O experimento de um suicida
Em 1927, um desempregado de 32 anos, financeiramente quebrado, duas vezes expulso da universidade, pai de uma menina que morreu de paralisia infantil, foi às margens do Lago Michigan, próximo a Chicago. Sua intenção: suicidar-se nas águas do lago. Antes de tirar a vida, ele teve uma ideia: e se, e em vez de se matar, ele passasse o resto da vida fazendo o papel de cobaia em um experimento? O experimento:
“Descobrir o quanto um indivíduo miserável e desconhecido com uma esposa dependente e um filho recém nascido pode fazer em benefício de toda a humanidade?”.
Ele foi mais específico:
“Fazer o mundo funcionar para 100% da humanidade, através de colaboração espontânea, sem dano ecológico e sem prejudicar ninguém”.
O nome desse sujeito era Buckminster Fuller.
Por anos e anos e anos ouvi falar desse sujeito. Ele inspirou os hippies. E inspirou também os sujeitos que criaram o Vale do Silício e a revolução dos computadores. Foi amado por editores de revistas que eu adoro. Foi lido pelos criadores do ambientalismo, e muito dos termos que ele criou (por exemplo, “espaçonave Terra”) ainda ecoam por mercados orgânicos da Califórnia. Era chapa de Albert Einstein. Encantou gerações de arquitetos, de engenheiros, de tecnocratas e recebeu de Harvard um título de “poeta”. Inspirou físicos quânticos. Talvez ele seja um dos teóricos mais influentes do nosso século. Mas ninguém lê mais o que ele escreve. No máximo, lembram dele por ter criado aquela estrutura redonda usada no Epcot Center.
Por Denis Russo Burgierman
Fuller começou a estudar em Harvard mas foi expulso desta universidade. Fez serviço militar na marinha norte-americana durante a 1ª Guerra Mundial. Em 1927, com a idade de 32 anos, na bancarrota e desempregado, vivendo em condições precárias em Chicago, viu a sua jovem filha, Alexandra, morrer de pneumonia durante o Inverno. Sentindo-se culpado, começou a beber e pensou em suicidar-se. Segundo as suas palavras, quando ia consumar o acto, decidiu fazer "uma experiência: descobrir o quanto poderia um único indivíduo contribuir para mudar o mundo e beneficiar toda a humanidade." No meio século que se seguiu, Fuller presenteou o mundo com um largo espectro de ideias, projectos e invenções, que visavam essencialmente a eficiência e o baixo custo de habitações e transportes. Documentou escrupulosamente a sua vida, filosofia e ideias num diário pessoal e em vinte e oito publicações. Foi condecorado nos Estados Unidos por vinte e cinco vezes e agraciado com cinquenta doutoramentos "honoris causa". A 16 de Janeiro de 1970, Fuller recebeu a Medalha de Ouro do American Institute of Architects.
A sua carreira internacional deu um salto com o sucesso das suas enormes cúpulas geodésicas, nos anos 1950. Desenhando, pesquisando, desenvolvendo projectos e escrevendo, ensinou design nas várias partes do mundo.
Richard Buckminster Fuller faleceu em 1 de julho de 1983 aos 87 anos. Deixou 56 anos de pesquisa nas mais diversas áreas totalmente documentada. Com excepção do domo geodésico, que atualmente existem aproximadamente 200.000 espalhados pelo mundo, a maioria das invenções de Fuller ainda não foram produzidas em larga escala.
Considerado mundialmente como um líder carismático do design, da arquitectura e das comunidades "alternativas". Conta-se que ao visitar a sua mulher, que estava em coma num hospital, disse: "Está à minha espera". Em seguida terá fechado os olhos. Duas horas depois estava morto, vítima de ataque cardíaco. A sua mulher morreu 36 horas depois.