sábado, 16 de janeiro de 2010

Quem disse que há aqui uma geração inteira à beira de se perder?



Com a crise económica e financeira, os jovens têm ainda mais dificuldade em entrar no mercado de trabalho. Os que conseguem abrir caminho fazem-no de forma precária. O debate estourou, no site do PÚBLICO, a partir de um rótulo usado pelos ingleses.

Carla tem 25 anos e quer pronunciar-se sobre o epíteto "geração perdida". Quer dizer: "Recuso-me a aceitar que nunca terei um futuro, um emprego, uma casa onde morar." Quer dizer: "Tenho a certeza absoluta de que, na minha área - línguas - nunca encontrarei nada e, por isso, comecei já a virar-me para outras áreas, de que gosto e nas quais poderei ter melhores hipóteses, como informática." Sabe o que é trabalho precário. Não se cala. Não se resigna. E acha que é preciso "mais pessoas a bater o pé", a dizer basta, a lutar por um futuro - melhor. "Abrir um negócio? Emigrar? Investir em outras áreas? Porque não? Força!"


A mensagem foi deixada na página electrónica do PÚBLICO. Carla, de Lisboa, encontrou ali lugar para exprimir a sua posição. Ela e muitas outras pessoas - da geração dela, de gerações anteriores. Mais de 250 comentários, até à hora de fecho desta edição, a propósito do artigo "A geração que está agora com 16-25 anos está perdida?", publicado no domingo nas páginas do jornal. O debate assume tonalidades diversas. Ora mais doído, ora mais acusatório, ora mais irónico, ora mais esperançado.


Gonzalvez, também de Lisboa, fala em geração "perdidíssima". E ironiza: "Muitos vão morrer em catástrofes e em guerras. Muitos vão ficar loucos, doentes mentais. Muitos vão casar-se com pessoas do mesmo sexo."


O rótulo "geração perdida" foi usado no Reino Unido, com base num estudo, encomendado pela organização não governamental Prince"s Trust, que ouviu 2088 britânicos entre os 16 e os 25 anos. Mostra que os jovens britânicos foram tomados pela desesperança: 42 por cento assumem não ter ideia sobre o rumo que a sua vida pode levar; e um em cada dez admite que passa a maior parte do tempo desmotivado e deprimido.


O assunto, também em Portugal, é sério. Basta olhar para os números do Eurostat: em Novembro, o desemprego nos jovens até aos 25 anos estava nos 18,8 por cento, abaixo da média da União Europeia (21,4 por cento). Esta geração demora mais do que as anteriores a entrar no mercado de trabalho. E quando entra, fá-lo através de contratos a termo certo ou de recibos verdes.


Por Ana Cristina Pereira