentração em poucas mãos, por isso, sua relação de desigualdade que tende à dominação? 
Como reagem os movimentos sociais no confronto com o estado, com o capital, e para melhorar a qualidade de vida no trabalho, na cidade e no campo? 
Além disso, também pertence à discussão da ecologia social, a miséria e a pobreza das populações periféricas, a concentração de terras no campo e na cidade, as técnicas agrícolas e agropecuárias, o crescimento populacional e o processo de inchamento das cidades, o comércio internacional de alimentos e o controle de patentes, a produção do buraco de ozono, o efeito estufa, a dizimação das florestas tropicais e a ameaça à floresta boreal, o envenenamento das águas, dos solos, da atmosfera etc.

“Não é possível, actualmente, considerar os problemas ecológicos como marginais, sem importância e até burgueses. Os dados sobre o aumento da temperatura do planeta devido a crescente taxa de gás carbónico na atmosfera – o conhecido efeito estufa -, o descobrimento de buracos na camada de ozono, fenómeno atribuído ao uso imoderado de clorofluorcarbonetos, que permite a penetração das radiações ultravioletas, a contaminação da água potável, do ar, dos oceanos e alimentos, a extensa eliminação de florestas pelas chuvas ácidas e cortes indiscriminados, a disseminação de material radioactivo ao longo da cadeia alimentar…

Tudo isso proporcionou à ecologia uma importância que jamais teve no passado. A sociedade actual está a destruir o planeta a níveis tais que superam a capacidade de auto-regeneração da Terra. Estamos a aproximar-nos do momento em que o planeta não poderá manter a espécie humana, nem as complexas formas de vida que se desenvolveram através de milhões de anos de evolução orgânica.

Frente a este cenário catastrófico, apresenta-se o risco de querermos eliminar os sintomas em vez das causas, e de que pessoas ecologicamente comprometidas pretendam soluções parciais e não respostas duradouras. O avanço dos movimentos verdes, pôr todo o mundo, confirma a existência de um novo impulso para as pessoas ocuparem-se concretamente do desastre ecológico. Porém, torna-se cada vez mais clara a necessidade de algo mais fundamental do que um impulso. 

Ainda que seja importante deter aglomerações urbanas, uso de substâncias químicas mortíferas na agricultura e industria alimentar, é necessário estar convicto de que as forças que conduzem a sociedade para a aniquilação planetária têm suas raízes numa economia de mercado “vence ou morre”, num modo de produção que deve-se expandir enquanto sistema competitivo. 

O que está em discussão não é simples questão de moralidade, de psicologia ou de voracidade. Num mundo em que cada qual está reduzido ao papel de consumidor ou vendedor, em que toda empresa se deve expandir dentro de um contexto económico de aves de rapina, o crescimento ilimitado é inevitável. Adquire a inexorabilidade de um a lei física que funciona, independente das intenções individuais, das propensões psicológicas, das considerações éticas.

Marcos Antonio Scholottag
Engenheiro Ambiental
marcos@tubolaronline.com.br